MODERNISMO IMPIEDOSO

Avós - coisa linda e sagrada com que Deus nos presenteava! Custávamos a esperar a semana passar, o domingo chegar, para irmos almoçar e passar o dia com a avó materna, que era viúva e gostava de morar sozinha. Como dizia ela: "gosto do meu cantinho, onde posso receber todos os meus filhos e netos!"

Como era bom ir passear na casa da vovó! Um lugar encantado, sempre muito limpinho e bem cuidado, dentro de uma imensa simplicidade! Com que carinho ela nos recebia! E depois de abençoar-nos individualmente, a primeira coisa que fazia, era fiscalizar as unhas das netas, para ver se estavam curtas e sem esmalte. Isso era uma exigência que ela não dispensava. Como crianças, desde sempre, gostaram de pintar unhas, a gente também gostava e passava esmalte durante a semana, mas quando o domingo chegava, tínhamos que eliminá-lo das unhas, sem deixar vestígios, para que a "inspecção" deixasse a vovó feliz.

A outra avó, a paterna, como morava mais perto de nossa casa, íamos visitá-la quase todas as noites. Nós a adorávamos também. Esta era mais liberal e até achava bonitas as nossas unhas pintadas.

Ela era costureira e em sua sala de costuras os retalhinhos coloridos abundavam! Quando nosso avô chegava do trabalho de carroceiro, cansado, e encontrava-se com as netas, ele amava, pois representávamos para ele o momento de "relaxamento". Assentava-se num canto da sala de costuras e nós, as netas, transformávamos aquele ambiente em nosso "salão de beleza", tendo nosso avô como "cliente". Penteávamos seus cabelos muito lisos e pretos, fazíamos neles um punhado de trancinhas e as amarrávamos com 'fitas coloridas' - os retalhinhos das costuras da vovó! O "exercício" de relaxamento era tamanho, que o vovô dormia sentado, chegando, às vezes, até a roncar!

Que pena que esse tempo de encantamento tenha ficado para trás e que, expondo minhas recordações maravilhosas, nossas traquinagens de crianças felizes parecem fazer parte de um "conto da Carochinha"!

Hoje, infelizmente, os avós raramente recebem visitas dos netos, porque são eles que os criam e, na maioria das vezes, desde o nascimento! Uma grande parte dos netos de agora foram alijados, pela "modernidade dos tempos", de passarem o domingo com os avós, de desfrutarem do carinho, da saudade, expressos num abraço de acolhimento!

Ontem, os avós eram nossos avós queridos, a quem tanto amávamos, respeitávamos e obedecíamos com prazer. Hoje, eles são "pais ao quadrado" que, apesar da distância de idade e de costumes que os separam dos netos, têm que "se virar" para que não os deixem de qualquer jeito, por mil motivos que a "modernidade" dita! E o pior é que os valores como amor, respeito, obediência, ajuda, e mais um punhado deles, também ficaram no passado e "comumente" netos se tornam manchetes policiais por maltratarem fisicamente seus avós e até por matá-los friamente, para arrancarem deles, às vezes, os parcos recursos, para se manterem nos vícios!...

É dolorosa a constatação de que os tempos, usos e costumes, quanto mais se modernizam, mais se tornam "facas de dois gumes"!

NEUSA RAMOS
Enviado por NEUSA RAMOS em 10/03/2018
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