CUIDADO COM OS HOMOSSEXUAIS!

É o que rola: medo de gay é coisa de boiola

Ulisses Tavares

Claudio Chaves

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Desde que o Governo brasileiro, sob forte pressão de movimentos sociais e instituições de Direitos Humanos (nacionais e internacionais) resolveu colocar em sua agenda políticas de implementação de direitos da comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Interssexuais), tais como: o reconhecimento da união estável de pessoas do mesmo sexo como direito civil e as mesmas garantias da união entre pessoas de sexo oposto (como adotar crianças e se inscrever em programas sociais destinados a famílias de baixa renda, por exemplo), atendimento terapêutico e clínico através do SUS (Sistema Único de Saúde) para quem opte pela mudança de sexo, e a adoção do nome social, inclusive no título eleitoral e na lista de chamada da sala de aula da Escola, para um considerável número de brasileiros, o mundo veio abaixo...é como se se tivesse decretado a terceira guerra mundial ou dado início ao Armageddon (e este fosse um evento completamente literal). E, o mais curioso [e perigoso]: entre os principais promotores do alarmismo e da demonização dessas políticas (que são de Estado ou de Governo – que fique bem claro – e não do Clero) estão a maioria da chamada bancada evangélica (deputados federais e senadores que se auto-intitulam defensores da moral e dos bons costumes – acérrimos defensores da chamada sociedade de cidadãos de bem) e alguns dos mais notáveis e influentes líderes religiosos, principalmente do segmento chamado evangélico, do País.

Nos meus solitários e, talvez, insanos e heréticos devaneios, comecei a me perguntar sobre as justificativas para tanto alarde, tanta precaução – a ponto desses líderes híbridos (político-religiosos) lançarem mão de “santas convocações do povo de Deus, defensores da Família, da moral cristã e dos bons costumes” para uma verdadeira cruzada – “guerra aos infiéis!” – contra os hereges e degenerados LGBTI’S, sob pena “destes corromperem a Família, destruírem todos os postulados da moralidade cristã ocidental e, por fim, atrair sobre todos a ira divina, pondo fim ao mundo como o conhecemos!”

Foi, então, que resolvi, por conta e risco, estabelecer um breve comparativo. E não é que acabei me convencendo de que os tais “degenerados, heréticos, lascivos, blasfemos e demoníacos LGBTI’S” representam, de certa forma, uma grande ameaça aos valores cristãos ocidentais de nossa era!

Em minha parca investigação, descobri, pra minha surpresa, que:

Pôncio Pilatos – governador da Judeia e responsável pelo julgamento político de Jesus – era heterossexual, assim como todos os membros do Sinédrio (tribunal político-religioso judeu responsável pela condenação e sentença de morte do Jovem revolucionário Galileu).

Constantino, o Grande – imperador que oficializou o cristianismo como religião do Império Romano – mesmo depois de sua conversão a este credo, mandou assassinar o filho (seu sucessor natural), o cunhado e a esposa (esta em uma banheira de água quente) – talvez, à época, não havia tecnologia suficiente ou não se teve a ideia da câmara de gás. Constantino também era hétero e religioso cristão.

Descobri que também eram/são héteros Gregório IX, Sergio III, Tomás de Torquemada, Ranavalona I, Teodora e Marózia Theofilato, Adolf Hitler, Mussolini, Hirohito, General Francisco Franco, Fidel Castro, Augusto Pinhochet, todos os generais do Regime Militar brasileiro, Josef Mengele, Islobodan Milosevic, Idi Amin Dada, Joseph Stalin, Saddam Hussein, Jim Jones, Pol Pot, Theoneste Bagosora, Osama Bin Laden, Bachar Al Assad, Muamar Kadafi, Recep Erdogan, Francisco de Assis Pereira (o maníaco do parque), Lampião, Maria Bonita, Alexandre Nardoni, Rosana Jatobá, Hidelbrando Pascoal, Elize Matsunaga, Roger Abdelmassir, os assassinos de Galdino Pataxó, o fundador do estado islâmico e seus principais líderes e todos os, até aqui, condenados no escândalo da Lava Jato, bem como praticamente todos os pedófilos e narcotraficantes presos, até o presente, no Brasil.

No Amapá, volta e meia a Imprensa está divulgando o desbaratamento de grupos criminosos e, entre os denunciados – de governador a encarregado de boca de fumo, passando por promotores, secretários de Estado, funcionários públicos de todos os escalões e membros de tribunais –, até o momento e até onde é de conhecimento público, todos são heterossexuais e, senão todos, a maioria confessamente crentes.

Em Laranjal do Jari, eu poderia, fosse o caso, citar mais de meia dúzia de colegas professores que, para nossa tristeza e desapontamento, responderam ou respondem processos (administrativos ou judiciais) por assédio sexual ou coisas do gênero – afora aqueles que preferiram se mudar do município sob ameaças de perda da própria vida pelos mesmos motivos. Até onde é do meu conhecimento, nenhum desses é homossexual, embora haja vários atuando na função. Uma averiguação mais abrangente e imparcial, revelar-nos-ia que, tão aviltante situação atinge até mesmo integrantes de uma das mais teoricamente insuspeitas instituições públicas: o Conselho Tutelar. Dos casos que tenho ouvido a respeito (contrariando – e muito – a defesa da moral e dos bons costumes dos cidadãos de bem) – e não é de agora – nenhum envolve gay, lésbica, travesti o transexual. Todos os envolvidos, sem exceção, são héteros.

Por fim, até onde minha limitada compreensão conseguiu atingir, sinto-me compungido a render-me: de fato, esses “demônios” LGBTI’S são mesmo um perigo para “a sociedade de bem, fulcrada nos milenares valores cristãos-burgueses ocidentais”. E o maior de todos os perigos que representam é acabarem tornando a moral prática e liberal deles mais inclusiva e atrativa do que a nossa retórica e contraditória piedade religiosa patriótica e conservadora.