O Brasil pós-crise viral

por Leonardo Silva

O ano de 2020 têm sido para todos uma fase muito difícil de se conviver, onde além de enfrentarmos os riscos comuns da vida como a criminalidade, violência dos mais variados tipos, estresses cotidianos devido ao trabalho e situações familiares, temos agora de enfrentar um inimigo invisível, altamente transmissível e que já acarretou na morte de milhares de pessoas ao redor do mundo: o novo coronavírus, causador da doença Covid-19.

Em meio a esse cenário que nos transparece esperança, todos os joguetes da mídia, trâmites governamentais, discussões institucionalizadas, o país é a maior vítima do vírus, e, não obstante, do mau uso das responsabilidades que se tem nos poderes. Fato é que esse período preconiza as relações de trabalho e de economia no mundo todo, levando a prole econômica dos países a ficarem sem um rumo certo e/ou um horizonte para esperançar uma recuperação.

O Brasil possui em sua história diversos momentos difíceis, isso, somando não apenas períodos ligados a saúde pública, mas atenta-se também para as crises políticas enredadas por figuras e regimes ao longo de nossa formação social. Fazendo um breve retrospecto dos últimos anos, mais ao certo da última década, percebemos a evidência da presença de uma crise que assola o país, nisso destacamos o papel da política como protagonista desse enredo drástico de nuances governamentais. O país entra no século XXI ainda durante os últimos anos do governo F.H.C, e inicia sua derrocada institucional em 2002 com a ascensão de um governo legítimo de liderança esquerdista, que já a pouco tempo depois de seu início já apresentaria sua verdadeira faceta governamental, onde entregavam um lema de defesa dos mais pobres onde na verdade apenas praticaram uma espécie de ilusionismo político com a população brasileira, levando a crer que aqui neste país tudo pode para quem tem o poder, e nada se pode fazer para quem tem fome. O declínio petista acontece, pois não poderia haver outra forma de se construir a história brasileira se não essa; nisso, em 31 de agosto de 2016 a história muda seus rumos, nessa data a presidente Dilma Rousseff tem seu mandato definitivamente cassado após o processo de impeachment instaurado no mês de maio do mesmo ano. A partir disso o país entraria numa fase ainda mais obscura em sua história, Michel Temer, vice de Rousseff, assume a presidência da república com o dever de estabilizar a batalha ideológica que o país vinha sofrendo e também o dever de entregar para o próximo presidente um país não tão quebrado quanto aquele que ele recebeu de sua superior, devendo assim exercer o papel de reformador de ideias e atos que levassem a uma breve estabilização das políticas de segurança pública, educação, economia, etc.

As eleições de 2018 são inegavelmente um marco nessa história política recente. O emergir de uma política direitista era eminente e concisa; liderados pelo então deputado federal pelo Rio de Janeiro, a direita brasileira ganhava corpo e crescia cada vez com os movimentos jovens de políticas liberais e com a forte presença de deputados federais e estaduais insatisfeitos com o andamento recente da política e gestão governamental. Isso acarretou no forte nome de Jair Bolsonaro para a presidência da república, o que se concretizou naquele ano, depois de caminhada eleitoral presidencial conturbada e repleta de polêmicas, como o atentado que o então candidato Jair Bolsonaro sofreu, e meses antes das eleições a prisão do ex-presidente Lula, forte nome para as eleições daquele ano, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela operação Lava Jato e teve sua prisão decretada pelo, à época, Juiz Sergio Moro, o que o impossibilitou de disputar a corrida presidencial.

O primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro foi tímido em matéria de serviço político e efetividade, entende-se melhor que esse primeiro ano tenha servido para o mesmo se adequar àquilo que na verdade é o Brasil. O PIB (Produto Interno Bruto) teve um crescimento abaixo do esperado e dos últimos anos, chegando apenas à porcentagem de 1,1%; mesmo assim, o primeiro ano de governo voltou-se para a afirmação de como seriam as políticas implementadas no decorrer do mandato, vimos uma forte união dos ministérios e uma supervalorização do Ministério da Justiça, liderado pelo antes juiz Sergio Moro, nomeado por Bolsonaro. Dessa forma, obteve-se um bom resultado nas políticas de segurança pública, pois, deve-se pensar nesse processo como algo a longo prazo devido a toda a situação de crise social que o país estava, e ainda está, inserido.

