Estamos encaminhando para um novo AI-5?

por Leonardo Silva

O último domingo (19) marca mais um capítulo na história brasileira. Em meio a pandemia do novo coronavírus, brasileiros evocaram seu senso patriótico e foram as ruas em defesa de um fechamento do congresso, do STF e, principalmente, de uma ação mais contundente do presidente Jair Bolsonaro. Essa ação seria, como se pode notar em faixas dos manifestantes, a efetivação de um ato institucional, nesse caso, o que já é muito falado, o AI-5.

Talvez tenhamos nos precipitado em considerar o presidente Jair Bolsonaro como um ponto fora da curva e/ou como alguém sem capacidade para governar. Em suas palavras, fortes e intercaladas com notáveis tosses e pigarros, evoca não um ato temeroso em si, mas evoca a vontade de uma parcela do povo, que estava presente em busca do que visam de melhor para a população. Ou seja, Bolsonaro não evoca o ato institucional, ele evoca o povo que o elegeu legitimamente nas eleições de 2018. Mas isso não se pode ser visto apenas nesse prisma ameno da situação, perceba que a situação ultrapassa limites da racionalidade popular e pede do povo aquilo que ele em grande parte não pode oferecer, que é ação através do conhecimento.

Compreende-se que vários brasileiros presentes na manifestação de domingo não sabem ao certo o que é de fato um ato institucional, e, não obstante, infere-se isso também aos que são contrários às ações mais recentes do presidente e de seu público mais íntimo. O que se entende disso? Ora, que brevemente iremos lutar e vivenciar algo que nós mesmos não sabemos, mesmo tendo a documentação disponível para leitura do que seria exatamente um ato institucional. Isso implica numa revolução às cegas, e em uma revolução às cegas não se sabe o que se quer e muito menos qual o caminho para seguir.

O ato institucional n°5 de dezembro de 1968 foi um marco para o que chamamos de revolução militar, expandiu os horizontes da ação militar no país, deu mais liberdade para o comando efetivo resultando em acontecimentos drásticos e que feriram a democracia e mancharam a história brasileira.

Hoje, o quadro não é tão diferente, o país mergulhava até então numa busca por uma reforma sociopolítica e econômica encabeçada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas o que se viu realmente foi o mesmo em detrimento com os que foram seus aliados de campanha e vitória, abrindo mão do partido em que ele mesmo deu visibilidade, e se tornando com isso um isolado politicamente. Tende a se dizer hoje que Bolsonaro está politicamente acabado, sem apoio das bases da câmara, gozando apenas de certos pedaços dos ministérios, que subentende-se que se alinham a sua visão de governo, e também de parte da população brasileira, esse último sem dúvida é o que lhe é mais precioso, pois efetiva a sua gana e obsessão pelo povo, pelo contato com o povo que o apoia, não perdendo uma oportunidade de ter esse contato próximo mesmo que isso implique em desobedecer as ordem de seu próprio ministro da saúde e de especialista que trabalham no combate ao coronavírus no Brasil.

Coisa estão claras aos nossos olhos, uma delas é que o presidente Jair Bolsonaro é corajoso e é evidentemente um homem do povo, ele está do lado do povo mesmo correndo os reais riscos para si próprio e o povo da mesma maneira. Isso se alinha a uma evidente vontade popular de mudança política no país, chegando a um ponto de exigirem um ato institucional que cessa o domínio democrático. Pergunta-se se esse pedido é deveras absurdo, cabível devido a todo o entorno político do país ou apenas um blefe de apoiadores do governo.

Fato é que estamos engendrados nessa atualidade propícia ao caos emitente. O envolto sociopolítico se perde nos interesses pessoais, nos interesses dos que querem o poder absoluto para si, tudo isso enquanto temos ainda de enfrentar e combater um vírus tão problemático às sociedades por onde passa.

A pergunta que figurará na política será unificada: Bolsonaro é um louco ou é a solução?