A URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE ARAGUAÍNA – TO: O Setor Santa Helena como estudo de caso

A URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE ARAGUAÍNA – TO: O Setor Santa Helena como estudo de caso

AIRES JOSÉ PEREIRA – UFR – Rondonópolis – Mato Grosso – Brasil - airestga@gmail.com

JANYELLE BEZERRA DIAS – Graudada em Geografia pela UFT – Campus de Araguaína

Resumo: Nosso objetivo neste artigo é estudar algumas questões, tais como, o processo de ocupação no Jardim Santa Helena na cidade de Araguaína - TO, uma vez que o mesmo acontece de forma acelerada e desordenada sem preocupações sociais e com o meio ambiente. Compreender o papel do poder público em relação à infraestrutura urbana e a seletividade das obras onde o mesmo atua a favor de áreas centrais ou nobres da cidade, excluindo assim as áreas tidas como periféricas e de status inferior capitalistamente falando. A realização desta pesquisa esteve diretamente relacionada com as várias e diversificadas atividades desenvolvidas durante o seu percurso enquanto tal. As atividades foram divididas em dois níveis básicos, quais sejam: o nível teórico e o nível empírico. Fizemos levantamento de dados primários e secundários durante todo o trabalho para que o estudo tenha de fato uma relevância científica compatível com sua exigência.

Palavras – chave: Urbanização – Jardim Santa Helena – Araguaína – TO

Abstract: This article aims to study some issues such as the occupation process in the urban sector Jardim Santa Helena in the city of Araguaína - TO, since the same happens in an accelerated and disordered way without social and environmental concerns. It is also addresses the role of public power in relation to urban infrastructure and the selectivity of works where it acts in favor of central or noble areas of the city, thus excluding the areas considered as peripheral and with a capitalist lower status. The realization of this research was directly related to the various and diversified activities developed during its course as such. The activities were divided into two basic levels, namely: the theoretical level and the empirical level. We surveyed primary and secondary data throughout the work so that the study does indeed have a scientific relevance compatible with your requirement.

Keywords: Urbanization; Jardim Santa Helena – Araguaína - TO

1. INTRODUÇÃO

A área de estudo é o Setor Jardim Santa Helena, localizado na região sul da cidade de Araguaína – TO, nas seguintes coordenadas: latitude 7º 12’17’’S e longitude 48º12’36”0 ao leste do Setor Urbano, oeste Setor Tecnorte, ao sul Jardim Santa Mônica e ao norte Avenida Filadélfia. As principais vias de acesso para o setor Jardim Sala Helena são Rua Rio Lontra, do Setor Urbano, Rua Deusarina Aires do Setor Tecnorte e do Setor Santa Mônica, Avenida Perimetral Santa Cruz.

Foi realizado um estudo no setor, visando identificar e analisar a forma de ocupação e compreender as transformações que ocorreram até os dias atuais.

O mundo o qual estamos inseridos é marcado pela globalização que acaba dividindo a sociedade em classes.

Nosso objetivo foi estudar algumas questões, tais como, o processo de ocupação no Jardim Santa Helena, visto que esse processo se dá de forma acelerada e desordenada devido ao rápido crescimento populacional e entender o papel desempenhado pelo setor público em relação à infraestrutura e a seletividade das obras onde o poder público passa a atuar a favor de áreas centrais ou nobres da cidade, excluindo assim as populações tidas como, periféricas.

A pesquisa abordou a questão da especulação imobiliária que exclui os assalariados dos locais mais centrais da cidade em função do elevado valor de seus lotes. Dessa forma eles são “jogados” para os bairros mais distantes ou até mesmo, para ocupações de terrenos clandestinos ou irregulares. Este trabalho procura entender os problemas urbanos e ambientais, estabelecendo a importância na qualidade de vida dos moradores e analisa a exclusão social dos mesmos.

O Setor Jardim Santa Helena é favorecido pela sua posição geográfica, pois se encontra próximo ao centro, entretanto o mesmo é visto como periférico, por isso, a necessidade de entendimento desse processo contraditório de se produzir o espaço.

1. 1. SOBRE A METODOLOGIA DO TRABALHO EM QUESTÃO

Sobre a metodologia aplicada ao estudo, seguindo a ideia de Pereira 2018 que afirma:

A realização desta pesquisa esteve diretamente relacionada com as várias e diversificadas atividades desenvolvidas durante o seu percurso enquanto tal. As atividades foram divididas em dois níveis básicos, quais sejam: o nível teórico e o nível empírico. Fizemos levantamento de dados primários e secundários durante todo o trabalho para que o estudo tenha de fato uma relevância científica compatível com sua exigência. (PEREIRA, 2018a, 87).

A pesquisa científica envolve, teoricamente, desde o arcabouço teórico-metodológico que coaduna com a pesquisa empírica, até a sua análise interpretativa como sendo essencial para que seus dados realmente tenham sentido. Elaborar uma pesquisa científica não é só coletar dados. A busca por dados é importante, mas só isto não basta. Por isto:

A análise bibliográfica foi de grande importância, pois forneceu os fundamentos teóricos para a compreensão e os encaminhamentos dos problemas investigados, quais sejam: a consolidação da sociedade urbana tocantinense e seus problemas territoriais, sociais advindos do processo contraditório da formação espacial dentro dos moldes de produção capitalista periférico. Mesmo porque ninguém pesquisa lugar algum a partir do nada. (PEREIRA, 2018a, 87).

A pesquisa empírica precisa da teoria e a teoria precisa da empiria no processo de construção do conhecimento científico. Senão vejamos:

Como já afirmamos anteriormente, trabalhamos a teoria, mas a mesma sempre referenciada com a pesquisa empírica. Mesmo porque a teoria sozinha não consegue compreender uma dada realidade. Nesse sentido, é necessário que, para além da teoria, se busquem informações acerca do objeto de estudo. Essas informações vieram pela técnica de pesquisa empírica aplicada pelo pesquisador aos sujeitos do processo constitutivo do objeto de estudo em tela. A realidade nunca será apreendida totalmente por qualquer pesquisa científica, no entanto, deve haver certa aproximação da teoria com a prática na produção do conhecimento. (PEREIRA, 2018b, 26).

Agora falaremos sobre o crescimento da população urbana que foi impulsionado pelo pleno desenvolvimento da industrialização, embora essa relação entre os dois processos não ocorreram da mesma forma, nem com a mesma intensidade.