Bolsonaro passa a ser a figura central das mídias sociais e da crítica especializada. Sendo alvo de chacota política, ignorado por parte de seus aliados da época de campanha devido a suas posições críticas e fora da curva e do que se esperava, Bolsonaro encabeça agora uma guerra contra as mídias, contra os supostos conspiradores, e contra a esquerda (batalha antiga). Não bastasse esse quadro, o presidente, agora em meio à crise viral que assola o mundo, parte para um embate contra as organizações de saúde, incluindo a OMS, e contra as indicações de segurança impostas para o povo brasileiro, incitando-os a desobediência e a revolta contra aqueles que impõem o regime de quarentena. Deve-se atentar que as palavras do presidente não exercem a melhor das coerências, porém, ainda assim, carregam em si um forte cunho de zelo para com a segurança econômica e a proteção do destino do povo brasileiro.

Não é simples entendermos que tudo que passamos hoje é drasticamente corroborado por uma mídia que se traveste de informativa, e na verdade apenas está em busca de uma destruição institucional. Ser bombardeado com mais do que a realidade em seus olhos diariamente pode ser diretamente prejudicial para o desenvolvimento psicológico e educacional de um povo. A realidade é fatídica e exacerba quando o assunto é problemático, ativá-la para um nível de desgaste maior que o habitual é genocídio mental, é levar um povo a autodestruição não pela defesa de algo, mas sim por medo de algo. A reflexão gerada deve ser sobre quem seremos ao fim desse ciclo, e também sobre quem somos durante esse momento, ao fim, pensaremos então em quem éramos quando tudo isso começou a acontecer e veremos os resultados notáveis em nossa empatia, em nossa estética corporal e mental, e em nossa defesa política.

O Brasil está sendo gradualmente acometido pela crise, a medida que se passa o tempo vê-se uma piora no quadro emergencial. Adia-se a volta do trabalho informal e em contrapartida é oferecido a esse trabalhador uma ajuda salarial para manter-se em um período tão difícil. Mas, o que se nota, é a vontade do próprio povo de voltar a sua rotina, mesmo ciente dos riscos que isso acarreta, o povo não se exime de sua rotina caótica de trabalho e da busca de seus sonhos, e é nessa posição que se enquadra o presidente Jair Bolsonaro.

Estudos sugerem que a diminuição de casos e efetivação da doença e propagação do vírus aconteça entre os meses de julho e outubro, alguns sugerem que perdure bem mais, devido a não proteção efetiva da população e ao fato de essa população não estar imunizada sugere reincidências da doença em algumas regiões. O quadro que esse período irá inserir a população é bastante preocupante, onde estimasse que a economia brasileira, que já não vinha boa, tenda a entrar em crise grave de gestão e investimento. Até então parceiro forte das políticas econômicas brasileiras, os EUA é um dos países que mais sentem a crise na pele, chegando a mais de 33 mil mortos até o momento e mesmo assim projeta para os próximos dias uma reabertura gradual e cuidadosa de seu mercado econômico, caminho esse que possivelmente será agregado no Brasil, onde já se tem essa ideia em mente pelo presidente Jair Bolsonaro, porém, bastante mal redigida e executada em suas falas incoerentes e incompletas quando se dispõe a vir à público.

O Brasil é a maior economia da América Latina, envolto nas maiores economias mundiais e com um caráter bastante questionado pelos mais à esquerda da população. Devemos perceber o quanto essa crise afetará nosso poderio de comércio, nossas relações sociais, nossa educação e nossa segurança pública. Devemos nos perguntar: quem seremos após a crise viral?

por Leonardo Silva

18/04/2020