Ser jornalista nunca foi fácil
Não é de hoje que o jornalismo brasileiro tem passado por uma severa crise em vários aspectos. Nos últimos anos, nós vimos grandes veículos de comunicação praticamente fechando as portas e, com isso, inúmeros profissionais perderam seus empregos. O jornalista enfrenta ainda uma absurda desvalorização, sendo obrigado a aceitar uma remuneração que não condiz com sua carga de trabalho (eu mesma já vi inúmeras vagas de empregos que ofereciam R$ 1.000,00 como "salário"). Além disso, o profissional encara os desafios relacionados à violência contra a liberdade de expressão, o que gera, entre vários exemplos, as perseguições (o número de profissionais mortos, infelizmente, sobe a cada ano).
Há os velhos e novos desafios na profissão. Atualmente, eu posso contar nos dedos a quantidade de meus colegas da faculdade (e entre outros conhecidos) que conseguiram trabalhar com o "jornalismo tradicional" (ou seja, aquele sonho de trabalhar, escrever, fotografar, filmar para um meio de comunicação legal e/ou ser um bom assessor de imprensa). Aliás, tenho observado uma grande migração de jornalistas para outras áreas da comunicação, especialmente para o marketing. Os jornalistas precisaram de se "readaptar" para sobreviver, uma vez que o "jornalismo tradicional" tem se mostrado uma profissão falida (e, talvez, prestes a ser extinta, segundo alguns). É triste ter que dizer isto, mas tudo o que se aprende ao longo dos quatro anos de faculdade é simplesmente jogado no lixo na prática. Afinal, os jornalistas tiveram até mesmo que "aprender a escrever" nesta altura da vida (já faz bastante tempo que o "lead" deixou de ser apenas a primeira parte de uma notícia). E a ética jornalística que aprendemos com tanto carinho e admiração na faculdade? Pois é... Talvez essa seja quem mais sofre nesta história.
No entanto, a culpa não é somente da "crise" ou da nova tendência do mercado. O fato é que, para trabalhar com jornalismo, não basta ser apenas bom ou excelente: é preciso ter o tal do "Q.I" ("quem indica"). Isso não é novidade. Mesmo se você tenha conseguido ótimos estágios durante a graduação, infelizmente, isso não é mais o suficiente. É óbvio que essa situação deve acontecer em todas as profissões, mas como eu estou inserida neste ramo específico, observo esse fato com frequência há muito tempo. Aliás, quantos "processos seletivos" para atuar em redações de jornais ( sejam "grandes" ou "menores") você já viu? Ás vezes, até mesmo para trabalhar como um assessor de imprensa em uma instituição pública (como as prefeituras, por exemplo) ou privada, é imprescindível ter uma boa indicação ("boa", não: uma BAITA de indicação!). E quando porventura aparece um "processo seletivo", há ainda o risco de ele servir apenas "para inglês ver".
Apesar da desvalorização da profissão e entre outros desafios aqui citados, um fato inegável (e curioso) é que o curso continua concorrido e as salas de aula das faculdades de jornalismo continuam cheias - cheias de jovens idealizadores que aspiram a trabalhar com aquilo que amam (assim como eu). Não considero esses futuros profissionais de "iludidos", "inocentes" ou algo assim. Na verdade, é esse sonho de ser jornalista, essa intensa paixão pela profissão, é o que ainda me dá esperanças por dias melhores. Apesar das dificuldades, jamais me arrependi por ter escolhido o jornalismo (e certamente nunca me arrependerei).
Por fim, gostaria de ressaltar que meu objetivo aqui não é desencorajar ou amedrontar ninguém (afinal, cada um tem/faz a sua própria sorte). Além disso, eu acredito ainda que há pessoas verdadeiramente profissionais que saibam reconhecer o talento e a dedicação do próximo, sem precisar de alguém que lhe diga para contratar "x" ou "y". Meu discurso aqui pode parecer de alguém fracassado e/ou frustrado (o que não deixa de ser totalmente verdade...). Ás vezes, o realismo se confunde mesmo com o pessimismo e vice-versa. Ser jornalista é difícil? Sim, mas não impossível. E como já dizia Fernando Pessoa, "valeu a pena? tudo vale a pena se a alma não é pequena".