2. O CRESCIMENTO POPULACIONAL E O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

A expansão da urbanização não deve ser tomada apenas pelo elevado número de pessoas que passaram a viver em cidades, mas, sobretudo, porque o desenvolvimento industrial provocou fortes transformações nos moldes da urbanização. O incentivo ao desenvolvimento técnico e científico foi grande nesse período, não por acaso. Era preciso programar melhores técnicas na busca de formas mais rápidas para produção do capital. A partir dessa economia a população começa emigrar do campo para a cidade à procura de trabalho na indústria, com isto acelerou a urbanização nas cidades. Santos ressalva o seguinte:

A urbanização ganha, assim, novo impulso e espaço do homem, tanto nas cidades como no campo, vai tornando-se um espaço cada vez mais instrumentalizado, culturizado, tecnificado e cada vez mais trabalhado, segundo os ditames da ciência. (SANTOS, 1997, p.43)

A cidade sofreu as conseqüências do rápido crescimento urbano, desordem muito grande na paisagem urbana. O estado não fiscalizava a forma como a cidade vinha sendo produzida. As ruas eram muito estreitas, (não é por acaso que temos ruas estreitas e tortuosas em Araguaína, pois, em sua origem, não se pensava, provavelmente, nos automóveis de hoje em dia) principalmente no centro, insuficiente para circulação das pessoas, dos veículos puxados por animais, escoamento dos esgotos a céu aberto, etc. Esses inúmeros problemas urbanos advindos da rápida industrialização incentivaram o comportamento individual e a separação de classe social dentro da cidade: bairros de pobres e bairros de ricos.

O liberalismo como referencial ideológico, a livre concorrência e a iniciativa privada sem interferência do poder público, transformaram especialmente as cidades inglesas do século XIX, em espaços caóticos, por falta de organização do espaço urbano. Essa desordem começou a incomodar até os mais ricos e na década de 1840 houve o fim dos regimes liberais, pondo um fim à tese de não interferência do Estado. Passando o poder público estabelecer regulamentos e execução de obras e a construção do espaço urbano agora são planejados.

A ocupação dos colonizadores no litoral facilitaria tanto para que pudesse receber mantimentos como para exportarem os minérios valiosos e produtos agrícolas. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, a base econômica da maioria das capitais dos estados brasileiros, era fundada na agricultura.

O fenômeno de urbanização tem sido de grande relevância nos últimos dois séculos. Principalmente pela revolução industrial que passa a constituir um dos fatores que mais contribuíram no processo de urbanização. No Brasil este processo aconteceu com intensidade variada em diferentes regiões do país. Na obra de Souza:

As construções urbanas conseqüentes do processo de urbanização refletem-se de formas diferentes nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, nos primeiros elas coexistem com menor relevância do que nos países subdesenvolvidos uma vez que, naqueles países a concentração e os desníveis sócio-econômicos são menos acentuados, o que, sem sombra de dúvida, refletirá em melhores condições na educação, nos transportes na moradia e no saneamento básico. Por outro lado, nos países de Terceiro Mundo há uma desarmonia na distribuição dos meios de produção e da renda entre as classes sociais. (SOUZA, 1988, p.85)

O desenvolvimento no Brasil, somente ocorreu depois do desenvolvimento do transporte: no transporte, comunicação e tecnologia na agricultura e indústria. Ocorrendo assim uma integração do país para área onde antes não se tinha acesso.

Os problemas urbanos são causados em sua maior parte pelo capitalismo que favorece os ricos e exclui de forma penosa o pobre. E estas transformações são refletidas nos aspectos físicos das cidades brasileiras, tanto na infraestrutura e desenvolvimento científico, os principais problemas enfrentados nas cidades brasileiras são: educação, saúde, fome, pobreza e a violência que é desencadeada por todos esses problemas.

(...) Nas cidades não á dualidade: há desigualdade, não se pode falar da presença de seres marginais, mas sim de oprimidos, explorados e excluídos do acesso aos benefícios produzidos pela modernização. As desigualdades sociais e econômicas são frutos da modernização tecnológica e, sobretudo, são crescentes e mantidas por ela. (SANTOS, 2001, p.43).

Por esses inúmeros motivos, Souza coloca o problema urbano e a urbanização como tema central de preocupação da sociedade nos partidos políticos, nos sindicatos nas universidades, nas associações de todo gênero, pois a colocação correta da questão urbana poderá evitar que os problemas urbanos não coloquem em questão toda a sociedade. Outra característica da urbanização ocorreu no século XX que é a metropolização.

O processo de urbanização do estado do Tocantins ocorreu em virtude primeiro da mineração de ouro, e posteriormente da pecuária que continua a ser a atividade de maior importância econômica do estado com a pecuária da região conhecida como a Capital do Boi-gordo.

Segundo Parente (1999, p.58) “O pensamento ocorreu à medida que surgiam novos achados, acompanhava o outro em direção ao norte, originando vários arraiás, verdadeiros ilhas, cada vez mais isoladas uma das outras”.

Levando em conta o vasto território de Goiás, uniu-se a necessidade de dividi-se em duas comarcas a do Sul e a do Norte que mais tarde se tornariam independentes.

A principal liderança na luta pela criação do estado foi o desembargador Teotônio Segurado.

O processo de mudança na organização espacial do Tocantins aprofundou-se no século XX, principalmente na década de 1960, com a construção da BR 153, alterando todas as relações que estavam construídas na sua base sócio-econômica ao incorporar a economia de mercado, baseada na pecuária extensiva. (LOPES, 2006, p.109)

Antes da Comarca do Norte ter se tornado independente o que ocorria era um verdadeiro descaso das autoridades apesar de ser um território rico ou de grande potencial, era esquecido com relação à infraestrutura econômica e social, miséria, doença, educação. Apesar desses problemas enfrentados pelos nortistas, a rodovia Belém-Brasília contribui para que áreas antes inabitadas fossem assim ocupadas, passando a formar a rede urbana do Tocantins.

Tentando atender as necessidades foi criado o Estado do Tocantins em 1988. e no ano seguinte o primeiro Governador José Wilson Siqueira Campos tomou posse na capital provisória, na cidade de Miracema do Tocantins.

Já a capital definitiva do Estado foi instalada em Palmas em 1990 a mais nova capital do Brasil, que sua população é composta de pessoas de várias partes do Brasil, vale ressaltar que os primeiros habitantes do Estado foram os índios, como de resto, em todo país, como bem já sabemos.

