Brasil - Hora de Mudar
"Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?" Lucas 6:39
Enquanto o mundo chorava seus mortos e tremia de pavor diante do Covid-19, versão pós-moderna de ceifadores como a Morte Negra no final da Idade Média, o Brasil sambava hipnotizado ao som de cuícas e tamborins. Afinal, era o Carnaval, desde sempre a solução paliativa mais imediata aos dissabores da vida, ainda que de curta duração.
As aglomerações nesses tempos são um retrocesso àqueles anos negros, com a diferença que naquela época os povos sequer imaginavam os riscos decorrentes por falta de sanitarismo básico, assepsia, enfim, meios comuns através dos quais hoje em dia se evitam doenças contagiosas.
Quanto evoluímos como Sociedade ou, de que servem os métodos desenvolvidos para preservar a vida se diante do primeiro rufar dos tambores se entra inconsequente e imediatamente em transe carnavalesco?
É possível ser cuidadoso e mesmo assim ser infectado? Claro que sim! Já que o coronavírus está no ar, literalmente. Há superfícies tocadas pelo doente que mantêm o vírus por até três dias, além das gotículas infectadas expelidas através de espirros e tosse, ou da saliva ao conversar.
É óbvio ou não que se deve evitar aglomerações visando proteger-se e também evitar a propagação do mal? Aliás, pesquisas apontam um grande número de pessoas assintomáticas transmitindo o coronavírus sem perceber.
A famosa Marquezine, enquanto esperava seu resultado do teste para o Covid-19, surgiu de máscara numa rede social e foi criticada por usar máscara! Um dos seguidores bradou do alto de suas convicções tribais que só os infectados usam máscaras, portanto...
Valha-nos, Deus!
Em países asiáticos como Japão ou Coreia do Sul, faz parte da etiqueta usar máscaras ao menor resfriado, ou apenas como proteção por alergias ao pólen, poluição, etc.
Inclusive na própria China, epicentro do vírus, como os brasileiros pensam que em tão pouco tempo esse país tenha conseguido frear o caos com algo em torno de 80 mil infectados? Numa população de quase 1,5 bilhão de chineses, e ressaltando, epicentro do Covid-19!
Talvez seja possível olhar para as estatísticas e rascunhar uma relação entre o avanço do mal e costumes sociais nos países afetados.
Muitas vezes erradamente rotulado como um povo frio, o japonês, por exemplo, não tem costume de tocar nas pessoas, um desrespeito social e sequer se cumprimentam com apertos de mão, abraços, e muito menos beijinhos.
Bem diferente de alguns povos tidos como calorosos, como italianos e espanhóis que hoje lutam bravamente contra a assolação total pelo vírus, e claro, também dos brasileiros, hoje em plena batalha.
Trata-se de constatação, não de crítica. Seria bom aprender com a experiência alheia nesses tempos cruéis.
O pequeno território japonês luta bravamente contra o mal que veio de seu maior parceiro, vizinho e epicentro do vírus, conseguindo frear a escalada descomunal que se vê no mundo afora. Agora é torcer para que a cautela supere o sonho de realizar as Olimpíadas em Tokyo no meio desse ano.
Óbvio que, mesmo se o povo brasileiro fosse como o japonês, não haveria chance de se evitar o Covid-19, a questão é como se dá o enfrentamento, e o que importa, o saldo final...
Assim como outros povos orientais, no Japão se respeita sobretudo a hierarquia, ou seja, são obedientes.
Imaginar esse povo com quase 130 milhões de pessoas, obedecendo a ordem de se isolar, manter quarentena, num território pouco maior que o estado do Mato Grosso do Sul aperta o peito e leva-nos a reconhecer o quanto é merecedor de elogios.
Nesse país, se um chefe, líder, professor, presidente, etc, mandar, será obedecido. Daí a importância que se dá aos postos de liderança, visto que, se mal conduzido, o povo vai à ruína.
Uma vez nomeado o líder, o povo o segue. São impensáveis os atos de terrorismo doméstico, tidos como "manifestação popular" no Brasil onde, ora se queima ônibus contra o governo, ora se queima ônibus a favor de bandidos, e os policiais decidem se vão policiar ou ajudar a depredar o país. Enfim, um show grotesco do primitivismo selvagem, afinal, para dificultar ainda mais a vida do ser humano que depende de ônibus e precisa de proteção é preciso não apenas uma ignorância que excede a nossa compreensão, mas uma falta de empatia digna de sociopatas também.
Quando Bolsonaro, que a exemplo de Trump, mas sem tantos neurônios, posou de destemido, rotulando as medidas preventivas dos demais países como "histeria" sobre o Covid-19, era para o povo que tem amor à própria vida e aos entes queridos, tê-lo combatido em peso, nas Mídias pelo menos. Mas não, afinal, "é o jeito dele"...
Quando Bolsonaro, bancando um super-herói tupiniquim saiu de "peito aberto" nas Manifestações às quais tinha o dever de proibir através mesmo de um decreto presidencial dada a gravidade da situação, já passou então a ser caso de Impeachment, afinal, um Líder deve estar senhor do próprio juízo, ou então precisa ser interditado! Mas não, afinal, é Brasil...
Como líder, será que de fato ele pensa o Brasil ou apenas pensa em si mesmo e em seus rebentos igualmente destrambelhados, e como divertir-se ao máximo no cargo? Será que a criatura consegue imaginar o cenário de horror de um país colapsado com mais de 200 milhões de zumbis famintos arrastando-se pelas ruas à caça?
Provavelmente, diferente de nações que possuem um líder de fato, Bolsonaro deve achar que duzentos milhões de infectados continuariam a produzir, exportar, enfim, gerar a riqueza que sempre o sustentou na fase adulta e aos seus!
Falar mal de Bolsonaro já nem vale mais a pena, seria "chover no molhado".
Chega-se a pensar que não é Bolsonaro que desencaminha o povo, mas, pelo contrário, seu neurônio solitário deve olhar para a vastidão que nos distancia de povos mais civilizados e pensar; o povo gosta mesmo é de circo, abraço, aperto de mão e selfie, tudo junto e misturado com algo de truculência e é isso que vou dar!
Atualmente, ser um indivíduo alienado, bruto e ignorante pode até ser um direito à liberdade, por assim dizer, porém, em tempos de Internet, com conhecimento instantâneo na ponta dos dedos, um povo escolher e ainda por cima, difundir erro e ignorância, é execrável!
Todos estamos sujeitos ao Covid-19! Esse vírus mata, não por ser 100% letal, ou todos os infectados estariam mortos, o que não aconteceu. Mata porque os países não têm condições de atender a todos os doentes, precisando escolher a quem vai dar atendimento!
Ao pensarmos em, se e quando chegar a nossa vez ou a de um ente querido não houver mais vagas no SUS, por superlotação, talvez então se consiga estabelecer uma relação entre o heroísmo de fachada de certos indivíduos poderosos e seu imediato acesso ao Sírio Libanês ou ao Albert Einstein ao primeiro espirro.
Ninguém cuidará melhor de nós do que nós mesmos. Nunca houve um tempo em que seguir a "manada" fosse tão perigoso quanto o é agora.
Talvez tenha chegado a hora de repensar os costumes, as ideologias, os valores, hora de raciocinar mais friamente e talvez, hora de mudar...
Hora de ensinar para o Presidente que, se quer nivelar-se a alguém deve olhar para cima e não para as profundezas da ignorância.