O CONTINENTE AFRICANO

Andréia Silva tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a geografia da África, bem como o processo de ocupação territorial, a exploração econômica e o domínio político vivido pelo continente. Com um arcabouço bibliográfico ricamente organizado Andréia, visa percorrer pelos inúmeros choques sociais, políticos e culturais; causados pela exploração humana, comercial e pela divisão arbitrária do território pelos países europeus, resultando na fragilidade dos estados nacionais africanos. Explicitando a intervenção do estado, nas regiões colonizadas e sua contribuição para modificar as relações sociais e sua interferência na construção do espaço geográfico.

A concepção que muitos têm sobre o continente africano é de guerras, de conflitos étnicos, de pobreza e de paisagens peculiares, como as florestas, savanas e grandes desertos. Sabemos que existe uma África que rompe com todos os estereótipos, com o etnocentrismo que insiste em classificar uma região com relação a valores pertencentes a outras.

A África é uma massa de terra emersa contínua, com cerca de 30,2 milhões de km², o que corresponde a 22% das terras emersas do planeta. O território africano tem 8.050 km no sentido norte-sul e 7.560 km no sentido leste-oeste. Possui uma população de mais de 1 bilhão de habitantes, correspondente a 14% da população mundial (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008, p.6).

Nas regiões áridas e semiáridas, a hidrografia é formada basicamente por rios temporários, afloramentos de água (oásis) e alguns lagos, dos quais se destacam "o Tana, o Rodolfo, o Alberto, o Eduardo, o Vitória, o Tanganica e o Niassa." (BARSA, 2002, p. 115, v. 01).

Segundo Adas (2011), o principal rio africano, o Nilo, com 6.671 quilômetros, é resultado da confluência de cursos de água que nascem em planaltos. “No Planalto vulcânico da Etiópia, nasce o Rio Nilo Azul, que se desloca em direção ao noroeste, desaguando no Rio Nilo Branco, cuja nascente está no lago Vitória”.

Diversas literaturas destacam as consideráveis modificações no Rio Nilo, tudo em nome do desenvolvimento, pois os governantes do Egito fizeram um investimento bilionário para construção da gigantesca usina de Assuã. Surgindo o problema com relação ao acúmulo de água em regiões quentes, fator crucial para a limitação da produção agrária nestas regiões.

O problema com relação à escassez de água, a salinação do solo, a proliferação de insetos nocivos a plantação e causadores de doenças, levaram milhares de famílias egípcias a abandonar suas terras em busca de sobrevivência nas cidades; promovendo o êxodo rural e os conflitos da super população. A desigualdade social é um elemento causador dos conflitos que circunda a sociedade africana; resultando na falta, ou a má utilização dos recursos hídricos.

O Rio Nilo tem significativa importância para a civilização que se desenvolveu nessa região no passado até os dias atuais, de acordo com Vesentini e Vlach (2009, p.201) isso "explica porque a maioria da população das principais cidades do Egito (Cairo, Alexandria, El Giza) e do Sudão (Crtum e Ondurman), está situada às suas margens.”

A busca pelo progresso tecnológico resulta na construção de hidrelétricas que infelizmente promove o deslocamento da população ribeirinha, alagamento de áreas férteis, alteração da biodiversidade aquática, dentre uma série de fatores que não são levados em consideração no momento dessas construções.

Segundo Ajayi (2010, p 851), "Quando descobriram que os numerosos estuários do delta eram vias de acesso ao grande rio Níger, os ingleses redobraram o interesse por uma região que lhes abriria a rota, rumo as ricas extensões territoriais interioranas da Nigéria e da África Ocidental.”

A África que poucos conhecem não se fecunda simplesmente no contexto árido e desértico, sendo banhada por volumosos rios como Nilo, Congo e Níger. Apesar de caudalosos em geral, os rios africanos não têm bons leitos para navegação, devido ao relevo acidentado de seus cursos inferiores, com consideráveis cascatas e corredeiras. Refletindo na pluviosidade na África, que é bastante desigual, sendo o fator responsável pelas diferenças entre as paisagens africanas. Ocorrendo chuva em abundância na região equatorial, mas escassas nas proximidades do Trópico de Câncer, onde se localiza o deserto do Saara.