2. 1. URBANIZAÇÃO EM ARAGUAÍNA

O município de Araguaína foi criado em 14 de novembro de 1958, pois antes pertenceu primeiramente ao município de: Araguatins, Tocantinópolis. Gaspar diz:

Até o início da década de 40 o povoado adotou vários nomes, como região do Rio Lontra, isto é, uma área propiciar a cultura agrícola à margem direita do rio lontra, afluente do Rio Araguaia. Consta que o desbravamento da região aconteceu em 1976, com a chegada de uma família procedente de Paranaguá, estado do Piauí estabeleceu a margem do mencionado rio, e logo em seguida, vieram outras famílias (...) (GASPAR, 2006, p.108).

O crescimento populacional em Araguaína se deu principalmente por causa da rodovia Belém – Brasília, tendo assim um desenvolvimento rápido tornando-se uma das maiores cidades do Estado de Goiás.

Mesmo com a criação do Tocantins em 1989, Araguaína tornou-se a maior cidade do Estado não perdendo assim sua posição, e atualmente e a principal força econômica do Estado, em virtude da pecuária que a atividade de maior importância econômica. A mercadoria esta transporta na sua essência fração da vida de quem nela trabalhou, enquanto a coisa capital não incorpora nada, a mercadoria retira a humanidade do trabalhador, do capitalista não. No final do circuito quando se inicia o processo de consumo, a metamorfose se dá para trabalhador, não para o capitalista. O capitalismo em nenhum momento perde a essência humana, a coisificação que o sistema lhe atribui é falsa. É a farsa através da qual se esconde a exploração econômica.

2. 2. ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E SUA NATUREZA CONTRADITÓRIA

A organização espacial é um reflexo social, aonde o homem ao longo do tempo vem transformando, criando formas espaciais diversas sobre a superfície da Terra. Conforme Corrêa, a organização espacial, ao ser um reflexo, passa a ser simultaneamente uma condição para o futuro da sociedade, isto é, a reprodução social. Este papel assume enorme importância devido à crescente acumulação de formas espaciais que o capitalismo contemporâneo cria, exemplificando com a progressiva urbanização da humanidade.

Essa organização espacial se dá para que o homem possa atender suas necessidades em termos de fome, sede e frio, tendo assim, uma intervenção da natureza.

Nota-se que o capital é agente da organização do espaço, passando a excluir os de classes baixas.

(...) Nas cidades não há dualidades, há desigualdade. Não se pode falar da presença de seres marginais, mas de oprimidos, explorados e excluídos do acesso aos benefícios produzidos pela modernização. As desigualdades sociais e econômicas são frutos da modernização tecnológica e, sobre tudo, são crescentes e mantidos por ela. (CARLOS, 2001, p.43).

O capital organiza o espaço, para atender os seus desejos, afastando os pobres para lugares onde não podem se quer contar com o apoio do poder público, no que diz respeito à infraestrutura. Percebendo de forma nítida as desigualdades.

Para atender a contradição da produção do espaço é importante analisarmos o que é espaço. Neste sentido Silva, (2001) comenta, o espaço é um lugar, uma porção da face da terra identificada por um nome com características próprias edafológicas, geomorfológicas, climatológicas, etc. É um lugar que reúne uma série de atributos, os quais constituem fatores para o estabelecimento humano. A partir daí considera-se o povoamento, a forma de vida da população, suas atividades produtivas, seus relacionamentos sociais, etc. É como se cada lugar da superfície da Terra, dentro de sua individualidade, tivesse uma vocação, atraísse pessoas e a partir daí se construíssem as edificações humanas de acordo com a vontade de cada um.

O homem é negado na sua essência humana para servir ao sistema em dois pólos opostos: de um lado o homem trabalhador, coisa, força de trabalho; do outro o homem capitalista, coisificado em capital para se relacionar com o primeiro sem nenhum sentido de desigualdade; coisa ao lado de coisa, ambas iguais, participando de um processo que vai redundar em uma terceira coisa, a mercadoria. Esta transporta sua essência fração da vida de quem nela trabalhou, enquanto a coisa capital não incorpora nada. A mercadoria retira a humanidade do trabalhador, do capitalista não. No final do circuito quando se inicia o processo de consumo, a metamorfose se dá para o trabalhador, não para o capitalista.

Nota-se a relação contraditória do trabalhador com o espaço, porque vende a sua força de trabalho para construir edifícios, palacetes casas de alto luxo os mais variados tipos de veículos e num entanto, o próprio não tem direito a usufruir o trabalho de suas próprias mãos, e tudo isso, muitas vezes não é produzido no lugar em que ele vive, e sim em totalidades espaciais diferentes.

Existe a relação contraditória do trabalhador com o sistema, porque ora ele é força de trabalho para produzir, ora é gente para consumir, não significa que estejamos nos referindo a produção e consumo realizado pela mesma pessoa; pois o consumo dos trabalhadores é muito inferior a sua participação, na produção a maior parte do que eles produzem não consomem. Silva ressalta:

(...) A força consumidora de espaço capitalista é a classe média... Com isso queremos reafirmar que o produto que sai de um circuito produtivo em uma totalidade do espaço pode se tornar mercadoria em outro, for realizado, enquanto valor, em outra e daí chegarem ao consumidor que não tem nada a ver com o produtor direto. Cada momento do espaço é caracterizado pelo entrelaçamento de relações sociais de troca desigual, dos conflitos que estas encerram, de situações diferenciadas da rotação do capital e da contradição entre relações humanas coisificadas e das relações “humanizadas” entre casas. (SILVA, 2001, p. 30).

Por esta razão qualquer que seja o espaço geográfico contém alienação. Alienação ideológica que nos induz ao pensar como dominantes, mesmo sendo dominado capistalistamente e sócio-espacialmente. Toda construção tem em si ideias antes de sua concepção enquanto tal.

2. 3. UMA PEQUENA DISCUSSÃO SOBRE CIDADE E O ESPAÇO URBANO

A cidade é um espaço geográfico, é um conjunto de objetos de ações, a cidade é o concreto, o conjunto de redes, enfim a materialidade visível do urbano enquanto que este é o abstrato, porém o que dá sentido e natureza à cidade.

Rolnik ver a cidade com um ímã, antes mesmo de se tornar local permanente de trabalho e moradia. Assim foram os primeiros embriões de cidade de que temos notícia, as zigurates, templos que apareceram nas planícies da Mesopotâmia em torno do terceiro milênio antes da era cristã.

