O futebol como a origem da intolerância
O futebol como a origem da intolerância
Antes de começar, quero deixar bem claro que esse texto não tem motivo ou intenção de criticar o futebol como um esporte. Pretendo fugir de todos argumentos clichês contra o esporte e até acho linda a maneira como ele é idolatrado pelos brasileiros, sendo a única coisa que enche a grande maioria da população de animação toda semana. A questão aqui é como ele cria uma raiz podre em determinadas pessoas e que de certa forma isso afeta a sociedade em geral.
Quando a criança nasce, os pais logo a incentivam a torcer para o seu time. Compram a camisa para o filho ainda bebê, o colocam para assistir os jogos, jogam o filho para cima em cada gol e não aceitam ele dizer que vai torcer para o time rival. Sem escolha, a criança tem apenas a opção de seguir o pai ou ser nulo quanto ao esporte. Ele não teve tempo de analisar todos os times, conhecer a história de cada equipe e procurar aquela que mais se identificasse para poder torcer. Essa imposição é muito mais frequente do que a de uma religião ou visão política, fazendo com que a paixão pelo time seja um dogma dentro daquela família. O problema é que a pessoa cresce com uma visão unilateral na cabeça, de que existe apenas um caminho e um lado a ser observado.
Uma das coisas que mais me deixam feliz é quando eu digo ou faço algo e logo alguém diz: “mas não era você que dizia que nunca iria fazer isso? ”. Isso me faz ter um leve flashback interno e começo a pensar o quanto eu evoluí ao mudar minha opinião sobre aquilo e hoje estar fazendo algo novo que outrora eu não teria coragem de fazer devido a algum bloqueio social. Vejo muitas pessoas, que se dizem orgulhosas, sofrendo por causa de uma viseira. Às vezes algum colega disse em 2008 que jamais iria a um show de sertanejo porque odiava. Depois em 2015 todos os seus amigos estão bêbados, indo ao show apenas para curtir uma noitada, e o cara está lá trancado em casa, porque tem que manter a sua palavra.
Vejo muitos casos assim, de pessoas que preferem sofrer e ficarem reduzidas do que mudar de opinião e tentar algo novo. Isso acontece em todos os ambientes onde há divergências, como visões políticas e religiosas, sexualidade, cultura, arte, gostos musicais, dentre outras coisas que não deveriam, mas sempre geram divisões. Perante todo esse sofrimento, comecei a perceber que talvez grande parte dessa origem esteja relacionada à nossa paixão nacional.
Uma pessoa discutindo futebol, defende seu time com unhas e dentes. Raramente vemos alguém dando o braço a torcer e assumindo que o time jogou mal e o adversário foi melhor. É sempre a desculpa do juiz ladrão, que jogador X não estava no seu melhor desempenho físico, que aquele era o time reserva, que em 2010 foi o contrário e o outro time foi goleado... há sempre uma desculpa, mas nunca uma reflexão e uma compreensão da verdade. Sem contar que nascem os estereótipos relacionados aos times: se fulano torce para time X ele é gay, já os torcedores do time Y são todos ladrões favelados, não ande com gente que torce para o time Z porque eles não prestam... e é nesse contexto que uma criança começa a crescer e ela é incentivada diretamente pelos pais a acreditar que aqueles que são diferentes dele já são visto como inimigos (apenas por torcerem para uma equipe diferente).
Eu realmente não consigo entender isso. Acho que as pessoas deveriam começar a pensar melhor sobre seus atos, deixarem de se definirem e se limitarem a apenas um pensamento para verem o quanto a vida seria melhor e elas sofreriam menos. Não dá para mudar isso de um dia para o outro, mas acredito que ninguém nasceu intolerante com o outro, pois quando vemos crianças brincando elas não se importam se é menino, menina, branco, negro, rico ou pobre. São todos iguais e pronto. Alguém tem que ensinar a ela as classificações para que ela se separe das demais. É triste imaginar que o futebol pode ser uma destas causas, porém, se os pais pensassem um pouco enquanto educam os seus filhos e deixassem eles ter o livre arbítrio para escolher um time quando ficassem mais velhos, acho que o nosso redor mudaria um pouco.