NEM SEMPRE O QUE NOS CONECTA, APROXIMA: O LADO DELETÉRIO DAS REDES SOCIAIS

*Por Herick Limoni

De tempos em tempos algumas pessoas, com criatividade e certa dose de coragem, fazem alguma coisa capaz de mudar o rumo da humanidade, de tão revolucionária. Em uma rápida análise histórico-temporal, podemos citar algumas delas.

Há cerca de 1 milhão de anos, segundo historiadores, os hominídeos que habitavam a terra conseguiram dominar o fogo, revolucionando o modo de vida até então estabelecido. Há cerca de 6000 anos, com a invenção da roda, o homem revolucionou o modo de transportar mercadorias e pessoas, encurtando distâncias. Entre os séculos I e X – não há consenso sobre a data - os chineses descobriram a pólvora, revolucionando a atividade bélica. Destacam-se ainda a descoberta da penicilina, do DNA, a invenção do raio X e da internet, etc.

Mais recentemente podemos citar os revolucionários Thomas Edison, Nikola Tesla, Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Albert Einstein, Henry Ford, Santos Dumont ou os irmãos Wright (também não há consenso), Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg, dentre outros, todos com alguma contribuição que, de uma forma ou de outra revolucionaram nosso modo de viver. A este último é atribuída a criação da rede social Facebook, precurssora das demais redes que viriam, rapidamente, mudar o modo de se relacionar das pessoas.

Na esteira de Zuckerberg surgiram diversas outras redes, as quais teriam, por escopo principal, conectar pessoas, fazendo-as se relacionar de modo mais fácil e ágil. Não se pode negar que tais mecanismos possibilitam que um indivíduo que se encontra em qualquer lugar do mundo contate outro também em qualquer parte do mundo, desde que possuam, ambos, um equipamento com acesso à internet.

Mas se, por um lado, as redes sociais aproximam pessoas distantes, elas afastam pessoas próximas. Não é difícil perceber, em locais públicos, grupos de pessoas que, de tão concentradas em seus aparelhos celulares, não percebem o que acontece a sua volta. O diálogo, o olho no olho, a verdadeira interação pessoal está perdendo espaço para a interação virtual. E isso é bastante prejudicial, principalmente se levarmos em consideração que “o homem é um animal social”, como assevera Aristóteles. Alguns podem argumentar, de forma bastante válida, diga-se, que o contato virtual também é uma forma de socialização. Não discordo. Mas, na minha opinião, esse tipo de interação não é capaz de substituir coisas que somente são possíveis nos contatos pessoais, tais como um abraço fraternal, um gesto de afeto, um beijo, etc.

Sabe-se, ainda, que muitas dessas redes têm sido utilizadas para disseminar a violência, o ódio, o preconceito. Muitas pessoas, com suas mensagens maldosas têm causado a discórdia em famílias, sem contar os frequentes casos de traição descobertos através de tais ferramentas. Alguns, aproveitando-se da sensação de anonimato, espalham falsas notícias que, uma vez enviadas, não há mais como controlá-las. Em uma versão bíblica contemporânea, Mateus 15.11, assim ficaria: o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da sua rede social, isso é o que contamina o homem. Tais notícias as vezes submetem pessoas a julgamentos e linchamentos morais antes mesmo de uma eventual ação judicial.

Certo é que assim como a pólvora, que é hoje largamente utilizada para ferir, as balas perniciosas frequentemente disparadas nas redes sociais também ferem, e as vezes até levam à morte. Assim como outras invenções que não tinham na gênese da sua criação proporcionar o mal, as redes sociais, ainda que apresentem benefícios, também se curvaram à maldade humana, o que é lastimável.

E dessa forma, o homem segue fazendo mal ao homem, sendo ele próprio o seu lobo, como bem disse Thomas Hobbes.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas