Consequências Sociais da Crise na República Romana
Uma dica importante para compreender certos períodos históricos é que nem sempre uma mudança de regime político significa transformações sociais profundas. Esse é o caso, por exemplo, da passagem da República romana para o Império. Com todo o alvoroço e violência dos conflitos civis nos últimos anos da República, eles não alteraram senão superficialmente o sistema social reinante.
A economia romana, por exemplo, não mudou muito nesse período transitório, permanecendo essencialmente agrária, embora também houvesse indústria e comércio bem desenvolvidos. Também os conflitos das classes provocaram alguma mudança em suas constituições internas (a consequência mais importante da crise), mas não se viu o nascimento ou desaparecimento de estratos sociais.
Como exemplo de mobilidade social dentro das classes pré-estabelecida, temos os muitos veteranos de guerra que, a partir de Caio Mário, adquiriram uma considerável porção de terra cultivável das colônias, formando uma classe abastada nas cidades em que viviam. Mesmo escravos libertos e seus descendentes chegaram a se introduzir nas elites locais, assumindo o papel das famílias antigas que foram arruinadas ou exterminadas durante as guerras civis. Aliás, nesse período surgiram inúmeras condições favoráveis para que aqueles que tivessem habilidade no trato com as massas e/ou fossem bons líderes militares construíssem carreiras de sucesso e conseguissem, assim, riqueza e prestígio. Isso era possível não apenas pelo desenvolvimento de atividades econômicas e pela expansão territorial, mas especialmente através das comoções políticas.
Entre as mudanças internas das classes sociais, uma que chama a atenção é o aumento da quantidade de senadores. O ditador Sila elevou o número destes a 600, e Júlio prosseguiu essa política com maior liberalidade. Lemos em Suetônio (Julius, 41.1 e 80.2) que ele preencheu as vagas no senado, inscreveu patrícios adicionais (até mesmo estrangeiros!), aumentou o número de funcionários em diversos níveis e restabeleceu aqueles que haviam sido degradados por ação oficial dos censores ou considerados culpados de suborno por veredito dos jurados.
Uma das dificuldades que a sociedade romana encontrou para vencer a crise do final da República foi chegar a consensos, encontrar ideais comuns ou mesmo um código de valores em que se pautar. Alguns atribuíam a crise por completo à debilidade moral da sociedade romana. Os romanos já não tinham mais um eficaz centro de referência; o melhor que podiam fazer era se espelhar nos costumes dos antepassados. A mudança política e a orientação espiritual que buscavam nesse período de crise só seria encontrado, em parte, na monarquia de Augusto.
FONTE: ALFÖLDY, Geza. Historia Social de Roma. Tradução para o espanhol de Victor Troncoso.