Egoísmo
O desejo descomposto.
Querer ter sem limites, desejar ser sem critérios, eis as intenções que direcionam a vida para o apego excessivo aos próprios interesses, a desconsiderar, de modo radical, as contribuições e as conquistas de tantos outros sujeitos que, ao vibrar com a vida, dedicaram suas energias em benefício do social.
O desejo descomposto, a irracionalidade egoística, eis as fontes das ambições de domínio, anseios veementes de alcançar determinadas pretensões descabidas, insensatas ações a produzirem sofrimentos, a eliminarem a confiança do esforço conjunto que busca resultados benéficos à convivência social.
O desejo descomposto. Eis aí a alma que desvia do bem, do sensato, por cometer desobediência a princípios históricos que colaboram com a humanidade do homem. O egoísmo é cruel. O egoísmo causa sofrimentos inimagináveis a terceiros. Enquanto isso, o egoísta se vangloria de suas virtudes.
O poder poético de dizer do amor e do desamor ajuda a compreender a força egoística das atitudes, como se pode refletir do conteúdo da composição Dono de teus Olhos, de Humberto Teixeira e interpretação vocal de Gal Costa:
Não te esqueças
Que sou dona dos teus olhos
Faz favor não espiar pra mais ninguém
Esse azul cor de promessa dos teus olhos
Faz qualquer cristão gostar de tu também
Que nosso senhor perdoe os meus ciúmes
Quando penso em cegar os olhos teus
Pra que eu Somente eu Seja o teu guia
Os olhos dos teus olhos A luz dos olhos teus.
Que quer o egoísta? Pensar somente em si, a justificar e a cultivar sua autonomia, seu direito e somente o seu. Estamos ampliando de tal modo o egoísmo que ele estaria se tornando um contrato social? Estamos a reconhecer que o egoísmo é uma prática para sobrevivência de todos?
Se for assim, ser egoísta já é um modo de viver na modernidade e já não é mais um desvio de conduta!