Eu preferiria não nascer
A maioria das pessoas cresce alimentando a ideia de um dia se tornar famoso, ser conhecido de muita gente, bem sucedido, admirado, influente. Rico e poderoso poderia estar entre as aspirações.
Mas, essa maioria acaba é fazendo com que os poucos que conseguem tudo isso tenham êxito. Ou seja: a maioria de nós vira contribuinte, patrocinador dos sonhos de outros, mero sonhador.
E isso, para esses dessa maioria, acaba, lá pelos cinquenta anos de idade, virando frustração, decepção, sensação de fracasso e de ter perdido tempo ou de não ter se empenhado o bastante e por isso não cumpriu o suposto objetivo da vida e outros arrependimentos.
Só que tudo o que nos inspira a ter ou a ser para podermos dizer que fizemos valer nossa existência foi produzido pelo homem. Nada é natural e nada é deveras importante ter ou ser.
Fazer valer a própria existência é aproveitar cada momento fazendo o que se quer, tendo liberdade de fazer o que quiser, guardando para isso a qualidade de ser natural, vindo da natureza à mente o que fazer. Mesmo que coisa que aos olhos do propagado como “o destaque” seja coisa taxada como pequena, que está ao alcance de qualquer um fazer.
A Terra vista de Alpha Centauri, por exemplo, parece um grão de areia. Cada um de nós, então, não há sequer medida que conhecemos para comparar. Quem de lá nos enxerga, mesmo que um humano com as mesmas proporções de um humano médio, não consegue dar valor à qualquer coisa magnânima que possamos ter feito. Nada do que fazemos ou fizemos é percepitível lá por aquelas bandas. Todos nós, até mesmo o que se acha melhor do que todo o mundo, somos um nada sem importância para uma consciência que nos observar até mesmo de distância menor do que a que se encontra o sistema estelar mencionado.
E o nosso tempo? É brincadeira! Cada dia terrestre significa uma volta da Terra sobre si mesma. O que chamamos de cansativas 24 horas que gastamos trabalhando, estudando ou se ocupando com coisas medíocres, como por exemplo o futebol, não se poderia medir sequer nos desprezíveis nanosegundos que utilizamos para informar o quão rápido gira um processador de computador. Uma vida de longos anos de um velhinho passa para quem de lá nos vê com uma rapidez que parece que nem existimos.
O que é cada conquista humana perante isso? Cada orgulho e cada humilhação? Momentos de alegria e de dor? Comemoração por ter atingido o sucesso ou frustração por só se vir fracassado?
Nada. Exatamente nada. Com tanto dinheiro que se pode ter conseguido na vida, se a sua vida foi pelejar para acumular esse dinheiro ela não valeu de nada. Todo o tempo gasto contribuindo para o sucesso dos outros em vez do próprio idem. É melhor fazermos mais por nós mesmos nos mantendo iguais e fazendo um pelo outro o melhor possível para tornar esta existência coletiva que estamos nela válida para todos nós. O próprio planeta agradecerá por termos tomado essa iniciativa. O que chamamos de Deus idem.
Não perder tempo com coisas fúteis, com os nossos costumes torpes, com disputas, com atritos ou mesmo com celebrações sem nexo é crucial para se vir cumprindo, deverasmente, o objetivo da vida.
Já pensou se tivéssemos a chance de escolher virmos ou não a essa existência? Quantos de nós, de repente, preferiria sequer ter nascido? Pra que valorizar tanto a vida com base nos interesses que nos impregnaram na mente, se os mesmos diante a uma conscientização legítima do nosso papel e da nossa posição no Universo não passam de mero lapso de tempo mal aproveitado?
*Originalmente publicado no site do autor.