A construção do local cerimonial correspondente uma transformação na maneira de os homens ocuparem o espaço. Plantar o alimento, ao invés de coletá-lo ou caçá-lo, implica definir o espaço vital de forma mais permanente. A garantia de domínio sobre este espaço está na apropriação material e ritual do território.

Viver na cidade implica viver de forma coletiva, pois na cidade nunca se está só, mesmo que o outro ser humano esteja na casa ao lado, ou num veículo, é um fragmento de um conjunto, parte de um coletivo.

Hoje, este conjunto se define como massa, aglomeração densa de indivíduos cujos movimentos e percursos são permanentes dirigidos. Isto é, bem claro, por exemplo, no movimento dos terminais de transporte, em horas de pico, ou na saída de um jogo de futebol. (ROLNIK, 2004, p.19).

Esta regulação de fluxo está presente o temo todo no cotidiano das cidades: semáforo e a faixa de pedestres as entradas de serviço social nas portarias dos edifícios, os impostos urbanos. São regulamentos e organizações que estabelecem certa ordem na cidade. Mesmo uma cidade pequena podemos dizer que vive de maneira coletiva nessa, cidade há pelo menos uma calçada ou praça que todos irão utilizar, na cidade sempre há uma dimensão pública de vida coletiva a ser organizada. Habitar na cidade significa participar de alguma forma da vida pública, mesmo que em muitos casos a participação seja apenas a submissão a regras e regulamentos.

Para entendermos o espaço urbano é preciso levar em conta como ocorreu a evolução global da população mundial que conforme Santos (1997) só pode ser entendida se considerarmos ao menos três dados essenciais. Primeiro, a distribuição da população entre as diversas áreas do globo e dentro da cada país evolui de maneira desigual. Depois como isso não é apenas o resultado do excesso de nascimento sobre o de mortes, temos de levar em conta as migrações internas e internacionais, cada vez mais freqüente, ocupadas pelo homem vão desigualmente mudando de natureza e de composição exigindo uma nova definição.

O espaço urbano é uma forma de reorganização das funções entre as diferentes frações do território. Cada ponto do espaço torna-se então importante, efetivamente ou potencialmente. Essa importância vai ocorrer de suas próprias virtudes, naturais ou sociais, preexistentes ou adquiridas segundo intervenção seletivas. Como a produção se mundializa as possibilidades de cada lugar se afirmam e se diferenciam em nível mundial.

A questão do espaço habitado pode ser abordada segundo um ponto de vista biológico pelo reconhecimento da adaptabilidade do homem, como indivíduo, às mais diversas altitudes e latitudes, os climas mais diversos às condições naturais mais extremas. Uma outra abordagem é a que vê o ser humano não mais como indivíduo isolado, mas como um ser social por excelência. Podemos assim acompanhar a maneira como a raça humana se expande e se distribui, acarretando sucessivas mudanças demográficas e sociais em cada continente (mas também em cada país, em cada região e em cada lugar). O fenômeno humano é dinâmico é uma das formas de revelação desse dinamismo está, exatamente, na transformação do espaço habitada. (SANTOS, 1997, p. 37).

Entendemos assim que o espaço urbano é a forma que o homem reorganiza a sua maneira o território.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: Uma reflexão sobre a especulação imobiliária e sua inserção no Setor Jardim Santa Helena em Araguaína – TO

A especulação imobiliária é mais um meio usado pelos capitalistas como forma de ganhos e muita lucratividade. Sabe-se que toda a sociedade necessita ocupar o espaço geográfico urbano e por este motivo os proprietários de terrenos passam a elevar o preço de tais, principalmente dos terrenos com uma posição geográfica favorecida, talvez próxima ao centro, ou ainda, bairros que sejam bem assistidos pelo poder público. Santos (2001) ressalta que: “A apropriação do solo urbano como mercadoria e propriedade favorece apenas o acesso às classes mais favorecidas e expropria os manos favorecidos”.

A especulação imobiliária é praticada de várias formas a mais comum, é aquela que o proprietário de terras possui uma grande área de terras ociosas afastadas do centro. Passam assim através de toda uma propaganda a convencer a sociedade a comprar tais lotes apesar de não ter nenhuma infraestrutura.

Santos (2001) fala sobre a violência da informação onde ele coloca que o que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Fala-se de dois rostos da informação, ela busca instruir, e outro, pelo qual ela busca convencer. Nota-se que a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade tornou-se o nervo do comércio.

Se valendo de todo esse jogo de marketing os proprietários de imobiliárias passam a convencer os trabalhadores a adquirir tais terrenos com discursos tais como “quem compra terra nunca erra”, mesmo que tais terrenos não possuam nenhuma infraestrutura.

Quando tais terrenos passam a ser vendidos e os donos começam a construir e a cabra do poder público benefício, ocorre assim um aumento elevado dos demais terrenos, pois através de reivindicações da classe trabalhadora, os proprietários de tais lotes podem acrescentar a infraestrutura no seu jogo de marketing.

No Setor Jardim Santa Helena pode observar a especulação imobiliária que elevou em muito, o preço dos terrenos e as consequências tem sido um grande número de lotes baldios, que no inverno os matos ficam muito altos, sem contar o lixo e o risco de doenças, tais como: a dengue que infelizmente tornou-se uma epidemia em nosso país. E no verão a falta de conscientização da população faz que as queimadas aconteçam de forma regular.

O que se necessita é de uma legislação mais rigorosa do poder público, desta forma possivelmente o preço do imóvel urbano tenderá a diminuir e, consequentemente ser acessível à população de baixa renda.

O Setor Jardim Santa Helena conta com uma ocupação irregular. Em função disso, a senhora Maria das Dores que reside nessa área, fala de sua preocupação, em relação a esta irregularidade. “(...) Fico angustiada com nossa situação se viemos pra cá é porque não tínhamos onde morar e se nos tirassem daqui para onde iremos infelizmente à política é só promessa”.

O senhor Dias que também reside nessa ocupação irregular e trabalha na própria área como comerciante também demonstra preocupação diz: “(...) estamos aqui desde 1999 e nunca fizeram nem a medição dos terrenos, todo ano de campanha política vem à promessa”.

