Vivendo na era da Fake News
Entre os inúmeros pensamentos de Cicero, um dos mais famosos filósofos da antiguidade, uma frase permaneceu até pouco tempo: “Ninguém acredita em um mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade”. Lamentavelmente o homem contemporâneo está mudando essa máxima, preferindo adotar a fraude como verdade absoluta.
Observemos o indivíduo que ao posar para uma foto murcha a barriga, usa filtros e recursos de edição e publica uma imagem perfeita, ilusória e totalmente distanciada da realidade. Certamente receberá milhares de elogios e compartilhamentos, inclusive de quem sabe que ele não é como na foto. Existem aqueles que utilizam as mais modernas maquilagens para transparecer uma beleza que não resistirá ao primeiro banho, mesmo assim despertam o desejo e admiração dos que sabem que aquilo é irreal, mas preferem acreditar na trama.
Na política não é diferente e os lobos conseguem artifícios que os transformam em lindos e meigos cordeiros. As últimas eleições nos Estados Unidos e no Brasil foram inundadas pelas chamadas “Fake News”. Foi um verdadeiro bombardeiro de notícias falsas, imagens manipuladas e postagens montadas para desconstruir pessoas, carreiras, discursos e formar celebridades, mitos e salvadores da pátria. Hoje restou evidenciado a grande farsa e a realidade cruel está estampada para quer quiser ver, mas como ensina o ditado: “O pior cego é aquele que não quer enxergar”.
Na realidade local não é diferente, quem circula pelos diversos municípios brasileiros encontrará peças publicitarias que transformam localidades atoladas em problemas, sendo divulgadas como verdadeiros paraísos de prosperidade e eficiência administrativa. Algumas chegaram a ter celebrações pelos mil dias de governo, que lembravam as fábulas das mil e uma noites. Como diz outro adágio popular: “maior mentiroso é aquele que acredita na própria mentira” e no próximo ano, certamente a maioria dos alcaides buscará a reeleição se apresentando como os melhores representantes da nova política.
O problema não é só de quem tem a coragem de sentar diante de um computador e passar horas forjando um post ou notícia falsa e sim dos milhões de cegos intelectuais que, lá no fundo, sabem que é mentira, mas preferem professá-la como verdade, replicando-a em suas redes. Se antes poderíamos ser manipulados por alguns setores da imprensa, atualmente somos escravizados pela massificação da lorota nas mídias anti-sociais, entupidas por manchetes e notícias mocas que não resistiriam a trinta segundos de lucidez.
É triste presenciar o bom cidadão se prestando ao papel de multiplicador de teorias absurdas e lesivas aos princípios básicos do respeito, tolerância, cordialidade, dignidade e humanidade. Ao propagar uma fake news, muitas vezes pessoas que vivem arrotando moralidade em suas redes, estão praticando um crime de maior poder ofensivo do que os que elas criticam quando realizados por outrem.
Precisamos enfrentar o desafio de construir uma sociedade que seja bem informada e dotada de senso crítico para, ao acompanhar os fatos, fazer o devido juízo de valor e adotar posicionamentos que não sejam viciados ou deturpados.