ELEIÇÕES 2018: ENTRE VENCEDORES E VENCIDOS, OS MAIORES DERROTADOS FORAM O IBOPE E O DATAFOLHA

*Por Herick Limoni

“Nada é mais perigoso do que a influência dos interesses privados nos assuntos públicos” – Jean-Jacques Rousseau, em O contrato social

Há tempos grande parte da população brasileira passou a desacreditar nas pesquisas eleitorais. E não é para menos. Poucos são os que conhecem ou já foram entrevistados em alguma das milhares de pesquisas eleitorais realizadas desde o chamado período de redemocratização, a partir das primeiras eleições diretas, pós regime militar, no ano de 1989.

Particularmente, sempre achei que tais pesquisas prestam um desserviço à democracia, em razão da influência que exercem em muitos daqueles que se encontram indecisos, e por tal motivo sou a favor de que elas sejam proibidas. Mas isso é uma opinião pessoal. Muitas pessoas, receosas de “perder o voto”, acabam por decidir em votar naquele que está mais bem colocado, e não são poucos os que conheço que aderem a essa maléfica prática.

Dentre os institutos de pesquisa mais conhecidos, e por consequência mais requisitados por candidatos e emissoras de televisão em períodos eleitorais, estão o IBOPE e o DATAFOLHA. Se tais organizações já não gozavam de muita credibilidade junto a boa parte da sociedade brasileira, em 2018 toda essa desconfiança virou certeza, colocando em xeque a lisura das pesquisas apresentadas. E razões não faltam para isso.

Há pouco mais de uma semana para o pleito eleitoral, as pesquisas apontavam que Jair Bolsonaro, candidato a presidente pelo PSL teria 32% dos votos válidos, estando em primeiro lugar, enquanto Fernando Haddad, do PT, teria 27% dos votos válidos, ou seja, a disputa se encontrava bastante acirrada. Nas apurações do dia 07 de outubro, o candidato do PSL por pouco não foi eleito em primeiro turno, finalizando com 46% contra 29% de Haddad. A hipótese de manipulação dos dados, nesse caso, não parece inverossímil.

No Rio de Janeiro, a eleição para governador também surpreendeu a todos que acreditaram nas pesquisas até então divulgadas. Também a uma semana do pleito, os dois institutos apontavam um segundo turno entre o ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, do DEM e o ex-jogador de futebol Romário, do Podemos, respectivamente. Mais uma vez ambos institutos deixaram muito a desejar, haja vista que não apontaram a ascensão do candidato Wilson Witzel (PSC), que encerrou o primeiro turno com expressivos 41,28% dos votos válidos, enquanto o provável segundo colocado, Romário, terminou o pleito em quarto, com inexpressivos 8,7% dos votos válidos.

Em mais uma derrota de tais institutos, dessa vez em Minas Gerais, as pesquisas apontavam, para o governo do estado, um segundo turno certo entre o senador Antônio Anastasia, do PSDB e o atual governador, Fernando Pimentel, do PT, enquanto o empresário estreante, Romeu Zema, do Novo, aparecia em terceiro lugar. Ao final das apurações, Romeu Zema encerrou o primeiro turno em primeiro lugar, com 42,73% contra 29,06% do segundo colocado, Antônio Anastasia. Fernando Pimentel, dado como certo no segundo turno, ficou em terceiro lugar.

Ainda em Minas Gerais outro erro crasso. Para o senado, as pesquisas apontavam a ex-presidente Dilma Roussef, do PT, com 27% dos votos válidos, enquanto o jornalista Carlos Viana, do PHS, e Rodrigo Pacheco, do DEM, disputariam a segunda vaga, ambos com aproximadamente 15%. Ao final das apurações, a virtual senadora ficou somente em quarto lugar, com 15,35% dos votos válidos. E os equívocos se repetiram em diversos outros estados.

Os dirigentes de tais institutos tentaram explicar, ao longo das horas que se seguiram após o resultado do primeiro turno, que o principal motivo das discrepâncias estaria no chamado voto útil, que é quando um eleitor deixa de votar no candidato de sua preferência para votar em outro, com o único fim de impedir que um terceiro seja eleito. Isso pode até explicar, mas não justifica. Tais pesquisas deveriam conseguir diagnosticar essa situação, haja vista que conseguem algo ainda mais surpreendente com suas fórmulas e coeficientes mirabolantes, em que uma amostra de duas mil pessoas num universo de mais de 200 milhões serve para representar a vontade do todo. Num país de tanta instabilidade e desesperança, hoje podemos dizer, pelo menos no que diz respeito às pesquisas eleitorais, que a desconfiança virou certeza.

E para os amigos leitores, um conselho: não deem tanta credibilidade às pesquisas, principalmente em períodos eleitorais. Ao contrário, procurem conhecer os candidatos, seu histórico e, principalmente, suas propostas. Talvez assim, e só assim, vocês conseguirão eleger pessoas que, de fato, irão representá-los, pois um político nada mais é que um representante daqueles que o elegeram.

E lembrem-se sempre, conforme nos ensina Alexis de Tocqueville: “a saúde de uma sociedade democrática pode ser medida pela qualidade de funções desempenhadas por seus cidadãos”. Então, exerça seu direito sagrado ao voto com qualidade nas próximas eleições.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas