QUEBRANDO PARADIGMAS
QUEBRANDO PARADIGMAS
A.S.R. de 39 anos, espancou, torturou, escalpelou sua companheira de 18 anos de relacionamento. O motivo: o feijão não estava bem cozido.
A violência contra a mulher é uma forma de soberania masculina aceitável pela sociedade, pois os agressores são encontrados em todos os níveis, sejam culturais, sociais ou de classes. O homem que age com violência contra a mulher é o mesmo que levanta cedo e vai trabalhar. Aquele que frequenta as reuniões de família e da escola dos filhos. Suas ações e o modo de se vestir, são socialmente aceitas. É ao chegar em casa que seu comportamento muda para manter o seu posto de autoridade máxima, e assim torna-se agressivo.
Segundo o psicólogo Leandro Feitosa, coordenador do grupo reflexivo para homens enquadrados na lei Maria da Penha no Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, o que move a violência é a incapacidade do homem de lidar com a situação de forma diferente. Faltam recursos para contornar o problema vigente. E o pensamento de que o homem tem o papel de provedor e é o responsável pela boa ordem familiar, levam-no a lançar mão da agressividade e da violência para fazer valer a sua voz.
Em 2016, uma revisão sistêmica da literatura científica internacional, foi feita por pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), onde foram analisados 33 artigos publicados mundialmente entre os anos 2000 e 2010. Embasados neste material, os pesquisadores observaram que, apesar de a maioria dos analisandos terem entre 25 e 30 anos, baixo nível de escolaridade e situações socioeconônicas, havia agressores de condições financeiras, de escolaridades, de várias idades e situações profissionais e ocupações no âmbito do trabalho. O que lhes deu a entender que, o homem violento é aquele que, de alguma forma, se sente injustiçado e o que se aponta como crime é o jeito que o faz sentir que é homem.
O crime de violência contra a mulher é uma questão cultural, como menciona a juíza Teresa Cristina Cabral Santana Rodrigues dos Santos, integrante da Comesp (Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Estado de São Paulo). E para combater esta condição, o homem precisa aprender um novo papel e os grupos reflexivos podem contribuir neste processo. A desmistificação de quem é o agressor leva à compreensão deste novo paradigma. Justifica que, em 4 anos de encaminhamento de homens enquadrados na lei Maria da Penha, ao grupo reflexivo “E Agora, José?” de Santo André (SP), não chegou nenhum caso de reincidência.
Foi promovida uma quebra de paradigmas!
Mírian Cerqueira Leite