TÁXI, O FIM
 
Não devemos evitar a verdade e a verdade é que as lideranças dos taxistas falharam, perderam a guerra para o grande capital de corporações como o Uber. Alegam que conquistaram uma vitória com a garantia de que as prefeituras poderão regulamentar o serviço, mas a regulamentação que ficou permitida às prefeituras é mínima, nem sequer garante a segurança do usuário. Foi a primeira vitória da ideia de Estado mínimo. A partir de agora, teremos um serviço que transporta pessoas e que estará quase isento a fiscalizações, a medidas de controle urbano. Só no Rio de Janeiro já são mais 100 mil carros particulares a serviço dos aplicativos, rodando sem regra alguma. Sabemos que isso sempre acaba mal, mas será preciso explodir o mal para que venham a rediscutir o assunto. O Brasil é o país movido pelas tragédias.
 
O que restará de mais substancial da luta dos taxistas será concretização de candidaturas políticas que se engajaram em defesa da classe. Se isso não ocorrer por mero oportunismo, pode ser um dos poucos resultados positivos do embate.
 
Dizer que o Senado e a Câmara dos Deputados optaram por uma decisão equilibrada, não cedendo à pressão de grupos de interesse, é a sublimação do cinismo. O presidente do Uber esteve pessoalmente no Brasil para exercer pressão, conseguiu uma inusitada reunião com o Ministro da Fazenda e mesmo os nossos representantes da esquerda se curvaram aos interesses da multinacional americana.
 
Sendo a verdade um fardo inevitável, é inevitável prever que o serviço de táxi está condenado a deixar de existir a médio prazo. Foi descaracterizado em favor do lucro de empresas privadas. Muitos motoristas já estão abandonando a profissão. Desde 2015, a Globo pautou seus jornalistas numa campanha obsessiva contra os taxistas, foram colunas semanais, usando os nomes de destaque do jornal e da TV, para difamar, generalizar e destruir completamente a reputação dos profissionais da praça. Por sua vez, o Judiciário neoliberal concedeu liminares em que privilegiavam um serviço sem regulamentação. Desprezaram o fato do taxista possuir uma profissão reconhecida por lei, desprezaram a própria Lei de Mobilidade Urbana. O objetivo maior se resumiu em atender aos interesses das multinacionais que gerem os aplicativos.
 
O táxi, antes uma profissão digna, se transforma em fonte de renda alternativa. O taxista, que antes sustentava sua família, agora mal sustenta o próprio carro. Fizeram de um serviço com regras e controle, que visavam o ordenamento urbano, um palco para a pirataria predatória que não melhora nada para o usuário e piora a qualidade de vida nas cidades. A independência e a impertinência dos taxistas incomodavam a Globo, incomodavam pessoas que acham que a prestação de serviço deve ser tratada como um tipo de servilismo adestrado, incomodavam empresas que não aceitam que o lucro do trabalho seja exclusivo da pessoa física.
 
Até segunda ordem, até o dia da tragédia anunciada, não teremos mais um segmento de transporte individual, teremos uma modalidade do caos.
 
Poderíamos compartilhar bravatas, gritar palavras de ordem, mas, no momento, só restou uma sentença para os táxis: o fim.

 
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 04/03/2018
Reeditado em 04/03/2018
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