Existência (II)

Existimos.

A existência é o bem maior para vida do ser humano. Esta nossa existência está dotada de um valor original, o da consciência de que vivemos. Ter a consciência da própria existência e se saber parte deste universo infinito, é um privilégio indizível. Esse privilégio tão grandioso, de valor original, impôs um compromisso incomum à humanidade: responder por seus atos na construção de objetivos. Nisso, pode-se afirmar que só há bondade e maldade no mundo porque o homem existe. Importa dizer que nós construímos os valores, aquilo que é objeto de preferência ou escolha, referencial de dignidade ou deslustre.

A existência humana ganha complexidade por ser uma realidade efetiva que carrega em si a possibilidade de valores, uma essência que se configura em virtudes (prudência, justiça, fortaleza, temperança) e em maleficências (traição, deslealdade, falsidade, hipocrisia). O dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), percebendo essa dupla face das possibilidades humanas, de bondade e maldade, dramatiza a vida ao afirmar: “Alguns elevam-se pelo pecado, outros caem pela virtude”.

Esta grandeza humana de ente consciente se circunscreve dentro do limite de finitude que enviesou nosso jeito de ser em relação aos demais animais. Estes, na sua existência, o mais importante é a espécie do que o indivíduo, no mundo humano o indivíduo não pode ser sacrificado à espécie. Esse viés de nossa existência, em que o indivíduo não pode ser sacrificado à espécie, estabelece maior responsabilidade ainda à racionalidade que se desenvolve a partir de nossa condição de ser consciente, que dispõe de possibilidade de conhecer. Os desastres históricos de nossas relações sociais apresentam registros fortes de insanidades, dores tais que quebram a luminosidade festiva da sensatez de muitas conquistas.

O fortalecimento da individualidade como áurea de uma sociedade alegre ainda permanece na esperança de ideologias, mas invisível nos gestos concretos que potencializam a eliminação das necessidades básicas mundo a fora, porquanto imensa é a população sem pão, sem esperança e sem reconhecer a grandeza de sua existência, nulificada que está pela ganância que tem impedido o exercício de ações voltadas para o bem-estar geral. Com a força da ganância dentro da sociedade, estranhos fundamentos existenciais ganham corpo: a angústia, como relacionamento do homem com o mundo; a desesperança, como relacionamento do homem consigo mesmo. A existência pode ser bela e pode ser um desastre, nosso compromisso, no entanto, é o de responder por nossos atos na construção de objetivos que engrandeçam o que somos, homens.

Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 13/04/2020
Código do texto: T6915876
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