Sobre a execução do PM João Maria Figueiredo e a importância de movimentos como Policiais Antifascistas na atual conjuntura

Presenciar o assassinato de pessoas que lutam pelos direitos sociais sempre foi realidade no Brasil, no entanto, percebemos que esta tônica tem se intensificado nos últimos tempos. Não sabemos muito bem como e quando isso vai parar. O medo assola aqueles que lutam pela democracia e pela vida dos que historicamente foram excluídos. Corajosos que enfrentam as injustiças do sistema, que deveriam receber aplausos pela atuação e pela luta, tem perdido suas vidas.

O caso mais recente é do cabo João Maria Figueiredo de 36 anos que atuava na Polícia Militar do Rio Grande do Norte. João foi brutalmente assassinado. O que se sabe é que levou 7 tiros, sendo quatro na cabeça. Ele é reconhecido por ser o fundador do grupo Policiais Antifascistas, movimentoque atua dentro da corporação militar. Figueiredo era policial desde 2009 e resolveu fundar o grupo após ter sofrido racismo dentro da polícia. "Ele era um homem negro e por isso atuava com o tema dos direitos humanos, sensibilizando a corporação e a sociedade", enfatizou a sargenta Regina da Policia Militar do Rio Grande do Norte.

Em setembro deste ano, reunidos em um seminário na cidade do Rio de Janeiro, na sede da OAB, o movimento deliberou um manifesto visando divulgar as pautas e a reivindicação para o conhecimento de todas as categorias policiais, movimentos sociais e instituições interessadas na luta antifascista e na construção de uma sociedade mais justa. O manifesto tem sete itens que ajudam a entender a luta do movimento e em seu texto anuncia que o "fascismo é um modo de vida, que se manifesta como reação violenta de ódio às diferenças, apontando a guerra, as armas e o sistema penal como solução para problemas sociais, esvaziando as ações politicas que efetivamente podem realizar transformações sociais."

Destaca que o Movimento Policiais Antifascismo se coloca, neste momento histórico de crescimento do autoritarismo no Brasil, como uma força viva contra estas manifestações, na perspectiva da construção de uma política de segurança pública democrática e pautada na garantia dos direitos humanos para todos. Ressaltam também, os problemas de violência que a população preta, pobre e periférica sofre, assim como os erros em torno da política anti drogas no Brasil, que pune somente os mais fracos, sem direcionar a solução onde habita a verdadeira raiz do problema.

João teve uma fala importante em março deste ano, no Fórum Social Mundial na Bahia, cujo um dos temas tratou da violação dos direitos humanos nas corporações, quando falou sobre o risco de morte que poderia passar.

Por que só ouvimos falar de pessoas como João quando o perdemos? Tem um livro sobre Carolina Maria de Jesus que se chama "Uma escritora improvável". Carolina era negra, pobre e favelada. Improvável que seu livro "Quarto de Despejo" se tornasse um best seller. E tornou. O Brasil está repleto de corajosos improváveis: A irmã Dorothy Stang que morreu por lutar pelos direitos à terra dos povos na Amazonia, a vereadora Marielle Franco que denunciava a violência das favelas no Rio e agora o João Maria Figueiredo policial militar atuante contra o fascismo nas corporações militares.

Chamar a todos os políticos de corruptos, a todos os norte americanos de aproveitadores dos subalteros e a todos os policiais de violentos é deixar de valorizar pessoas brilhantes como Marielle Franco, a missionária norte americana Dorothy Stang e o policial João Figueiredo. Generalizar não nos ajuda a ver o problema em seu contexto.

Pensar sobre mais de um angulo e evitar o pensamento totalitarista é uma das contribuições mais importantes que a filósofa política alemã Hannah Arent nos deixou. A pensadora defende que todos nós paremos para pensar em nossas ações e reflitamos sobre elas para saber porque agimos como agimos e para onde queremos ir quando agimos. Sobre as ações que envolvem o outro, Arendt foi enfática: para evitar a banalidade do mal é preciso pensar. Somar a luta de Marielle, de Dorothy, de João, para uma polícia mais humana e mais justa só é possível, se pararmos para pensar.

Lutar contra o fascimo nos exige superar a banalidade do mal e reinvidicar que pessoas como estes guerreiros citados tenham suas vidas protegidas. Muitos já perderam suas vidas, muitos outros estão na iminência de perdê-las.

É preciso que nos juntemos contra assassinatos políticos e pela democracia e segurança de nosso país. Para saber mais:

https://www.facebook.com/policiaisantifascismo/

http://policiaisantifascismo.blogspot.com/2018/03/manifesto-dos-policiais-antifascismo-o.html