Aliados ou Inimigos? Questão de percepção
Nota-se na sociedade que o aumento da incidência de casos de depressão e suicídio escalonou exponencialmente na última década. Casos que aumentaram devido à maior exposição das pessoas e ao excesso de demandas que gera consequência na forma de pessoas estressadas e com acúmulo de predicados ruins.
Entretanto como há de se contornar tais mazelas sem que elas se tornem irreversíveis a ponto que se cogite atentar contra a própria vida como uma opção palpável?
As pequenas mazelas são aquelas incididas por fatos de menor relevância, mas que se não forem devidamente tratadas, podem se tornar traumas pra toda uma vida. Sigmund Freud aponta, em seus estudos, que a tenra infância molda o caráter das pessoas. Assim como é apontado no Complexo de Édipo – aonde o filho vem a se apaixonar pela mãe e quiçá arranca os próprios olhos no ápice deste enredo; e no Complexo de Electra – onde a filha se apaixona pelo próprio pai, a infância que tem as mais fortes imposições sociais de caráter sobre os cidadãos e os fazem interpretar o mundo de forma única. Esta “herança” acompanhara-os por toda a vida e se não for devidamente apaziguada e contornada, poderá gerar distúrbios psicológicos a médio e longo prazo.
Por sua vez, os grandes traumas são o resultado das junções dos ditos “pequenos” que desencadeiam uma erupção na forma física dos sintomas. A pessoa acumula diversos “pequenos” males e constroem quimera que se não for devidamente enfrentada ou tratada, podem gerar consequências irreversíveis. Ao se analisar o Complexo de Estocolmo – onde a vítima do cárcere se apaixona pelo seu opressor –, notamos que esta relação desarmônica acaba por se mistificar em harmônica aos olhos do oprimido, pois este interpreta os fatos de maneira que esteja sendo acolhido e protegido de um mundo “vil”, graças aos atos visto como zelosos por parte de quem se encontra privado de seus direitos. Tal interpretação se faz não de maneira unilateral e como se este evento fosse uno na vida do indivíduo, mas relacionado a uma vivência passada onde colheu inúmeras interpretações somadas que desencadearam esta correlação com o complexo citado neste parágrafo.
Como interpelar as mazelas existenciais sem deixar de viver estar sujeito às tais? Gandhi foi de encontro direto a uma das grandes mazelas que sofria (pedofilia), conforme retratado no filme de mesmo nome, ao se deitar com diversas crianças e suprimir tal ânsia de sua parte. Ele optou pelo enfrentamento direto de seus males não ao sucumbir ou suprimir eles em sua essência, mas optando por encará-los e tentar contorná-los de forma a extingui-los. Ao estabelecer estruturas mentais fortalecidas que podem ir de encontro aos traumas e tentar minar os tais de modo a apaziguar as influências dos mesmos e quiçá os extinguir, se ruma para a plenitude e boa vivência neste plano terreno.
Ao se partir da análise do milenar Yin/Yang oriental, podemos observar que em todos os seres está presente a essência tanto do bem quanto do mal. Cabe a cada um analisar e dar vazão a qual dos dois se deseja estar no controle. Práticas tais como yoga, meditação e tai chi chuan sugerem métodos que auxiliam a pessoa a lidar melhor com o labor diário e rotineiro, mas sem perder a paixão de viver ao contornar melhor as decepções e males. Conforme se esvazia dos tais, você os torna parte de sua essência e aprendizado, todavia não os coloca a tona como sendo parte de seu ser, mas parte de sua trajetória.
Ao se tomar ciência dos “Eus” que se possui – inclusive os acompanhados de predicados ruins – e torna-los parte de sua essência, você terá uma dimensão maior do potencial que você possui e aonde pode chegar (ainda que sejam locais torpes). Ao balizar estas convicções com todos “Não-Eus” que se possa mapear, terá uma noção sólida visando contornar os traumas carregados – a exemplo do que Gandhi fez – e se munirá de ferramentas mentais para encarar esses atributos acumulados de sua persona.
Identificando os atributos de sua existência, consegue-se delimitar os pequenos e também os acúmulos ao se vislumbrar qual o reflexo dos tais em ti – como exemplificado e citado em parágrafos anteriores. Indo de encontro a minar a influência dos tais em nossa existência, buscamos o aperfeiçoamento pessoal e apaziguar o quão temerosas podem ser as consequências não só na sociedade, mas em nós mesmos.
Mapeando-se o campo existencial e os consequentes reflexos de traumas ocorridos durante a vida, torna-se mais fácil elaborar planos para lidar com as pequenas e grandes mazelas que ficaram registradas em sua alma sendo frutos de experiências ruins e quiçá traumáticas. Buscar a plenitude ao adotar estes predicados como parte de sua existência e visar o contorno deles, tornará eles seus aliados, pois fortalecerá a resignação e alavancará seu futuro e anseios por ser uma pessoa melhor e tornar o mundo melhor.