Sobre a intervenção Federal no Rio de Janeiro: como intervir na periferia?
Qual o sentido da intervenção federal na segurança pública no Estado do Rio de Janeiro? A quem ela serve? Quais seus objetivos? Primeiramente faremos um paralelo com a educação de um pai para com o seu filho. Se este pai pretende educar uma criança calma, educada, qual deve ser o viés de suas ações para com a criança? Ao educá-la com castigos, violência, ameaças, com a justificativa de ser assim a melhor maneira de formar um cidadão, que perfil de ser humano teremos quando esta criança tornar-se um adulto? Qual a possibilidade de termos um indivíduo pacífico se a sua base de formação pautou-se na violência?
Sabemos que uma criança saudável pratica traquinagens, faz arte, bagunça o coreto. Como deve ser a atitude de um pai que pretende moldar a personalidade desta criança para um viés de respeito a si e ao próximo? Ser educado tendo a mira da violência voltada para si continuamente forma um adulto respeitador? Esse pai é referência para seu filho? Estaria ele ensinando a truculência no lugar do respeito? Como se educa um filho para uma efetiva cultura de paz? É dando-lhe chineladas todas as vezes que comete uma traquinagem? Não seria mais prudente e inteligente planejar uma educação a longo prazo com investimento maciço em diálogo, cultura, lazer e rigosidade perante as peraltices? Obviamente que um bom pai não deve ser omisso, tampouco conivente com atitudes negativas de seu filho. Deve se posicionar e deixar claro qual caminho deve ser seguido. E agora perguntamos: Qual a relação da educação de um pai para com seu filho com a intervenção federal no estado do Rio de Janeiro? Se repararmos bem, existe uma relação bastante próxima entre os dois exemplos, sobretudo se compararmos a ação do pai com a ação do Estado e a condição de filho como se fosse a população periférica do Estado do Rio de Janeiro. O que essa população tem aprendido que não a violência? Foi ouvida por meio de instrumentos democráticos? Tiveram acesso a políticas efetivas ou o que restou a essa população foi a tentativa cotidiana de livrar-se de miradas de tiros ansiosos por tirar-lhes a vida? Quem mais apontou a arma para a essas comunidades? O Estado ou os traficantes? Ou os dois? Qual deveria ser a atitude deste Estado quando percebe a comunidade acuada perante o tráfico? Aponta-lhe também a arma? Trata a todos como iguais?
É consenso que existem muitos mais trabalhadores em uma favela do que bandidos e traficantes. A porcentagem é pelo menos 98% pessoas honestas e uma minoria de criminosos. Por que então, uma intervenção militar que deixa a população ainda mais assustada? Não seria mais inteligente, eficiente e eficaz políticas a curto, médio e longo prazo que diminuísse o tráfico nas favelas a partir do investimento de políticas públicas consistentes?
Ao conhecermos a história do Cartel de Medelin na Colombia nos anos 90 é perceptível que os jovens que entravam no crime por intermédio de Pablo Escobar eram todos de periferia que queriam muitas vezes comprar apenas um tênis de marca. Com o tempo se tornavam bandidos perigosos e mais um pouco a frente a única certeza que tinham era a morte, pois muitas vezes eram liquidados antes do 25 anos de vida. Hoje Medelin diminuiu consideravelmente a violência, é uma das cidades colombianas que mais oferecem à população o sentimento de segurança. Esse sentimento não surgiu de forma gratuita. Foi preciso atuação rigorosa do Estado com políticas públicas de emprego, de renda, de abertura de oportunidades outras que não o crime, conjuntamente a isso ações assertivas de combate ao tráfico. Quando defendemos que o Estado deve atuar como educador de seu povo não estamos dizendo que deva ser complacente com o crime, só não pode em hipótese alguma, despejar mais violência em uma população que sempre sofreu violência. Estamos dizendo ao governo ilegítimo de michel temer que intervenção militar não resolve. Não ensina as comunidades, nem diminui o crime. Estamos dizendo que ao não investir em educação, saúde, esporte, lazer, segurança efetiva, está apenas mirando a metralhadora para a perpetuação da violência. Exigimos maior respeito a população periférica do Rio de Janeiro. É preciso desmontar a lógica do crime organizado, mas é preciso fazê-lo por meio de táticas inteligentes e não violentando continuamente a população que é muito mais vítima que algoz. Exigimos políticas de Estado ao Brasil e a população do Rio de Janeiro.