A FORÇA DA PALAVRA

Prólogo

Este texto poderia se chamar "A ARTE DE COMUNICAR-SE", mas pensando bem e como recentemente eu escrevi sobre duas fortes e indiscutíveis forças: "A FORÇA DO AMOR e A FORÇA DESCOMUNAL DO SILÊNCIO, fiz a opção pelo tema "A FORÇA DA PALAVRA".

Quero dedicar este escrito a todos os profissionais (militares em geral, políticos, empresários, repórteres, empregadores, empregados, professores, juízes, procuradores, promotores, advogados, delegados, líderes sindicais, estagiários, estudantes e outros) que fazem, no seu dia a dia, o uso de tão poderosa força: A PALAVRA.

"As palavras agradáveis são como um favo de mel, são doces para a alma e trazem cura para os ossos." (Provérbios 16:24). E ainda: "A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira." (Provérbios 15:1).

É PRECISO SABER DIZER A VERDADE

Quero iniciar este texto com uma história muito conhecida não apenas no meio forense, mas sobretudo nas universidades e outras instituições de ensino onde se ensinam a arte da oratória.

Certa vez, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu estranho sonho. A expectativa com a chegada do adivinho deixava a atmosfera densa, nuvens plúmbeas e a criadagem alvoroçada.

Finalmente o adivinho chegou e disse com a voz esganiçada, carregada de presságio lucubre (que especula longa e exageradamente).

– Que desgraça, senhor! Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade. – Claro que essa interpretação do sonho e mais ainda a forma como foi transmitida deixou não apenas o soberano agitado, mas todos os que ouviram as palavras do adivinho.

– Mas que insolente! Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui! - gritou o sultão enfurecido. Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem 100 açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe com a voz respeitosa, doce e eivada de dissimuladas alvissaras:

– Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes. – Isso significava dizer: “Vossa Alteza sobreviverá a um terrível acidente e terá longa vida!”

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso e ele mandou dar 100 moedas de ouro ao segundo adivinho. Quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:

– Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo... Por que ao primeiro ele pagou com 100 açoites e a você com 100 moedas de ouro?

Respondeu o adivinho:

– Lembra-te, meu amigo, que tudo depende da maneira de dizer. Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra. Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida. Porém, a forma com que ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas e demasiados prejuízos afetivos e socioeconômicos.

ACONTECEU COMIGO

Eu era 2º Sargento, mas exercia a função de Sargento Brigada (função de 1º Sargento) do Batalhão. O Capitão S/1 e também Ajudante-Secretário se dirigindo a mim disse: “Wilson vá e diga ao 1º Tenente Cláudio (nome trocado em respeito ao hoje Coronel R/1) que ele é o único comandante de subunidade que não entregou as Fichas de Avaliação dos Sargentos para remessa à Brigada.”.

Célere corri para cumprir a ordem de meu chefe e superior hierárquico. Encontrei o dito 1º Tenente no pátio do Batalhão e repeti as palavras do Capitão S/1 tal qual me foram ditas.

Claro que o boçal comandante de subunidade, extremamente vaidoso, relapso e desidioso não gostou nem um pouco das minhas palavras à guisa de cobrança. Eu não atentara para o detalhe do uso das melhores palavras para transmitir a ordem do Capitão S/1.

Abespinhado, isto é, encolerizado, o Oficial me chamou de “estreludo” (essa palavra não existe no idioma português), “atrevido”, “grosseiro” e “mal-educado". Na posição de sentido e impassível eu não compreendia a causa de tanta fúria. Hoje compreendo!

Eu deveria ter perguntado: “Tenente... As avaliações dos Sargentos estão prontas? O Capitão S/1 quer remetê-las para a 7ª Brigada.”. – Sabemos que portador ou mensageiro não merece pancadas, mas isso nem sempre funciona! E para piorar ou “engrossar o caldo” eu disse, perguntando, depois de ser xingado pelo 1º Tenente indolente e estressado:

“Como o senhor quer que eu diga que, se as fichas de avaliação dos graduados não forem remetidas, de acordo com o calendário, à 7ª Brigada, o senhor será responsabilizado pelo atraso?”. Sim! Eu não fiz o bom uso da palavra. Fui impertinente, grosseiro e atrevido! Mas em nenhum momento fui indisciplinado.

CONCLUSÃO

Percebe-se que na parábola há dois tipos de comunicadores; o primeiro, com palavras mais duras, informou que os parentes do sultão morreriam e, em consequência, foi penalizado pela insolência e ousadia; o segundo, por sua vez, transmitiu a mesma mensagem, entretanto, utilizou-se de palavras mais sábias, de modo que recebeu recompensa pela louvável atitude.

No meu exemplo (ACONTECEU COMIGO) não foi diferente. O comandante da subunidade (2ª Cia de Fzo) não era de todo um militar incompetente, apesar de ser vaidoso, desidioso e naquela ocasião estar representando o mal boçalizado.

Esse cidadão conseguiu, depois de alguns anos, se matricular e concluir com êxito o curso na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME (marco de referência e excelência dentro do Exército, das Forças Armadas, no meio acadêmico civil, bem como no exterior).

Todavia, extremamente emocionado, para não dizer alterado, o 1º Tenente Cláudio (nome trocado em respeito ao hoje Coronel R/1) inventou a palavra “estreludo” (talvez quisesse dizer ‘estrelado’) quando foi lembrado, para não escrever cobrado, por um 2º Sargento, da necessidade de cumprir uma sua obrigação.

Deste escrito o notável leitor poderá, se quiser, tirar uma boa lição: É preciso manter o foco no objetivo, centralizar a força para lutar e utilizar a fé para vencer, mas não esquecer nunca de usar as palavras certas para lembrar, cobrar, determinar, pedir, elogiar ou mesmo chamar a atenção dizendo algo que lhe incomoda, mas necessita ser dito.

Não é de bom grado, isto é, não nos devemos preocupar tanto se seremos escutados e/ou compreendidos. O mais importante é sermos cuidadosos com A FORÇA DAS PALAVRAS que iremos usar, primar pela conveniência; sermos gentis, corteses e nos adequarmos ao caráter e temperamento de quem irá nos ouvir.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Textos livres para consulta na “Web”;

– Assertivas do autor que deve ser considerada circunstanciais e imparciais.