Pró-Vida/Pró-Nascimento? (O aborto na perspectiva de Jesus)

Corre pelas redes sociais um novo argumento a respeito do aborto: você não pode ser contra o aborto se você é somente a favor de que a criança nasça, e essa criança fique por si só no mundo. Na solidão, na rua ou, se caso a morte não sobrevier, provavelmente, alguns anos depois, estará numa instituição privada ou pública de abrigo infantil. Logo, se você é contra o aborto mas não acompanha crianças após o nascimento das tais, você não é contra o aborto. É só a favor que haja um nascimento com vida. Depois... pouco importa. O que seria, como parece, hipocrisia. Diante disso, defesa contra o aborto é falsa por si só, e o aborto é antes uma opção de "saúde e interesse social".

Esse pensamento tem dois lados: o primeiro é falacioso. Porque uma falha moral não justifica outra falha moral. Você não justifica a morte de um inocente seja pelo motivo que for. Ponto. Pragmatismo não justifica nada. Qualquer valoração da vida humana abaixo do que ela é - vida - justifica qualquer ato de assassinato em qualquer idade. Afinal, se um feto é um mero amontoado de células, o ser humano que se forma do feto deixa de ser esse amontoado sem valor algum? Se sim, então todo o crime contra a pessoa e contra a vida deve deixar de existir por completo, pois também é hipócrita. Como definir um "crime contra a pessoa e contra a vida" numa mentalidade que relativiza a vida? Não faz nenhum sentido. E assim vemos a hipocrisia daqueles que, por exemplo, defendem o "direito ao aborto" mas ataca violências específicas realizadas contra a mulher. A mulher não era um feto? Não estava em vida intra-uterina? Deixou quando de ser um amontoado de células?  Qual a idade estipulada? E quem estipula? Pronto, está claro que é uma hipocrisia. Uma desculpa para o genocídio igual a qualquer argumento que se possa pensar (na verdade, é muito pior).

Por outro lado, há um aspecto verdadeiro nessa crítica. Como cristão, precisamos lembrar: a quantidade de crianças/adolescentes órfãs é gigantesca. Inúmeras famílias, incluindo famílias cristãs, não adotam. Porque se conformam que instituições façam algo, que a Lei normatize alguma conduta e prosseguem tranquilos em omissão, ao invés de tais famílias assumirem a iniciativa (especialmente cristãos). E, quando adotam, adotam bebês e não demais crianças e adolescentes. Isso é algo que precisa ser enfatizado. É essencial, principalmente para um cristão, que é adotado por Deus Pai em Cristo, incondicionalmente (Romanos 8.12-17; João 1.1-18; Gênesis 17.1-8; Salmo 127; Isaías 65.17-25). Sim, por mais que não justifique o aborto (e nunca justificará), há um fundo de verdade: deveríamos questionar a conduta de casais saudáveis, com no máximo um filho ou nenhum, que não adotará uma única criança ou adolescente em toda a sua vida. Sem contar os jovens saudáveis que não querem ter filhos. Querem viver numa eterna adolescência. Pior ainda a classe média para cima, acumulando riquezas, prosseguindo em avareza plena e total.

Logo, a crítica é real e essa conduta de adoção foi uma das principais marcas de uma visão genuinamente cristã de atuação no mundo, como Rousas Rushdoony afirma em "O 'ateísmo' da Igreja Primitiva" (Editora Monergismo). Ter instituições não bastam, nem defender por Lei o direito a vida. Nem compartilhar vídeos no Facebook. É necessário que casais cristãos pratiquem o Evangelho, negando a si mesmos e adotem crianças para criar no Evangelho. A atitude de cristãos genuínos na era apostólica foi a última mencionada. E nós? E a Igreja no Brasil?

Concluímos, pois, que uma falha moral não justifica a outra, mas nem por isso a omissão ao Evangelho é elogiada.

Precisamos abrir mão das máscaras, parar de hipocrisia e defender a vida humana para além das redes sociais, e ir contra qualquer ideologia que tente redefinir "v.i.d.a." conforme interesses egoístas, cruéis e nefastos.

ALIVAVILA
Enviado por ALIVAVILA em 26/06/2018
Reeditado em 20/09/2021
Código do texto: T6374750
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