A ÍNTIMA CORRELAÇÃO ENTRE O TEMPO E A MORTE
*Por Herick Limoni
O tempo é um fenômeno abstrato e contínuo que exerce sobre nossas vidas um poder monumental. Quando jovens, pouco ou nada nos importamos com ele. A quase certeza do amanhã faz o tenro indivíduo adiar muitas coisas. Por que fazer hoje o que se pode realizar amanhã? Soubéssemos nós, naquela idade, que postergar nem sempre é possível, poderia ter-nos poupado de grandes e penosos sacrifícios.
Você, que hoje está acima dos 35 anos, já parou para imaginar como teria sido sua adolescência/juventude se tivesse a maturidade (cabem aqui algumas exceções) que tem hoje? Na pior das hipóteses chegará à conclusão de que não teria feito muito do que fez. A idade traz sabedoria para grande parte dos homens. É um júbilo conversar com pessoas experientes, que tem na sua história anos e anos de uma bagagem que só se acumula com o tempo.
Em tenra idade, a morte não nos chama tanto a atenção, por duas razões: 1) acreditamos que o fim de nossos dias está distante e 2) as pessoas do nosso convívio, que, provavelmente, também são jovens, tem menor probabilidade de morrer. Tais fatores nos fazem, nessa idade, relegar a morte a um segundo plano, reservando-lhe um papel de coadjuvante em nossas vidas cheias de energia e esperança. O céu é o limite, metaforicamente falando.
Aos poucos, com o transcorrer dos anos essa situação tende a mudar drasticamente. Quanto mais velhos mais próximos estamos de nosso próprio fim (é o que chamamos na matemática de grandeza diretamente proporcional), e mais e mais pessoas que conhecemos vão, pouco a pouco, nos deixando. É o ciclo da vida se completando, ainda que por vezes sejamos surpreendidos com a perda de pessoas jovens. É a dupla presença da morte. Visto por esse panorama, cada dia assume ainda mais importância, pois a possibilidade iminente da morte tende a nos fazer refletir, ou pelo menos deveria.
Os dias são uma microrrepresentação da vida. Assim como nascemos, vivemos e morremos, o dia nasce, desenvolve-se no transcorrer das horas e, ao final, ele morre. E a areia da ampulheta segue sua sina, pressionada pela gravidade. O tempo passado não volta, tal como água de rio. Tão logo o ponteiro marque as 24 horas, aquele dia, em especial, nunca mais retornará. E é por essa razão que devemos aproveitá-lo intensa e prazerosamente, livrando-nos dos rancores, das mágoas e de todo sentimento que não nos faça bem. E todos os dias Deus nos dá a oportunidade de mudar, e é por não termos certeza de um novo amanhã que cada dia se torna único, especial. Mude, abrace, visite, ame, faça o bem, HOJE, porque o amanhã é uma incógnita.
No filme Sociedade dos Poetas Mortos, de 1989, o professor Keating, interpretado por Robin Williams, em seu primeiro contato com os jovens alunos da Academia Welton, dá-lhes o seguinte conselho: Carpe Diem, termo em latim que significa, dentre outras coisas, “aproveite o dia”. Nada mais sugestivo. Em nossas vidas, muito em razão da possibilidade de não termos um amanhã, é imprescindível que aproveitemos bem cada dia e cada momento. Aproveitar para expressar os sentimentos; aproveitar para visitar os amigos; aproveitar para estar com quem se ama; aproveitar para fazer o bem etc. Para um jovem de hoje isso pode soar um tanto quanto piegas, brega, démodé, para utilizar um termo francês. Mas um dia, depois dos seus 35, 40 anos – espera-se que alcance tal idade – ele verá que poucas coisas são tão importantes na vida, e geralmente, tais coisas são simples, como as anteriormente citadas.
Agindo assim, quando formos nos encontrar com a morte, “o único mal irremediável”, como diria Chicó, da obra o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, não teremos muito o que temer, pois, dessa maneira, com o coração em paz, e ao contrário de quando éramos jovens, quando o céu era o limite, faremos a transição com a esperança de que o céu seja, enfim, o nosso destino.
*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas