CONTRADIÇÕES

O “chocar- se” em relação a uma situação ou conduta vivida conduz o indivíduo a defrontar- se com o “Si” verdadeiro. Ele sai do personagem que construiu para se apresentar diante do mundo exterior e alcança sua verdade interna em um processo de libertação à crença de valores incutidos e padronizados, conseguindo mostrar- se tal como é na verdade. Pessoas são contradições ambulantes. Carl Rogers, psicólogo atuante na “Abordagem Centrada na Pessoa” diz que “o curioso paradoxo é que quando me aceito como sou, então posso mudar”. Rogers estabelece, via de regra, esta auto- aceitação como ponto de partida para a felicidade, para ele o sentimento próprio deve ser entendido e observado além de ouvido, através disto depois de se perceber em sua verdade, seríamos capazes de também ver e aceitar aos outros. Na modernidade, isso encontra vários empecilhos, busca-se geralmente a adequação a um modelo proposto do que é ser “bem sucedido”. Todos os contextos políticos, sociais, tecnológicos, industriais são elaborados tendo em vista essa necessidade de um mercado crescente focado na aparência do status social. Pessoas são avaliadas de acordo com o comportamento aparente que deve se enquadrar no modelo e poucos são os que se dispõe a não usar “máscaras” e ser autênticos em sua essência. Por isso ruas são excelentes laboratórios ambientais onde observamos expressões cansadas e por vezes abatidas de uma humanidade insatisfeita, frustrada e florescente em doenças psicopatológicas. O não aceitar- se deriva em grande parte de não conseguir alcançar ou fazer parte desse modelo sócio- econômico. Cobra- se muito e dá- se pouco ao “Si”. Máscaras continuam a ser ostentadas e repressões íntimas são aceitas em nome da boa aparência social com a qual a pessoa se adorna no agrado ao mundo externo. O povo se excita com o belo carro, o tênis de marca, o smarthphone de última geração, a vestimenta de marca famosa... no Japão, um dos países mais desenvolvidos e de população com alto poder aquisitivo, regras rígidas são responsabilizadas pela alta taxa de suicídios. A cultura japonesa de não reclamar nem expressar a dor interna mantendo- se impassível se torna cúmplice neste processo. O conhecimento tecnológico avançado tornou- se um componente de isolamento social, mais uma vez a adequação a padrões financeiros e sociais influi na frustração de se negar a assumir uma identidade própria como pessoa. Aqui, em terras brasileiras, vemos uma classe de pessoas usando um tipo de suicídio prolongado, através da letargia do “Si” causada por drogas, álcool e psicotrópicos usados como forma de fuga. Mais uma vez o ser humano se nega a autocontemplar- se aceitando e propondo a si próprio uma chance de viver apoiando- se no que ele pode fazer de melhor com as próprias capacidades, como ser único que cada um é. Nega- se, pois se crê incapaz na adequação ao modelo de felicidade criado. As forças dinamizadoras estão adormecidas, não existe um confronto, só a submissão ao modelo. Todo o pensamento gira em torno desse enquadramento. Necessário é coragem, força e persistência para ir de encontro ao “Si” vivenciando- o, sentindo e expressando essa autenticidade como forma de auto satisfação. Lua, galáxias, oceanos e átomos são pesquisados, observados, mas o mais importante continua insondável – o ser de cada Ser Humano, a verdade mais autêntica do “Si”.