Não viva como se sempre pudesse se encostar em alguém

Uma fábula que sempre me despertou o interesse foi a fábula do cavalo e do burro. Nela, um cavalo e um burro estão viajando por uma estrada e o burro, que está carregando uma carga excessiva, pede ao cavalo que o ajude, dizendo que não está aguentando. O cavalo, que é egoísta, recusa-se e o burro morre de exaustão. Qual o final da fábula? O cavalo egoísta fica encarregado de carregar toda a carga pesada.

Que podemos deduzir? Além da moral de que não se deve ser egoísta, podemos concluir que é errado vivermos nos encostando nos outros. Infelizmente, muitas são as pessoas que agem como o cavalo da fábula. São egoístas, acomodadas, não ajudam os outros, deixando que se sobrecarreguem enquanto elas ficam numa posição confortável ou então os exploram, sempre pedindo favores ou dinheiro emprestado. Se repararmos bem, muitas dessas pessoas parecem estar sempre em dificuldade e dão muitas desculpas quando lhes sugerimos que deem um jeito em suas vidas.

Mas não podemos viver como se sempre fôssemos ter alguém em quem nos encostar. Primeiro, porque não é justo que outra pessoa fique com uma carga excessiva enquanto nós estamos no que se pode chamar de “vida boa”. Nada é perene e um dia aquela pessoa poderá não estar mais aqui para nos encostarmos nela ou então se cansar e resolver acabar com a exploração a que a submetemos.

Um dia, até a pessoa mais ingênua precisa enxergar a realidade e ela verá que está sendo explorada, que os outros não a veem como um ser humano que tem o direito a viver sua vida, mas apenas como alguém útil e conveniente a quem sempre poderão recorrer. Ela poderá ficar deprimida por ver que, para os demais, não passa de uma peça de roupa, de quem só lembram quando precisam ou como um móvel. Na maior parte do tempo, sequer pensam na sua existência. Então, ela deverá dar um basta se não quiser mais ser explorada, senão levará uma vida infeliz, vendo os seus exploradores vivendo suas vidas ao passo que ela não passa de uma idiota esquecida.

Quanto aos que vivem como se fossem ter sempre um hospedeiro que pudessem parasitar, deveriam lembrar que a vida é marcada pela insegurança. Tempos difíceis vêm para todas as pessoas, sejam boas ou más, egoístas ou altruístas, ricas ou pobres e, nessas horas, vê-se que, para os que até então haviam vivido sem preocupações que terão de se adaptar aos tempos duros. A própria História nos ensina isso. Quando há guerras e invasões, as pessoas ricas e pobres se veem privadas de seus lares, bens e até separadas de seus familiares e, para aqueles que nunca haviam nem sequer lavado um prato, tudo será mais difícil. Podem até se tornar mais fortes e maduras, porém sofrerão mais do que quem sempre teve de trabalhar duro. Um bom exemplo é o filme ...E o vento levou. Scarlett O’hara, filha de um rico fazendeiro que cultivava algodão e tinha um monte de escravos, sofreu duramente ao ver seu mundo destruído pela Guerra da Secessão. A filha mimada do fazendeiro, que até então só tinha como ocupação brincar com seus muitos cortejadores, precisou se deparar com uma dura realidade. Ela se reergueu, é verdade, com força, inteligência (e uma boa dose de falta de escrúpulos), entretanto sabemos bem que, para quem vivia numa situação de conforto e luxo, foi muito duro ter de se adaptar a uma nova e dura realidade.

Por isso, se você sente que estão lhe explorando e só lhe veem como um boboca útil a quem recorrem quando precisam, faça o que puder para mudar a situação. Se você mesmo não fizer algo, outra pessoa não o fará. E não tente mudar as pessoas que lhe sobrecarregam. Se tivessem consciência, não lhe explorariam. Se você ficar falando do quanto está cansado da sua situação, o mais provável será que zombem de você ou façam chantagem emocional, chamando-lhe de cruel e insensível por não se compadecer deles.

Aprenda algo bastante importante: você não é o gigante Atlas, tem sua vida para viver. É justo que você, apenas você, viva uma vida sacrificada para que outros possam desfrutar comodamente das benesses proporcionadas por sua boa vontade?