O espaço geográfico africano em algumas regiões foi de suma importância para a ocupação e desenvolvimento econômico em relação a outras que por diversos elementos já citados acima são prejudicadas.

Assim podemos afirmar que a diversidade socioeconômica africana é o reflexo do espaço geografica e a interferência dos colonizadores Europa, Estados Unidos, Japão e China.

Segundo Vesentini e Vlach (2009) podemos dividir o continente africano em cinco grandes conjuntos regionais: África setentrional ou do norte, África ocidental, África central, África oriental e África meridional ou austral.

Os dilemas vividos pelos povos e as enormes desigualdades sociais internas só podem ser entendidas através das modificações introduzidas na África pelos colonizadores. O continente possui características étnicas, históricas, culturais e socioeconômicas que foram divididas em dois grandes conjuntos regionais: África Subsaariana e África Setentrional ou do Norte.

A migração e o deslocamento de povos é o contexto que circunda a história deste continente ocupado por "negróides, caucasóides, etíopes, bosquímanos, pigmeus e, em épocas mais recentes, mas ainda pré-históricas, mongolóides." (BARSA, 2002, p.127). As migrações internas e externas no continente africano é um dos grandes fatores que prejudicaram a economia dos países africanos.

Em sua narrativa Andréia cita a importância dos mulçumanos e europeus na construção do contexto africano. Os povos do Oriente Médio e Mediterrâneo levaram para a região norte da África seus costumes, crença, comida, enfim, o seu modo de vida.

O Tratado de Berlim foi também um dos elementos de grande transformação na organização política, econômica e cultural da maioria dos povos africanos. Uma divisão que causou dor, conflitos, um ranço que marcou a história da África. O movimento europeu em prol do poder resultou na reorganização do espaço africano de acordo com seus interesses capitalista.

Mas os chefes africanos não aceitaram esta reorganização desfavorável das suas comunidades, surgindo uma relação amistosa, partindo os europeus para o confronto militar, objetivando a dominação territorial.

A luta pela sobrevivência, a disputa pelo poder territorial, a interferência geografica, geológica; são uns dos principais elementos para a construção de uma África heterogênea. Um continente marcado pela dominação, exploração, guerras, exílio da igualdade humana, fragmentação da língua, da política, das estruturas econômicas e sociais. Um mosaico sócio-cultural que ao longo da história sofreu e sofre interferências que limitaram a possível homogeneidade.

Referências

ADAS, Melhen.; ADAS, Sergio. Expedições geográficas. São Paulo: Moderna, 2011.

AJAYI, J. F. Ade (Org.). História geral da África, v. VI — África do século XIX à

década de 1880. Brasília: UNESCO, 2010. 1003p.

ATLAS National Geographic - África I. São Paulo: ATLAS National Geographic, abril,

2008. v. 9.

FAGE, J.D., História da África, Lisboa: Edições 70, 1995.

KI-ZERBO, Joseph, História geral da África, I: Metologia e Pré-história da África/ editado por Joseph. Ki- Zerbo.2º Ed. Ver. Brasília:UNESCO, 2010.

LAMBERT, Jean-Marie. História da África Negra, Editora Kelps, 2001

ENCICLOPÉDIA Barsa. São Paulo: Barsa Planeta Internacional Ltda, 2002. v. 01.

SILVA, Andréia. Continente Africano. Minas Gerais, 2014

SILVA, Andréia Souza. O Memorial Antonieta de Barros: como veiculo de disseminação

da informação. 2004. 57 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Centro de Ciências humanas e

da Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

THORNTON, John, A África e os africanos na formação do Mundo Atlântico, Rio de Janeiro & São Paulo: Campus Elsevier, 2003

VÁRIOS (um organizador por volume), História Geral da África, 8 volumes, Brasília: UNESCO/Ministério da Educação do Brasil/Universidade Federal de São Carlos, 2010 (pode descarregar-se na íntegra: ver ligação externas)

WALDMAN, Maurício & SERRANO, Carlos. Memória d'África: A Temática Africana em Sala de Aula, São Paulo: Cortez, 2007

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 12/10/2018
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