Influência da Maçonaria na Independência do Brasil: Proclamação ocorreu numa Loja Maçônica
O dia 07 de setembro é uma data expressiva para a Maçonaria, instituição que contribuiu diretamente no processo de emancipação política do Brasil. Cabe explicar que a “Independência” não foi um ato isolado do então príncipe regente, Dom Pedro. Foi, sim, o resultado de uma ação decisiva da Maçonaria Brasileira, através do Grande Oriente Brasílico, instalado em 17 de junho de 1822 (*), no Rio de Janeiro.
Um conjunto de fatores e acontecimentos contribuiu para despertar o sentimento de patriotismo e acender os ideais de liberdade e independência, como:
a) As transformações ocorridas na metade do século XVIII e início do século XIX;
b) As sucessivas crises do Antigo Sistema Colonial;
c) A decadência do Antigo Regime Europeu, debilitado pela Revolução Industrial (Inglaterra);
d) A difusão do liberalismo econômico e dos princípios iluministas – que juntos formaram a base ideológica para a independência dos Estados Unidos (1776) e para a Revolução Francesa (1789); e
e) As revoltas das colônias espanholas por toda a América Latina.
Na verdade, o movimento pela Independência do Brasil começou a tomar vulto na Europa, sobretudo na França, onde foram estudar os filhos das famílias brasileiras mais abastadas. Lá, eles tiveram os primeiros contatos com as teses do liberalismo econômico, pregadas pelo filósofo e economista britânico Adam Smith - “Pai da Economia Moderna”.
Na Europa, esses estudantes também conheceram as ideias libertárias de filósofos como Voltaire (François-Marie Arouet), Montesquieu (Charles Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu) e Jean-Jacques Rousseau, que questionavam o despotismo monárquico e pregavam os princípios da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” (slogan que se tornou o grito de ativistas em prol da democracia liberal ou constitucional e da derrubada de governos opressores).
Ao regressarem ao Brasil, esses intelectuais, que em grande parte pertenciam aos quadros da Ordem Maçônica, foram os principais divulgadores do pensamento liberal que então dominava o mundo. Esse caráter internacional da Maçonaria, segundo Sérgio Buarque de Holanda (1960), concedia força e prestígio à instituição para a divulgação dos ideais da independência.
As ações pela independência foram marcadas por inúmeros movimentos sociais que questionavam o pacto colonial e assumiam um caráter republicano, a exemplo da Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração do Rio de Janeiro (1794), da Conjuração Baiana (1798), da Conspiração dos Suassuna em Pernambuco (1801) e da Revolução Pernambucana (1817).
Fracassada a Revolução Pernambucana (movimento emancipacionista também conhecido como “Revolução dos Padres”, que eclodiu em 06 de março de 1817), o rei Dom João VI expediu, em 30 de março do ano seguinte, um alvará proibindo o funcionamento das “sociedades secretas”. Diante disso, a Maçonaria entrou, oficialmente, em recesso. Mas, “secretamente”, continuou os seus trabalhos no Clube da Resistência, fundado pelo maçom José Joaquim da Rocha e que funcionava na sua própria residência.
De acordo com Castellani (2000), o Clube da Resistência foi a fornalha da insurreição até 02 de junho de 1821, quando a Loja Maçônica Comércio e Artes foi reinstalada na casa do comandante Domingos de Ataíde Moncorvo, na Rua de São Joaquim, esquina com a Rua do Fogo, no Rio de Janeiro; voltando, abertamente, a atividade política em prol da Independência.
Esta Loja, juntamente com outras oficinas instaladas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, teve decisiva participação no episódio histórico do “Fico”, de 09 de janeiro de 1822, ao conseguir um abaixo-assinado com oito mil assinaturas, que foi levado pelo maçom e presidente do Senado, José Clemente Pereira, a Dom Pedro, solicitando a sua permanência no Brasil.
INDEPENDÊNCIA FOI PROCLAMADA NUMA LOJA MAÇÔNICA
De acordo com Lauro Della Mônica (2000), o grito de independência dado por Dom Pedro, no dia 07 de setembro de 1822, foi uma mera confirmação. Na verdade, a independência do Brasil foi proclamada em 20 de agosto de 1822, nas dependências do Grande Oriente Brasiliano, durante uma reunião extraordinária.
Na ocasião, o 1º Grande Vigilante, Joaquim Gonçalves Ledo, substituindo o grão-mestre José Bonifácio de Andrade no comando dos trabalhos, proferiu um discurso expondo aos Irmãos presentes, a necessidade da imediata proclamação da Independência do Brasil. Colocada em votação, a proposta foi aprovada por unanimidade.
Tenório D’Albuquerque (1957) presume que uma cópia da ata dessa reunião tenha sido enviada a Dom Pedro, juntamente com outros documentos e correspondências da Corte, que o alcançaram na tarde do dia 07 de setembro, às margens do riacho Ipiranga, quando ele resolveu declarar a Independência.
(*) Os autores divergem com relação à data de instalação do Grande Oriente Brasílico. Alguns citam 17 de junho de 1822 - data em que a Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, decidiu em sessão extraordinária, presidida por João Mendes Viana, pelo desdobramento do seu quadro de obreiros (por sorteio) para a criação de outras duas Lojas: “Esperança de Niterói” e “União e Tranquilidade”. Juntas, fundaram o Grande Oriente Brasílico.
Mas também há autores que citam a instalação como sendo em 02 de junho de 1822, data da fundação e instalação do “Apostolado” - denominado Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz, uma organização nos mesmo moldes da Carbonária europeia, liderada por José Bonifácio de Andrade e Silva.
BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Gustavo. História Secreta do Brasil. Vol 1 e 2. Ed. Civilização Brasileira. 1937.
CASTELLANI, José. História do Grande Oriente do Brasil - A Maçonaria na História do Brasil. Ed. Madras. 2004.
CASTELLANI, José. Os Maçons na Independência do Brasil. Ed. A Trolha. 2000.
CASTELLANI, José. A Maçonaria Brasileira na Década da Abolição e da República. Ed. CopyMarket.com. 2000.
D'ALBUQUERQUE, A. Tenório. A Maçonaria e a Independência do Brasil - www.geocites.com/paris/maison/3665/independencia_1.htm. Pesquisa em: 02.03.2002.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. Bertrand Brasil. 1960.
MONICA, Lauro Della. A Maçonaria no Brasil e a Independência - www.acolmeia.com.br/acolmeia05/historiamacbrind(1).htm. Pesquisa em: 27.02.2002.