Este loteamento é representado por 232 lotes, à proprietária é a senhora Anita, deste loteamento a metade é da Quadra 01 foi ocupada de forma irregular. Segundo o advogado Juliano a Dona Anita procurou a imobiliária Canela Imóvel para que eles tentassem negociar com os moradores daquela área. Ele diz

Fizemos exatamente isso, notificamos os moradores da Quadra 01 para comparecerem na imobiliária, para eles negociarem, para regularizar a situação das escrituras. Então nós tivemos uma reunião e parte deles concordou em pagar a área que eles ocuparam como lá são muitas famílias, em um lote de 360 metros quadrados, 12 por 30, não dá uma área exata porque eles fizeram duas, três, casas no mesmo lote.

Então nós resolvemos vender para eles o metro quadrado, ou seja, cada família pagaria apenas o que estivesse ocupando. Os moradores ficaram de fazer uma reunião e nos procurar só que já se passaram meses e não voltaram.

Estamos aguardando uma decisão judicial para tomarmos providências.

Infelizmente, os que mais necessitam pouca oportunidade têm as famílias que vivem pagando aluguel ou moram de favor, não tem a oportunidade de ganhar casas populares, ou fazer parte de uma ocupação de determinado terreno onde não teriam que pagar. Digo isso porque nas entrevistas realizadas no decorrer da pesquisa observei que poucos são os moradores que invadiram e permaneceu a grande maioria venderam.

Os que permanecem são os que realmente precisariam de casas para morar. O motivo de tantas famílias sem casa é falta de seriedade com o problema tanto dos que tomam a frente nos movimentos como dos governantes. Seria necessário um estudo sobre a vida de cada família para não dar a que não precisa. Evitando assim a especulação imobiliária e a exclusão.

A cidade é composta por diferentes grupos sociais, que transformam o espaço para atender às suas necessidades. O Setor Jardim Santa Helena pode perceber as diferentes classes que neles habitam até mesmo pelas casas.

A segregação seleciona os espaços e o próprio Estado pratica essa ação por afastar a população carente pra lugares que além da distância não possui nenhuma infraestrutura. Segundo Corrêa (2003), pode-se falar em auto-segregação e segregação imposta.

A auto-segregação é formada pela classe dominante que possui status financeiro, para comprar terrenos nas melhores áreas, e construir residências grandiosas, com muros altos (...).

A segregação imposta é a dos grupos sociais, onde as opções de morar são as mínimas possíveis, e em muitos casos não existem de fato. Pode ser composta pela classe operária, pelos sem tetos que moram nas ruas, ou embaixo das pontes, e pelo exército industrial de reserva.

A segregação assim redimensionada aparece com um duplo papel, o der ser um meio de manutenção dos privilégios por parte da classe dominante e o de um meio de controle social por esta mesma classe sobre outros grupos sociais, especialmente a classe operária e o exército industrial de reserva (CORRÊA, 2003. p.64).

O Setor Jardim Santa Helena possui classes dominantes que são alguns pequenos empresários, professores universitários que estão construindo suas mansões, e pessoas que se enquadram na segregação imposta. Ou seja, é um espaço de natureza contraditória pela sua própria construção. Há pessoas com estatus social bem mais elevado que outras. Isto reflete em sua paisagem urbana.

3. 1. UM POUCO DO HISTÓRICO DO SETOR JARDIM SANTA HELENA DE ACORDO COM O DEPOIMENTO DE SEUS MORADORES

O Setor Jardim Santa Helena é um setor que já por alguns anos é habitado. No início era um setor habitado pela classe baixa e hoje poucos são os que ainda permanecem desde o começo. A área que compreende o Setor Jardim Santa Helena fazia parte de terrenos na imobiliária Paranaguá.

Há trinta anos, a imobiliária fez doação para a prefeitura de Araguaína de parte de um terreno destinado à construção de colégios, creches ou qualquer obra social. Porém, parte desse terreno doado foi invadida e dessa forma, se vê a falta de planejamento e intervenção do Estado na organização territorial do lugar.

E essas ocupações indevidas como diz CORRÊA, a ocupação de terrenos indevidamente tanto público como privado, ocorrem devido à exclusão social encontrada dentro das cidades. Essas pessoas excluídas procuram produzir dentro da cidade seu próprio espaço.

É na produção favela, em terrenos públicos ou privados invadidos, que os grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casso independentemente e a despeito dos outros agentes. A produção deste espaço é, ao mesmo tempo, uma estratégia de sobrevivência. Resistência de renovação, que lutam pelo direito à cidade. (CORRÊA, 1989, p.36).

Nas partes da ocupação indevida podemos observar que casas de tábuas estão sendo substituídas. A irregularidade desses preocupa os moradores que já estão nessa área há oito anos, parte desses terrenos invadidos pertencem à senhora Anita, que colocou sobre a responsabilidade da imobiliária Canela Imóvel, que por sua vez colocou na justiça. Visto que os moradores possuem somente sessões de direitos, eles têm uma ordem judicial de desapropriação, já que a proprietária através dos meios legais pediu a reintegração de posso, eles temem serem prejudicados por perderem suas casas. O Senhor José, por sua vez diz:

Sabemos que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, já pensou eu perder a única coisa que consegui até hoje, minha casa e os investimentos que fiz para dar uma moradia digna a meus familiares.

Assim como o senhor José, muitos temem perderem suas casas. Temem mais nada, fazem, pois de acordo com o presidente da Câmara Municipal de Vereadores, nunca foi recebido um representante do Jardim Santa Helena para cobrar do poder público uma ação. O Vereador Elenil da Penha nos diz que:

Existe uma bela propaganda que diz: quem é visto é lembrado, e eu gostaria de vê-los até pra que agente possa fazer essa discussão de forma mais ampla com a participação da Câmara e de moradores do Jardim Santa Helena.

O que se observa é a falta de compromisso dos próprios moradores que culpam a presidente do bairro e da própria que culpa os moradores. A senhora Maria José, presidente de bairro diz indignada: “(...) não vou levantar uma palha, porque já fiz várias reuniões e ninguém comparece (...)”. Já a senhora Maria de Fátima que reside no setor há sete anos diz: “(...) O que falta pro Jardim Santa Helena é um presidente atuante que corra atrás dos benefícios para o nosso setor (...)”.

O poder público não cumpre suas obrigações de fornecer infraestrutura adequada aos moradores e nem sequer é cobrado. O resultado que observamos é que o setor está completamente esquecido. O setor fica próximo ao núcleo central da cidade, mas o consideramos periférico porque a situação no setor é uma calamidade pública.

