Sobre ser mulher negra

Em alusão ao mês da consciência negra é importante fazermos algumas reflexões sobre o lugar de fala da mulher negra na sociedade brasileira. Escrevo esse texto por entender que as mulheres não são universais. Enquanto mulheres carregamos em sobre nossas costas a culpa de tantas desculpas por termos nossos corpos serem violentados e no caso das mulheres negras esse peso é ainda maior porque desde do período da escravidão é naturalizado a violação dos corpos negros.

A cantora Elza Soares define muito bem em sua música que a carne mais barata do mercado é a carne negra! Infelizmente a nossa sociedade é pautada no racismo, machismo e patriarcado. A escritora Vilma Piedade relata que para além da sororidade um dos elos que une as mulheres negras é a DORORIDADE ou seja a DOR que todas nós sentimos por termos esse tom de pele. Não é exagero dizer que a carne mais barata do mercado e a carne negra e principalmente a carne da mulher negra. Pois de acordo a pirâmide social relatada por diversos estudos a mulher negra está na base da pirâmide social, porque primeiro está o homem branco, depois a mulher branca, em terceiro lugar está o homem negro. Assim, a mulher negra sofre ainda mais por haver uma combinação de opressão que podemos elencar aqui; sofre por ser mulher, por ser negra e ainda temos a questão da classe social.

O atlas da violência de traz diversos indicadores de como e a situação das mulheres negras em nosso país, nos últimos 10 anos a taxa de violência aumentou 54%. Os feminicídio/homicídio não diminuiu 8% muito pelo contrário aumentaram para 15% em alguns estados esse indicador chega 50%. A exemplo dessa violência temos o caso da vereadora do estado do Rio de Janeiro, Marielle Franco, que foi brutalmente assassinada no ano de 2018. Ela é símbolo de RESISTÊNCIA! Pois além de ocupar um lugar de tomada de decisão na política ela também pautava a luta das mulheres negras dentre outras bandeiras dos direitos humanos.

E não paramos por aí, por mais que se tenha mais de 130 anos da abolição da escravatura as mulheres negras estão em situação de vulnerabilidade em acessar as políticas públicas. Parece inacreditável mas domésticas ainda têm cor, as violências obstetra tem cor, violência doméstica familiar tem cor e assim por diante.

Apesar dos pequenos avanços conquistados, ainda são necessárias muitas ações para a mudança desta perversa realidade, como por exemplo, garantir que a Lei 10.639, de 2003, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira, seja de fato aplicada em todas as escolas, como também a aprovação da lei complementar de número 150 que garante os direitos das empregadas domésticas efetivada em 2015. A conscientização da importância dos negros para a sociedade, por meio da educação, reforça a luta para vencer as desigualdades em nosso país

Portanto, é imprescritível paramos para refletirmos a história de resistência diária dessas mulheres! Enquanto mulheres negras lutamos contra o estereótipo de que não temos que ser forte o tempo todo, temos que a todo momento desenvolvermos estratégias para nos mantermos vivas diante de um sistema excludente e adoecedor.

Em tom poético mesmo diante de todas as questões, ser mulher negra é rasgar o mapa, traçar de novo a estrada, ver flores na cinzas e a vida reinventar!

JESSICA ROSANNE
Enviado por JESSICA ROSANNE em 04/11/2019
Reeditado em 04/11/2019
Código do texto: T6787160
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