Cem abraços...
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Cem abraços...
... Era o que deveríamos trocar, todos os dias. Pelo menos 100!
Cem é múltiplo de 2 – o fértil número estabelecido por Deus para designar o casal (homem e mulher); é múltiplo de 4 – numa época sem precedentes, onde temos o mundo na palma da mão, estamos perdidos, entre os quatro pontos cardeais (Não parece estranho?); é múltiplo de 5 – um dos números da sequência de Fibonacci que, associada à razão áurea de Phidias, ergueu templos monumentais que o homem, por apego à baixa cultura, também deixou de lado, venerando qualquer manifestação humana como arte, inclusive as que vilipendiam o sagrado.
Em nome da modernidade e do direito à igualdade, o prazer irresponsável distorceu o conceito de liberdade e o homem se desligou de alguns bons valores. Buscamos, doentia e desesperadamente, uma fraternidade absoluta que nunca alcançaremos. Confundimos interesses pessoais – escusos – com altruísmo e bondade. Entendemos assistencialismo como caridade e benevolência; obrigação como faculdade; e o repasse da nossa força de trabalho, que nos tira o melhor de nós, em nossa melhor idade, como um mal necessário. O que buscamos e temos, em nossa essência perversa, são apenas interesses mesquinhos, às vezes coincidentes com os anseios coletivos, e nada mais!
Ao dividirmos 100 por 2, por exemplo, encontraremos as 50 pedras que temos nas mãos, prontas para ofender quem quer que seja, sem filtros, bastando, para isso, que pense diferente de nós. E não nos esqueçamos do aforismo: “Ele me respondeu com 50 pedras nas mãos!”. Ser a vidraça machuca, não machuca? Atirar pedras é bom demais!
Mas a unidade também se obtém. Basta dividir 100 por ele mesmo. Num aparente paradoxo, posso encontrar o todo justamente ao dividir... E dividir é do que estamos precisando: dividir responsabilidades, espalhando esperanças, sem apontar o dedo, sem jogar pedras – nenhuma sequer! Precisamos compartilhar, por meio de orações e gestos, energias positivas que se traduzam em inspirações motivacionais e bons sentimentos, sorrisos e alento.
Somos um sem-número de universos finitos, partes de um conjunto que se expande, cheio de interferências sociais, filosóficas, econômicas... De micros, macros e superestruturas que tentam explicar o porquê de estarmos no estágio em que estamos. E ai daquele rebelde que não se curvar ao status quo!
Infelizmente, diante do cenário atual, as vítimas se multiplicam; especulações povoam o imperativo do nosso inconsciente coletivo. Oportunistas descerram as máscaras da hipocrisia com agressões que escondem ideologias – todas dispensáveis por ora.
Entre ânimos acirrados e dor, estamos, indistintamente, reféns de um minúsculo e invisível inimigo que nos tira a saúde, ameaça-nos com a proximidade da fome, do desemprego... E nos deixou sem abraços.
(Publicado no Jornal A Praça
do dia 04/04/2020)