Marielle: o que sua morte nos ensina
Enquanto ainda não nos recuperamos da comoção causada pelo assassinato covarde da vereadora Marielle, devemos aproveitar para perguntar: o que sua morte nos ensina? Ensina que não dá para continuarmos assim. Sua morte foi a consequência de uma soma de fatores cujo resultado foi fatal. Há quanto tempo a falta de uma política eficiente de segurança pública e a corrupção escandalosa e imoral que desgraçam nossa sociedade têm produzido vítimas anônimas mas não menos importantes? Assim como Marielle, pessoas são assassinadas e enterradas diariamente. E o que mais nos entristece é saber que essas tragédias poderiam ter sido evitadas. Quantos mais terão de morrer até que se decida fazer algo? Temos clamado por mais segurança e tudo que ouvimos são promessas vazias.
Marielle era mulher, negra, homossexual e oriunda da favela. Ou seja, era uma representante direta das classes desfavorecidas e conhecia a dura realidade dos que vivem em zonas de conflito, nas quais criminosos e milícias ditam as leis e aterrorizam inocentes. Sua realidade era a de um mundo em que pessoas pobres e que todos os dias lutam para sobreviver presenciam tiroteios, tráfico de drogas e brigas entre facções criminosas. Ela era uma porta-voz dos que querem ser ouvidos e estão cansados de ser tratados com descaso e indiferença.
Quem encomendou sua morte queria silenciá-la, porque ela incomodava. E por que ela incomodava? Ela queria fazer a coisa certa: acabar com a corrupção e a violência que têm destruído vidas inocentes. Não podemos permitir que ela tenha morrido em vão ou isso significará que é inútil tentar fazer o certo e lutar para evitar que, no futuro, mais pessoas sejam vítimas da violência e se tornem apenas números.
Diariamente, pessoas enterram seus entes queridos e se perguntam: até quando a violência e a impunidade serão a regra? O que mais precisa acontecer? Honremos não apenas essa mulher corajosa, mas também todos aqueles que tinham tanto direito a viver quanto ela.