Mandando o recado pelo correio

Hoje, 13/02, precisei ir até uma Agência dos correios perto de casa. Ao adentrar no local, retirei uma senha e me sentei para aguardar a chamada no painel. Uns três minutos depois, chega um homem, aparentando uns cinquenta anos, alto, louro e bem forte, carregando um envelope nas mãos. Retirou sua senha e veio se sentar ao meu lado. Foi logo puxando assunto.

“ Faltou documentos agora tenho que enviar pelo correio!”

Eu quieta no meu canto.

“ É a cópia da carteira de trabalho”. Continuou

Eu quieta no meu canto.

“ Quero me aposentar! Já contribui quarenta e um anos. Vinte no interior, nas roças, mais vinte e um de carteira assinada. Não quero nem saber, vou me aposentar!”

Bom, percebi, que de fato, o homem queria conversar. Falei: “Já trabalhou bastante! Vai conseguir!”

“ Vou sim! Tenho como comprovar tudo! “

Silêncio por uns segundos.

Depois continuou:

“ Tem muita gente reclamando! Mas não está ruim não! Hoje se os pais começarem a pagar para seu filho a partir dos dez anos de idade, com cinquenta ele se aposenta? “

Voltei a ficar quieta no meu canto.

Ele continuou:

“ Quem puder pagar mais, paga mais, quem puder pagar menos, paga menos!”

Eu:

“ O problema é que tem muitos que não podem pagar nada” !

Ele:

“É, e são estes que estão reclamando! “

Eu:

“Pois é ! E ESTES fazem parte da grande maioria do nosso país” !

Meio sem saber o que responder, resolveu mudar de assunto:

“Veja os funcionários públicos! Ganham um dinheirão ! Tem altos salários, se aposentam com os mesmos salários! Isso tem que acabar!”

Agora imagina eu, funcionária pública, depois de quase trinta anos de trabalho, sendo descontada em folha 11% do meu salário para garantir minha aposentadoria, ser obrigada a ouvir de um Bolsominio, que sou uma privilegiada!!

Fiquei “matutando”, como calar a boca daquele velho pentelho, que nem foi convidado a dividir suas queixas comigo, sem descer do salto.

Olhei para as duas meninas atendentes do guichê. Jovens, em torno de vinte e cinco a trinta anos, ali trabalhando, cumprindo seu turno de oito horas de trabalho, sentadas, e sem dúvida já carregando um belo problema de coluna pelo tempo na mesma posição. Não tive dúvida:

“ O senhor está vendo estas duas meninas trabalhando? “

“Sim”!

“ O senhor acha que elas ganham bem?”

“ Acho que não.”

“O senhor também acha que ali estão sentadas duas parasitas?”

“ Não, de jeito nenhum!”

Eu:

“Pois é! São duas funcionárias públicas que trabalham oito horas por dia, de segunda a sexta, sem direito a cafezinho ou qualquer outro privilégio ! “

Ele me olhando com cara de “nem”.

Eu:

“Então, quando quiser dar opinião sobre um assunto que não domina, primeiro se informa . Não coloca todos no mesmo pacote.

Quem está levando o Brasil pro fundo do poço é quem trabalha três dias por semana, com salários astronômicos, com todas as mordomias e privilégios possíveis, aposentando com quatro ou oito anos de mandato e ainda embolsando sorrateiramente o dinheiro do povo” !

O painel acende chamando a senha 85, era a minha.

“ Oh! É minha vez! Esqueci de falar, sou funcionária pública, aposentada, trabalhei e contribui por trinta anos. Mais respeito comigo e pelo meus pares e com estas meninas que irão te atender agora!”

Não olhei para trás depois, mas acredito que o homem estava mudo e com certeza decidido a nunca mais puxar conversa com quem ele jamais viu na vida!