3. 2. AS RELAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO OCUPADO NO SETOR JARIM SANTA HELENA

No Setor Jardim Santa Helena assim como no próprio estado, em se tratando de um estado novo no que diz respeito a sua emancipação política adminsitrativa pode-se observar que muitos dos moradores são oriundos de outros estados da região norte e nordeste, como Ceará, Piauí e Maranhão, muitos deles saíram do campo para a cidade em busca de melhores condições financeiras, ou vieram de pequenas cidades, dos estados acima citados. Tem aqueles que residiam em outros bairros da cidade pagando alto custo de aluguel e segundo alguns dos entrevistados lutaram para poder adquirir um desses lotes para resolver seus problemas de falta de moradia.

Interessante que num mesmo setor podemos perceber as diferenças entre classes sociais, os que compraram seus lotes e os que invadiram. As chamadas favelas ou periferias são onde está a concentração da pobreza nas cidades. São locais pobres de infraestrutura e precariedade.

As habitações mais pobres localizam-se abertamente nos terrenos mais baratos, junto as áreas com insuficiência ou ausência de infra-estrutura, junto às indústrias, nas áreas alagadiças, ou mesmo nos morros. As favelas localizam-se nas áreas onde a propriedade privada da terra em princípio não exerce seu poder, isto é terras da prefeitura ou áreas em litígio. Nessas áreas, a infra-estrutura é muito precária ou inexistente, sua cor é diferente das áreas “ricas”, estas são verdes, não há crianças descalças jogando bola nas ruas, as casas não são pequenas, mas esguias até, nem estão amontoadas umas sobre as outras. Toda grande cidade tem um ou muito mais bairros onde se concentra a classe operária em geral num terreno à parte, oculto aos olhos dos mais felizes, as ruas habitualmente não são nem planas, nem pavimentadas, e estão sujas, cheias de objetos. (CARLOS, 1994, p.53)

O Setor Jardim Santa Helena é um bairro habitado por pessoas de baixa renda e classe média podendo observar as normas do capitalismo influenciando as duas classes como sendo os que obedecem e os que mandam. A população que vive no setor encontra-se desprovida dos benefícios de uma infraestrutura.

3. 3. INFRAESTRUTURA NO SETOR JARDIM SANTA HELENA NA FALA DE SEUS MORADORES

Nas entrevistas realizadas com os moradores podemos perceber o sentimento de insatisfação das pessoas. O senhor Wesley nos relata:

Perdi as contas de quantas vezes fui até a secretaria de obras pra mendigar um serviço senão a chuva derrubaria minha casa, fizeram essa vala de concreto que segundo o secretário seria temporário e já está aí por dois anos.

Essas valas de concretos foram abertas para amenizar a situação, porque em épocas chuvosas era impossível transitar na rua, devido à grande quantidade de água. A presidente da Associação de Moradores diz ter procurado o Secretário de Obras e ter dito a ele: “(...) Vocês só vão arrumar aquela rua no dia que uma enxurrada matar essas crianças que ficam brincando aí (...)”.

Essas crianças moram na invasão, cuida dos irmãos mais novos para os pais irem trabalhar, ficam na maior parte do tempo sem supervisão de adultos sendo possível ocorrerem tal acidente por imprudência do poder público.

A desigualdade entre rico e o pobre e entre este último é a miséria absoluta daqueles que moram embaixo das pontes ou nos bancos das praças. A disparidade se expressa nas construções, na existência e/ou qualidade da infra-estrutura, na roupa e rosto, na rudez ou suavidade de traço. (CARLOS, 1994, p.52)

As desigualdades sociais podem ser observadas em todo mundo, mas principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, e isto ficam evidentes no Setor Jardim Santa Helena, onde observamos que alguns pais apesar de trabalharem fora, têm condições financeiras de pagar uma secretária para supervisionar as crianças e enquanto outras como citado, ficam com os irmãos mais velhos.

No setor muitas casas são construídas sob a forma de autoconstrução, com a ajuda de parentes, amigos e vizinhos, em muitos casos faz-se um pequeno barraco no fundo, enquanto aos poucos se constrói a casa. A senhora Socorro por sua vez nos diz que:

Morei cinco anos nesse barraco de tábua, e só esse ano que consegui um empréstimo pra levantar minha casa, falta muita coisa ainda (...) foi construída com a ajuda do meu esposo e sobrinho, paguei apenas um pedreiro.

Nesse sentido Carlos vem nos confirmar a fala da senhora Maria do Socorro ao ressaltar que:

A observação da paisagem expressa o fato de que o espaço se produz desigualmente... Nas cores: que vão da predominância do verde nos bairros arborizados, onde reside a população de alto poder aquisitivo, ao vermelho das ruas sem asfalto, misturadas a cor dos tijolos das casas inacabadas feitas sob o sistema de autoconstrução passando pelo cinza do concreto. (CARLOS, 1992, p.43)

A autoconstrução é praticada em todos os bairros periféricos, isso graças a deficiência da política habitacional do Brasil que precisa ser encarada de forma séria. A senhora Maria dos Santos diz: “Comprei o meu lote, mas não tinha condições de construir, diante da minha dificuldade os irmãos da minha religião vinham aos finais de semana e fizeram essa casa”.

Apesar de o setor ser habitado por classes distintas a insatisfação é geral. As pessoas estão com esse sentimento devido à falta de infraestrutura, os moradores deixam claro na sua fala. A senhora Maria de Fátima fala das dificuldades: “Aqui é um sofrimento quando não é lama, é poeira, apesar de gostar do setor, acho que tem várias áreas a melhorar”.

Todos os moradores entrevistados consideram o setor tranqüilo e se tivessem a oportunidade de mudar, não o fariam porque acham o setor ótimo. Apesar de alguns problemas enfrentados como falta de transporte público. A senhora Maria Deusa diz:

(...) antes o coletivo passava aqui no setor, mas foi poucos meses depois parou, foi informado que não estava compensando porque além das ruas ruins no Setor Tecnorte não entrava nenhum passageiro (...).

Dessa forma a população que precisa, é prejudicada. O Tecnorte é um setor vizinho considerado um bairro nobre, onde os moradores têm o seu meio de transporte. Já Setor Jardim Santa Helena, muitos moradores necessitam do transporte público, tendo que se deslocar até o ponto final, próximo da feirinha na Avenida Filadélfia, para poder assim pegar o transporte público.

