Zumbi vive!
Descendente de guerreiros angolanos, Zumbi dos Palmares nasceu em 1655 no quilombo dos Palmares que surgiu por volta de 1590 na Serra da Barriga, hoje estado de Alagoas. Abrigo seguro para os negros fugidos do trabalho escravo nos engenhos de cana - de- açúcar de Pernambuco, para lá corriam também brancos pobres, mestiços e indígenas que padeciam nas mãos do colonizador. Palmares, que no auge dos mais cem anos de existência, abrigou cerca de 30 mil pessoas, não sobreviveu ao assassinato de seu grande líder Zumbi, em 1695, mas vários outros quilombos surgiram após sua morte e sua causa continua inspirando até hoje a população negra na luta incessante por liberdade, dignidade, justiça. Quando em 1978, o Congresso do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial adotou o dia 20 de novembro como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, resgatou Zumbi dos Palmares do esquecimento, reconhecendo-o como herói nacional da resistência do povo negro. Essa data entrou para o calendário nacional a partir da Lei 12.519/2011 e tem um significado especial pois explicita o vínculo histórico entre o fim da escravidão no Brasil e a resistência do povo negro, ao mesmo tempo em que confere à Lei Áurea uma importância secundária, pois esta ocorreu, não tanto pela benevolência da princesa regente, mas influenciada pelas constantes rebeliões e fugas em massa de escravos das fazendas. Por isto, o movimento em defesa do povo negro escolheu o dia 20 de novembro e não o dia 13 de maio como propício à memória da luta secular e à reflexão sobre as questões cruciais enfrentadas pela população negra na atualidade brasileira. No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, e ao longo da semana correspondente, intitulada Semana Nacional da Consciência Negra, celebra-se a resistência dessas pessoas às diversas formas de opressão a que foram submetidas, desde os três séculos de escravidão aos dias atuais, buscando refletir sobre sua inserção na sociedade brasileira, organizando palestras e eventos educativos, voltados para o fortalecimento da auto estima dessa gente. Temas como o acesso ao mercado de trabalho e à educação, cotas universitárias, violência policial, moda, beleza são debatidos pela comunidade negra nessa semana. Digno de nota é o fato de que mais da metade da população brasileira auto declarou-se preta ou parda, segundo o Censo de 2010 do IBGE. Com efeito, a população negra atingiu 101.923.585 pessoas, correspondendo a 50,7% do total populacional no país. Não obstante os avanços, ainda é imensa a desigualdade social entre as pessoas brancas e negras sob muitos aspectos. Estas ganham salários menores e têm expectativa de vida mais baixa por causa das precárias condições de vida, da violência e da falta de assistência médica. Na base da pirâmide social, 70,8% das pessoas que vivem na pobreza extrema são negras, segundo o referido censo de 2010. É gritante a desigualdade no que tange à educação e se esta constitui um dos principais mecanismos de mobilidade social, a política pública de cotas universitárias parece promissora no resgate da dívida secular da sociedade brasileira para com os afrodescendentes. Resgate que depende fundamentalmente da consciência negra, cada vez mais aflorada na sociedade e que substancia a cada 20 de novembro, a resistência do povo negro às várias formas de violência sofridas diuturnamente no Brasil. Zumbi vive!