IDIOTAS ÚTEIS
Recentemente o capitão da Nau sem rumos, em franca discordância da classe estudantil em manifestação pública pela manutenção dos seus direitos, tachou àqueles que participavam do dito protesto como idiotas úteis.
Tencionou o Capitão atacar indistintamente a todos desnudando sua arrogância e dificuldade de assimilação à crítica de quem se sente prejudicado nos seus direitos mais básicos, afirmando que quem faz manifestação está à disposição de quem a promove, levado como cordeirinho imolado.
O mundo está cheio de idiotas, uns úteis e outros inúteis. Aqueles sempre funcionam como sustentáculo de sistemas políticos que trazem a morte no bojo de sua gestão. Estes, os inúteis, quando já não servem aos propósitos do tal sistema são trocados sem nenhum pudor, cerimônia ou estado consciencioso da promoção da maldade.
Na Alemanha o nazismo promoveu a matança indiscriminada de gente de todos os matizes. Havia também aqueles que eram retirados da sociedade e mortos por não terem serventia alguma, doentes mentais principalmente. Por aqui o Capitão alcunha quem pensa diferente de si como doente mental e age para exterminar, ao menos, na retirada de direitos que leva essas pessoas à cova rasa em pouco tempo.
Na Alemanha nazista, na Itália fascista, no regime stalinista ou na China de Mao, dentre outros, quem pensava dissonante era tido como incômodo ao regime, um idiota que deveria ser exterminado. No Brasil hodierno não é diferente. É idiota útil quem cala ante a perda de seus direitos quando dá razão às posições rancorosas de quem os tira e além disso mitifica certas autoridades e pessoas da política como ungidas de Deus para ‘guiar’ seu povo tirando-o do caminho da perdição.
Os descalabros da classe política tornam a sociedade carente e proporcionam viver numa coletividade onde poucos mandam em detrimento dos muitos que obedecem. Estes se tornam idiotas úteis, pois servem ao sistema político-financeiro sem maiores questionamentos e até perderam a capacidade de indignação.
Esses idiotas úteis não agem ou pouco reagem porque esperam a reação do vizinho para tomarem posição. Esquecem-se que podem mudar a ordem das coisas a partir da arma quem têm, a voz, e também da capacidade eleitoral ativa, o voto consciente escolhendo pessoas sérias e compromissadas. E como saber? Jesus falou da árvore boa que dá bom fruto.
Houve um tempo em que os não idiotas eram cognominados de subversivos por discordarem da Ordem estabelecida. Este tempo, a partir da Nova Política, voltou. Voltaram também todos os tipos de desfazimentos das políticas públicas edificadas pela sociedade outrora noutros governos.
Agora manda a família que tem pitbull e o caudilho governa como alguém sob o signo da dúvida e da ameaça. Um dia faz afirmativas vãs e no mesmo dia as desdiz expondo um governo que insiste em reformas precisando ele mesmo ser reformado.
Os idiotas úteis, aos quais se referiu o Capitão, estão a cobrar seus direitos. Diferentes dos idiotas úteis ao seu governo que são defenestrados quando já não o servem a contento.
Reagir é preciso diante de tanto desatino de um mandatário despreparado, não vocacionado ao cargo supremo do país montado numa cadeira presidencial que diz ter ‘kriptonita’ em seu assento, e cujo ideólogo é alguém que escolheu o chão estrangeiro para morar.
Vive-se no Brasil uma idiocracia jamais vista. Nem nos tempos do general Figueiredo, que disse ser melhor o cheiro dos seus cavalos ao cheiro do povo. É imperativo não ser nem parecer idiota útil a ninguém, principalmente perante um governo profundamente comprometido com ideais neofascistas que tenta transformar idiotas úteis em idiotas inúteis.