Prisão
Não existe a liberdade plena. Estaremos sempre condicionados a algo mais forte, triste, ou até a alguma coisa mais bela. Que nos limite, tornando-nos a vida às vezes menos singela.
Somente o louco será inteiramente livre.
Pensemos um pouco no grande Sérgio Bernardes, um dos maiores nomes da arquitetura brasileira, premiadíssimo no Brasil e no exterior. Esse homem conseguiu desagradar direitistas, esquerdistas, anarquistas, o clero e possivelmente feministas, já que foi, durante algum tempo, preferência entre muitas jovens mulheres. Que simplesmente queriam apenas dar pra ele.
Apesar do incomensurável talento e da expressiva capacidade de trabalho foi considerado inconsequente por muita gente.
Esse exemplo nos mostra a necessidade que temos de ser rotulados. Precisamos estar engajados em algum clube, associação, corrente ideológica, religiosa, algum tipo de maçonaria, máfia, etc. para que possamos ser reconhecidos e recebamos os convenientes abraços apertados. Senão, estaremos apartados. Jamais reconhecerão a nossa dissociação, por menor que seja, ainda que tenhamos as maiores e plausíveis alegações como justificativas. O nosso pensamento deverá estar moldado, ou permanecer escondido, para que possamos transitar livremente pelas ruas, bares, no meio de nossos amigos e privar do seu conforto – logicamente livres, mas em determinadas circunstâncias.
O rigor dessa espécie de regra comportamental pode ser contrastado/contestado por uma citação, ainda de Sérgio Bernardes, segundo a qual “Ninguém é imprescindível a ninguém, a não ser a si mesmo”. O que, com o perdão do grande arquiteto, pode ser bonito, mas não é, às vezes, o que diz o coração.
É como se vivêssemos sob a lógica casuística ou maniqueísta de certos ditos populares, alguns de fundo pretensamente religioso, como, por exemplo, “não se pode servir a Deus e ao diabo ao mesmo tempo”. Estaremos presos à necessidade de declararmos sempre a nossa opção.
Rio, 21/05/2018