A acadêmica Tereza Vulcão diz: “(...) o pior não é ter que andar até o ponto final, e sim ter que ir dentro da lama nos dias chuvosos, mas pobre sofre ou é no sol muito quente ou é na lama (...)”. O principal problema visto pelos moradores é a falta de pavimentação nas ruas onde atrapalha a coleta de lixo, o transporte público, e tira a paz dos moradores. A senhora Eurivan que reside na Rua Deusarina Aires, relata:

(...) Todos os dias me pergunto cadê o poder público, que nada fez nesse setor, quando tem festa na Avenida Filadélfia, eles interditam, e todos os carros passam aqui nessa rua, meus filhos ficam doente de tanta poeira (...)

O poder legislativo através do presidente da Câmara diz:

(...) Olha, no geral nós aprovamos um orçamento no ano passado na ordem de cento e quarenta e três milhões para junto desse orçamento o executivo priorizar em Araguaína os lugares com maior dificuldade e infelizmente até o presente momento podemos observar que o Setor Jardim Santa Helena não foi visto como prioridade, o que o legislativo comenta.

As lamentações podem existir, mas os moradores continuam à mercê de suas necessidades. O que está faltando é uma visão administrativa com planejamento. Entre tantas dificuldades, o lixo incomoda a população e profissionais. A senhora Elizângela diz:

(...) A população deveria ter mais consciência de não jogar lixo do outro lado (no muro do Segundo Batalhão que fica em frente das casas da Quadra. 01 na Rua Deusarina Aires, mas os vizinhos jogam além de doenças o ambiente fica frio com aspecto sujo e desagradável (...).

O maior problema é a própria população, a coleta de lixo é feita três vezes na semana, apesar de ruas como a Travessa Dois e a Sete não passar carro, os moradores tem que andar no máximo uns cem metros para colocar num local onde a coleta possa ser realizada. Os moradores não o fazem, jogam o lixo próximo ao muro do cemitério no dia conveniente a cada morador, resultando assim num acumulo de lixo. O morador Dias diz:

(...) fui lá à Secretaria de Obras e pedi pra colocar um contêiner, os moradores só chegavam ao final da Travessa Sete e jogavam o lixo, que na maioria das vezes caía ao redor, quando eles vinham recorrer o lixo tava no chão e o contêiner vazio, nunca mais colocaram (...).

Percebe-se a falta de consciência dos moradores, prejudicando tanto o meio ambiente como o próprio homem. Segundo a Maria ela diz:

(...) não sabemos mais o que fazer os moradores da Travessa Sete, jogam até animais mortos, não são todos que fazem isso, nós sabemos os que fazem, mas não podemos falar nada para evitar confusão, e que sofre somos nós com o mau cheiro e além de doenças tem muitas garrafas (...).

Infelizmente os moradores, não levam a sério os perigos existentes de infecções e doenças transmitidas por insetos. Isso que vem acontecendo é de séria preocupação para os profissionais da saúde, o agente da vigilância ambiental Felisberto Brito diz:

A divulgação é ótima, mas os moradores não colaboram, eles pensam que nós é que temos a obrigação de limpar todo o seu quintal, sabe-se que a dengue já é considerada uma epidemia no país e a população continua brincando com a situação.

Além da questão do lixo nessa parte do setor, outro problema é a questão da saúde no Jardim Santa Helena, não existe posto de saúde e os moradores que precisarem de um médico tem que procurar o posto do Setor Alaska, que atende os seguintes setores: Jardim Filadélfia 01 e 02, Bairro Senador, Jardim Santa Helena, Feirinha, Centro e parte do bairro São João. A senhora Nilda diz:

Além da distância tema demora da lista de espera. E se você chegar atrasado eles não te atendem, é preciso remarcar, mas se o médico atrasa, nós somos obrigadas a esperar e aceitar como se eles estivessem fazendo favor. Sou pobre, mas não sou burra, sei que pagamos impostos e que temos os nossos direitos.

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O Posto do Setor Alaska, são três médicos e duas enfermeiras para atender a população e funcionam numa casa alugada As crianças e os adolescentes têm que se deslocar para outros bairros, caso queiram estudar. A grande maioria estuda nos seguintes colégios: Sancha Ferreira (Tecnorte), Polivalente (Vila Aliança), Estadual (Centro). A presidente de bairro alega que a falta de compromisso do poder é questão política, ela relata:

Todos sabem que o Centro Comunitário é de responsabilidade do presidente do bairro, aqui é diferente nem o leito eu posso entregar lá, é tanto que entrego aqui na minha casa, isso porque é um programa do Governo do Estado onde cinquenta famílias são beneficiadas e quarenta já se cadastraram e estão na lista de espera.

A Dona Maria José é uma das primeiras moradoras do setor e diz que sofre muito por observar que de um mil novecentos e oitenta e cinco até os dias de hoje, poucas coisas mudaram, apenas aumentou o número de casas, mas no geral nada foi feito pelo setor. Ela continua:

Falta a canalização da água, porque quando chove a água falta pouco para derrubar as casas. Não temos áreas de lazer, não temos nada. A pouca coisa que tínhamos ainda foi tirado pela prefeita. Em oitenta e sete eu fiz um projeto para conseguir trazer um centro comunitário para o bairro, ele ficou aberto por um bom tempo. Em noventa e seis aqui no setor, tinha muita gente carente, mulheres passando fome, no papel de presidente, elaborei um projeto para montar uma fábrica. Quando o Paulo Sidnei em noventa e senta disponibilizou a verba, compramos trinta máquinas industriais, cadeiras e mesas. O Centro Comunitário se tornou o mais equipado da cidade. No ano de dois mil tínhamos cinqüenta mulheres trabalhando, quando a prefeita entrou e mandou fechar a fábrica por um mês e até hoje.

Diante desse relato podemos perceber que quem mais sofre é quem precisa por questões políticas todos os moradores são prejudicados, e o setor continua sem receber os benefícios.

O Secretário de Obras informou que existem projetos para melhorar a infraestrutura do setor, infelizmente não se sabe quando. Porque a própria prefeita em dois mil e seis fez uma reunião e afirmou que naquele mesmo ano as ruas seriam pavimentadas e a obra nem sequer teve inicio, mostrando a falta de comprometimento com a população.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Países em desenvolvimento são os que mais sofrem com a urbanização acelerada, aonde as cidades vão crescendo sem planejamento.

