Simbolismos avermelhados
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Simbolismos avermelhados
Para Rousseau, nascemos livres e vivemos por toda parte acorrentados.
As crianças, em nome dessa liberdade original, falam o que pensam, sem receios. Infelizmente, crescem rodeadas de adultos cheios de regras, medos e limitações, num convívio que metamorfoseia, transformando-as, de sinceras e pueris, em humanoides que mentem e temem, em razão das mazelas ideológicas e preconceituosas que as construíram. De tanto ouvirem ‘Não pode!’, ‘Não deve!’, ‘Isso é feio!’, ‘Isso é proibido!’... Tornam-se adultas, falsas e prisioneiras da mesma natureza humana que as criou verdadeira e genuinamente livres. Quantos talentos e dons não se perderam por causa de falsas e inoportunas correções! O homem adulto, quando dá mais importância ao menos importante, perde, por preciosismo, o mais extraordinário da vida: a liberdade!
O que fortalece o argumento do tecido social, persuadindo multidões amorfas, não é a força de nenhum gene especial que carregamos conosco, mas a ilusão dos mitos que construímos, bons ou maus.
A nanometrização do tempo, instantânea nas redes sociais, refuta qualquer teoria da celeridade do bem. O que divulgamos, propagando-se na velocidade da luz, infelizmente, é o crime, a farsa, a perseguição, o caos; o que atrai atenções universais é o sofrimento; as paisagens que nos furtam as retinas são de corpos mutilados e desfalecidos... A natureza viva parece invisível, não flui; a morta, enche nossos olhares do rubro da iniquidade e da destruição. Os dons, as virtudes, o belo sofrem a tortura do esquecimento. Ao vasculharmos as paisagens que dão forma ao nosso aparato virtual, que imagens, notícias, vídeos estarão disponíveis? Que vazios precisamos preencher? Que mundo estamos criando dentro de nós mesmos? Que humanidade sucederá nossa atual vivência? Que sentimentos e perspectivas nos fazem prosseguir?
Urge que a voz do bem ressoe, para muito além das nossas individualidades. Fazemos estardalhaços, gritamos e difundimos o mal e as tragédias com simplicidade e rapidez fenomenais e surpreendentes. Entretanto, diante do que é bom, ou nos parece ser, simplesmente silenciamos. Se mais pessoas, principalmente as formadoras de opiniões e os homens públicos, se perdêssemos o medo e/ou saíssemos da silenciosa e confortável omissão em que nos encontramos, certamente haveria reflexão junto a muitos jovens que estão sendo (de)formados por falsos moralistas, pejorativos simbolismos e ilegítimos oradores. Atualmente, são as minorias que decidem os rumos comportamentais da humanidade – e isso é por demais preocupante. Mais que isso: Minorias que desconstroem a história simbólica dos nossos antepassados.
Em meio aos anseios animalescos e imediatos da existência, no caos do espaço-tempo, cultuemos e compartilhemos o que é bom e faz bem. Afinal, divulgando tragédias já existem pessoas demais.
Nada como o tempo para desanimar os ânimos e animar os desânimos.