HORA NOVA E HORA VELHA Uma moda com mais de cem anos

No ano corrente, em 25 de março, os relógios foram adiantados uma hora, no preciso momento em que soava uma hora da madrugada.

Se as coisas correrem como habitualmente, às duas horas da madrugada do dia 28 de outubro, os relógios serão atrasados em uma hora.

Como curiosidade, permito-me referir que a mudança da hora já ocorreu durante três dias, em períodos de vinte minutos por dia. Três dias de caos, como se imagina!

Com exceção dos viajantes aéreos, marítimos ou useiros em ferrovias, ninguém se levanta a meio da noite para dar corda aos relógios… até porque os utilizadores dos smartphones nem precisam!

Por causa da inclinação do plano da órbitra do movimento de translação da Terra relativamente ao seu eixo, no hemisfério norte os dias começam a diminuir de tamanho a partir do solstício de junho, e assim vão continuando até ao dia mais pequeno do ano, que é o do solstício de dezembro.

Nesta cadenciada e monótona evolução da duração do lapso de tempo em que o sol está acima da linha do horizonte, as noites e os dias têm a mesma extensão nos equinócios de março e de setembro.

Através da centenária manobra legal artificial da mudança da hora, em março, o nascer e o por-do-sol passam a verificar-se uma hora mais tarde, mas – como os dias crescem – as pessoas habituam-se.

Em outubro, o nascer e o por-do-sol passam a ser – por convenção – uma hora mais cedo.

Com exceção da Coreia do Norte, os países que nunca aderiram à hora de verão – e são muitos – situam-se todos demasiado próximo do equador para que tal medida seja relevante.

Na sociedade moderna em que tudo é posto em causa, pergunta-se se esta prática comum a mais de 70 países em todo o mundo e que Portugal já usa desde 1916, realmente poupa energia e se acarreta problemas para a saúde dos terráqueos, se a sua descontinuidade influenciará a segurança rodoviária e se a atividade agrícola ligada à pecuária pode vir a sofrer quebras.

A nível doméstico, a fatura energética carrega atualmente tantas taxas e impostos, consumos mínimos e obrigatórios e custos de contratos celebrados por um Estado em estado de necessidade, que se torna impossível atingir qualquer poupança sensível nas nossas algibeiras sem que o Estadão venha sentar-se de imediato à nossa mesa a regatear tais migalhas.

Os dados macroeconómicos revelam que o uso maciço e generalizado dos computadores, das televisões e do ar condicionado – que não depende da luz do dia – tornou a poupança de energia de iluminação praticamente irrelevante.

Contudo, ao prolongar o entardecer, os aborígenes podem aproveitar o brilho crepuscular extra para praticar desporto. Os turistas, alienígenas, podem manter-se na “baixa” citadina em atividades de consumo, boas para as localidades e para o país.

Relativamente à saúde, como alterar os ponteiros do relógio não equivale a criar uns minutos extra de luz do dia, o ritmo circadiano – também conhecido como relógio corporal – que é o ciclo que diz ao nosso corpo quando dormir, acordar, comer, e regula assim muitos processos psicológicos, pode desequilibrar-se, segundo estudos, e conectar-se a incrementos de suicídios masculinos, depressões e agravamentos bipolares, logo após a mudança de hora e em certas regiões do globo.

Aguardemos os resultados da consulta pública efetuada pela Comissão Europeia entre os dias 4 de julho de 16 de agosto.

António Jorge Ribeiro

ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 04/10/2018
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