E a falta de planejamento está associada à falta de compromisso das lideranças políticas, com o povo principalmente, a classe menos favorecida. Se o problema fosse levado a série talvez pudesse até mesmo minimizar a exclusão social, que se alargar nas cidades brasileiras.

O poder público precisa possibilitar uma vida digna para a população principalmente, no que tange a saúde, dedicação e moradia e direito do cidadão. Mas o que se observa é que uma política excludente, voltada mais para economia. O Setor Jardim Santa Helena é deficiente de serviços urbanos e necessita de melhorias, para que os moradores possam se beneficiar dos serviços oferecidos pelo Estado.

Quando se analisa a realidade de tantos problemas enfrentados pela população, percebe a administração do descaso, para com a população, onde infelizmente a grande maioria não sabe brigar pelos seus direitos. É necessária uma revisão nas ditas políticas no Brasil, pois a questão tem que ir além de discursos falaciosos.

O Estado cria planos habitacionais, só que grande parte dessas casas é doada a quem não precisa, é notório isso no Jardim Filadélfia 02, onde a população menos favorecida continua morando em lugares insalubres, alguns tendo que pagar aluguel.

Além do planejamento é preciso uma sensibilização da população. O lixo e as queimadas são uns desequilíbrios da própria população.

O solo é essencial à vida. Dele pode ser retirado material de construção de estradas, casas, além de influenciar a qualidade do ar e diretamente à vida do homem.

Por ser de profunda importância à vida, é necessário se levar a sério as questões do lixo e das queimadas que prejudicam o solo.

Nota-se que os moradores da área estudada estão alheios à situação vigente, pois o que mais se percebe é moradores que em vez de recolher o lixo, queima que em vez de plantar, derruba que em vez de tentar melhorar, só prejudica por jogar no solo água de todas as atividades domésticas.

Talvez uma parceria, legislativo, executivo, universidades e é lógica a população, poderia minimizar os problemas urbanos causados pela falta de planejamento por parte do poder público e consciência da população. Portanto é urgente se rever os conceitos sobre a urbanização no Brasil, não tentando maquiar, mas solucionar, caso a questão não for levada a sério, todos sofrerão as consequências de tais descasos.

5. REFERÊNCIAS

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CARLOS, Ana Fani Alessandri. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2004.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. Milton Santos (organizadores). Ensaios de Geografia Contemporânea. Obra revisitada. São Paulo: Hucitec/Imprensa Oficial do Estado, 2001.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.

GASPAR, Jacira Garcia. Araguaína e sua região: Saúde como reforço da polarização. (dissertação de mestrado). Recife, 2002.

PEREIRA, Aires José. A consolidação da sociedade urbana Tocantinense. (in) PEREIRA, Aires José; NARDES, Antonia Marilia Medeiros; SUZUKI. Júlio César (orgs). PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA TRANSIÇÃO DO CERRADO À FLORESTA AMAZÔNICA: LEITURAS GEOGRÁFICAS. 1. ed. Rio de Janeiro: CBJE, 2018. p. 87- 98. (a).

PEREIRA, Aires José. Ensaios Geográficos e Interdisciplinaridade Poética. 5. ed. Rio de Janeiro: CBJE, 2019. (a).

PEREIRA, Aires José. Tangará da Serra: nova fronteira agrícola e sua urbanização. 3. ed. Rio de Janeiro: CBJE, 2019. (b).

PEREIRA, Aires José. Uma Leitura da Dinâmica Metodológica aplicada ao Trabalho científico. (in) PEREIRA, Aires José; NARDES, Antonia Marilia Medeiros. (orgs). GEOGRAFIA, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E SABERES MULTIDISCIPLINARES 1. ed. Rio de Janeiro: CBJE, 2018. p. 26 - 39 98. (b).

SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço habitado. 5 ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

SILVA, Lenyra Rique da. A natureza contraditória do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2001. SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço habitado. 5 ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

SILVA, Otávio Barros. Breve História do Tocantins e de sua gente: uma luta secular. Araguaína: Federação da Indústria do Estado do Tocantins, Brasília: Solo Editores, 1996.

SOUZA, Maria Adélia. Governo Urbano. São Paulo: Nobel, 1988.

SOUZA, Maria Adélia A de, SANTOS, Milton. (organizadores). A construção do Espaço. São Paulo: Nobel, 1986.

AIRES JOSÉ PEREIRA - Professor Adjunto IV, do Departamento de Geografia da UFR. Doutor em Geografia Urbana pela Universidade Federal de Uberlândia (2013). Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (1999). Especialista em organização e Produção do Espaço Geográfico pela UFMT - Campus de Rondonópolis (1995). Licenciado em Geografia pela UFMT Campus de Rondonópolis (1992). Possui graduação em FILOSOFIA pelo CENTRO DE TEOLOGIA APLICADA INTEGRADA (2008), graduação em BACHAREL EM TEOLOGIA - SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO APOSTÓLICA (2005). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Tecnologia Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: Araguaína - TO, Expansão Urbana de Tangará da Serra - MT, cidade e seus problemas ambientais, ensino de Geografia, Interdisciplinaridade Poética, urbanização, Geografia Agrária, Ensino de Geografia e problemas sociais urbanos. Leituras de Paisagens Urbanas, tema pelo qual se doutorou em Geografia na Universidade Federal de Uberlândia no dia 23 de abril de 2013. É poeta que acredita nas palavras transfonadoras de homens e de espaços. Possui uma página no Recanto das Letras onde publica seus textos poéticos, entre outros. É membro da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense, coautor do Hino Oficial de Rondonópolis - MT. Possui vários artigos publicados em eventos e Revistas Científicas, além de 17 livros editados. É membro pesquisador do NURBA. Atualmente é coordenador de Ensino do Curso de Geografia da UFMT e Membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Rondonópolis - MT. É coordenador do Laboratório de Cartografia. É membro conselheiro do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFR. É coordenador de Estágio supervisionado do curso de Geografia. É coordenador de área do PIBID. É membro do Colegiado de Geografia. É membro do Departamento de Geografia e membro do NDE de Geografia.

JANYELLE BEZERRA DIAS – Graudada em Geografia pela UFT – Campus de Araguaína.

Recebido para publicação em 17 de junho de 2019.

Aceito para publicação em 10 de dezembro de 2019.

Publicado em 31 de março de 2020.

Aires José Pereira, Aires José Pereira e Janyelle Bezerra Dias
Enviado por Aires José Pereira em 07/04/2020
Código do texto: T6909569
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