Triste realidade!

Quando eu vejo imagens divulgadas pela organização internacional não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), eu vejo a solidariedade humana e obtenho, mais uma vez, a confirmação da dureza do coração de pessoas que vivem no luxo, na riqueza e no amor ao poder.

Eu respeito todo mundo, mas a verdade precisa ser dita: é impossível ser rico de forma justa, pois o enriquecimento de um significa o empobrecimento de muitos. Ninguém enriquece sem usar pessoas para o próprio enriquecimento. De onde vem a riqueza? Do lucro. De onde vem o lucro? Da obtenção de vantagens sobre outras pessoas.

O 1% mais rico do mundo detém uma riqueza correspondente ao que os 99% restantes possuem. Digo com outras palavras: a riqueza que 99% da população mundial possuem é igual à riqueza que se encontra em apenas 1% da população. Saiba mais: as 62 pessoas mais ricas do mundo possuem a mesma riqueza que a metade da população mais pobre detém.

A desigualdade está aumentando: em 2010, a riqueza correspondente à metade da população mais pobre do mundo estava concentrada em 388 pessoas. Outra informação: a riqueza do 1% mais rico está aumentando desde 2009.

Gandhi escreveu: "Todo ser humano tem o direito de viver e, portanto, de encontrar o necessário para alimentar-se, vestir e habitar. Para essa incumbência tão simples, não precisamos da ajuda dos economistas e de suas leis". Infelizmente, onde falta justiça nas mentes e nos corações, isso é complexo, digo eu.

Gandhi disse: "O meu ideal é uma distribuição em igualdade, mas, pelo que vejo, ela não está em via de atuação. Por isso, trabalho por uma distribuição equitativa", ou seja, Gandhi lutou por uma distribuição justa. Segundo ele, "o amor e a posse exclusiva não podem andar de acordo". De acordo com esse grande e admirável homem, "trabalhar pela igualdade econômica significa abolir o eterno conflito entre capital e trabalho. Quer dizer, por um lado, baixar os poucos ricos em cujas mãos se concentra a maior parte da riqueza da nação e, por outro lado, levantar os milhões de indivíduos nus e semiesfomeados. O sistema de governo não violento é, evidentemente, impossível enquanto persistir o profundo abismo entre os ricos e as multidões de esfomeados".

Infelizmente, muitos pobres são defensores dos ricos. Muitos pobres ficam contra os pobres. Poucos ricos agem em benefício dos pobres, mas milhões (no Brasil) ou bilhões (no mundo) de pobres agem em benefício dos ricos. Gandhi deixou escrito: "Deveríamos ter vergonha de repousar e tomar refeições abundantes até o dia em que exista um só homem ou uma só mulher sem trabalho e sem comida".

Milhões de seres humanos morrem e correm o risco de morrer de fome no mundo. Será que os ricos vão ser enterrados com o luxo e a riqueza que possuem? Será que estão adquirindo riquezas e aumentando o que têm com a finalidade de levarem seus bens materiais para a cova, quando morrerem, e para que suas almas não sofram necessidade ou fome no outro mundo?

Continuo citando um dos homens nos quais eu me inspiro para pensar, sentir, agir e viver. Continuo citando Mahatma Gandhi. Ele nos diz: "Não posso imaginar uma época em que nenhum homem seja mais rico que outro. Mas imagino uma época em que os ricos terão vergonha de enriquecer à custa dos pobres, e os pobres deixarão de invejar os ricos".

Infelizmente, muitos pobres têm a mentalidade de rico. Muitos pobres desejam ter a vida que os ricos têm. Por isso, muitos pobres são bajuladores dos ricos. Eles querem pelo menos o cumprimento dos ricos e receber o vento que passa pelos possuidores de riqueza. Muitos pobres se consideram mais importantes quando recebem um aperto de mão, um abraço, um elogio, um pouco da atenção dos ricos. Eu, porém, não me sinto bem perto de nenhum rico, mas eu não os odeio. Eu sou imperfeito, mas não odeio ninguém. Eu não alimento o ódio. Eu não quero me alimentar com veneno, e ódio é veneno.

Os políticos vivem à custa dos pobres, mas muitos pobres amam (que amor abjeto!) bajular políticos. Há políticos que dizem não abrir mão de suas regalias injustas, mas encontram milhões de bajuladores. Um político afirmou que "a única utilidade do pobre é votar com o título de eleitor na mão e o diploma de burro no bolso". Esse político tem a proposta de eliminar a violência e a miséria através da pena de morte, da redução da maioridade penal e da esterilização de homens e mulheres pobres. Segundo ele, os ricos sabem ter filhos, mas os pobres não o sabem. Segundo ele, há negros possuidores de tantas arrobas, que não servem mais nem para procriar. Apesar de tudo, esse político foi eleito para a Presidência do Brasil. Foi eleito por favorecer os ricos e com o voto de muitos pobres.

Gandhi diz: "Quem é rico possui um monte de coisas supérfluas. Se cada um tivesse só aquilo de que precisa, a ninguém faltaria nada e todos se contentariam". Mas muitas pessoas nunca se contentam com o que têm. São tão carentes de amor por si mesmas e de riqueza interior, que precisam acumular bens materiais para esquecerem sua miséria íntima. Esquecem-se de si mesmas. Nunca estão satisfeitas, por mais que tenham coisas. O filósofo sábio Epicuro disse: "Nada é suficiente para quem julgar o suficiente demasiadamente pouco". Triste realidade!

Concluo com uma afirmação de Mahatma Gandhi: "Todo aquele que possui coisas de que não precisa é um ladrão".

Pastos Bons/MA, 17 de novembro de 2018.

Domingos Ivan Barbosa

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 17/11/2018
Reeditado em 17/11/2018
Código do texto: T6504807
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