Coronavírus? Um anticorpo da Terra?
Esses dias ouvi falar que talvez o coronavírus fosse uma espécie de anticorpo da terra para ela se defender dos seres humanos. Inicialmente achei que isso fosse uma colocação ridícula, mas olhando com outros olhos, infelizmente parece que faz certo sentido pensar assim, ainda que seja apenas de modo metafórico.
Frequentemente vemos a mídia noticiar as quedas nos níveis de poluição do ar, de rios e de diversos outros espaços, isso sem levar em conta o fato de que muitos animais estão voltando a habitar tranquilamente ambientes onde não mais se faziam presentes, tudo porque as pessoas pararam ou diminuíram tragicamente a frequência com que se fazem presentes nesses locais e consequentemente, baixaram significativamente os níveis de poluição e desmatamento.
E outra, essa necessidade de ficar em casa, sem a possibilidade de convivências sociais diretas, como se fazia antes tem revelado o quão doentes estávamos, ou ainda estamos. Constantemente vejo as pessoas nas redes sociais reclamando que não tem o que fazer, já estão cansados de ficar em casa. O número de violência nos lares parece ter aumentado, são problemas e reclamações diversas que surgem diariamente.
Além disso tudo, há aqueles serviços que são essenciais e não podem parar. Na área de saúde, alimentação e transporte de produtos temos alguns exemplos desses casos, os quais acabam sendo sobrecarregados em suas funções devido ao aumento das demandas que essa pandemia causou no país.
Diante desse quadro não há como negar que o ser humano desaprendeu a apreciar o silêncio, a conviver com seus familiares com os quais divide o teto e, o pior de tudo, os indivíduos não sabem mais conviver consigo mesmos. Também é nítido que os níveis de egoísmo estão mais altos do que nunca, desaprendemos a enxergar as necessidades de quem está ao lado. Para muitos o desespero, a ansiedade e o egoísmo têm sido as únicas companhias restantes.
Parece que as pessoas se transformaram em máquinas as quais se limitam a comer, dormir, trabalhar, pagar contas e, às vezes, se divertirem de modo irrefletido e inconsequente. Não havia mais tempo para empatia. Não tínhamos mais espaço para sermos verdadeiramente humanos. Tanto é que, nesse momento em que temos a obrigação de mudar nosso cotidiano, rapidamente se instalou um vazio na vida das pessoas, vazio esse que antes era preenchido apenas com a vivência mecânica do cotidiano. Como bem denunciou o Papa Francisco "Havíamos pensado que poderíamos prosseguir saudáveis num mundo doente", mas a verdade é que estamos adoecendo com o mundo e não é de hoje que o meio ambiente e a nossa própria consciência gritam por socorro.
Aparentemente, pelo o que podemos ver nos demais países do mundo, essa problemática do coronavírus ainda irá se estender por longo tempo no Brasil, ou seja, muitos deverão ficar em isolamento, quarentena ou distanciamento social e muitos outros ainda continuarão sobrecarregados em seus trabalhos por algumas semanas. Isso pode ser algo realmente torturante, ou não. Tudo depende do modo como iremos encarar a realidade daqui para frente.
Não estou aqui me colocando como um detentor da verdade que possui todas as respostas para esse caos que se instalou em nosso meio e muito menos ainda me preocupo e buscar culpados para esse problema. Não estamos em um momento adequado para nenhuma das duas coisas. Acho que o cenário dos últimos anos vivido no Brasil tem deixado bem claro que ambas as posturas apenas geraram conflitos e decisões tomadas de modo impensado as quais acarretaram graves problemas para toda a nação.
Viktor Emil Frankl – o pai da logoterapia – há muitos anos já nos alertava "Se não posso mudar uma situação ou uma pessoa, preciso mudar a mim mesmo". Creio que esse é o momento ideal para colocarmos esse pensamento em prática. Todos nós possuímos qualidades e defeitos, momentos em que acertamos e outros nos quais erramos. De algum modo essa realidade doentia na qual nos havíamos habituado afetou a todos significativamente, por isso creio que cabe aqui às trocas de experiências como forma de enriquecimento para cada um.
Algumas iniciativas nesse sentido já vêm sendo tomadas. Nos meios de comunicação entre inúmeras notícias de mortes pelo coronavírus e de pessoas que buscam se aproveitar dessa situação em benefício próprio encontramos instituições oferecendo serviços on-line gratuitos, grupos religiosos e pessoas fazendo transmissões ao vivo, e-books sendo oferecidos gratuitamente, empresas fazendo doações para órgãos de saúde, cursos virtuais para estudantes, em fim de algum modo é possível enxergar um luz no final do túnel.
Percebo o surgimento de inciativas interessantes, mesmo achando que ainda é pouco. Mas, de algum modo já podemos constatar uma mudança inicial de postura dos indivíduos e instituições que nessas circunstâncias assim podem agir. Creio na necessidade dessa união nesse momento, aliás em todas as circunstâncias precisamos disso. Só espero que quando essa pandemia acabar e a vida cotidiana voltar ao “normal” cada um de nós tenhamos aprendido a lição e assim entendamos que o “normal” não deverá ser o retorno à condição na qual vivíamos anteriormente, mas um aperfeiçoamento muito profundo desses passos iniciais que começamos a aprender agora.