________Vencer na Vida

 
Vencer na vida parece ser o grande objetivo da maioria dos que passam por esse mundo — como se a vida fosse uma eterna competição, mesmo quando a única certeza que se tem é a de que a vida não é eterna. E aqui, me restrinjo unicamente à ideia de que  não se tem notícia de predestinados a ficarem pra semente: já fui a inúmeros sepultamentos, e ainda irei a muitos outros, até que chegue o dia de irem ao meu, é mais ou menos por aí...

Mas, apesar da efemeridade de nossa existência, o grande desafio parece ser mesmo vencer. Desde criança ouvimos que precisamos estudar, estudar, morrer de estudar, para alcançarmos um bom emprego, um bom lugar no mercado, uma boa posição social, uma vida financeira estabilizada. E aí, tome banho de cadeira nas escolas, e aí queimem-se pestanas em noites varadas de estudos, e incorporem-se aos hábitos, dias exaustivos e sacrificados. E para quê? Para vencer!

Mas, afinal o que é ser um vencedor? Parece ser aquele que é melhor que o outro, que os outros. Ninguém vence sendo o pior ou conseguindo ser apenas mediano. É preciso, é necessário e fundamental que se seja o melhor. A competição, meramente com o intuito de vencer, é cruel e, segundo as regras, ser um vitorioso é chegar lá. Ah, esse almejado chegar lá de todos nós, que nos tira o sono e nos faz sequiosos de mais e mais batalhas. Como se chegar lá fosse a questão primordial, única forma de justificar a vinda e a passagem por esse mundo... Infere-se daí, que esse , onde se deve chegar, seja um lugar espetacular, infinitas vezes  mais promissor que o Éden ... Nem sempre é.

Discutir questões ligadas aos valores da vida é algo amplo, de uma extensão quase inatingível. Mas, para a grande maioria o chegar lá é questão de honra, embora nem todos cheguem, e quando não se chega, frustração  tem também outro nome: infelicidade. E sabe-se o que há de gente infeliz nesse mundo! Gente que, não chegando onde deveria chegar, vira pedra no sapato, jogando no time contrário — o dos frustrados-invejosos. Por aí, já se compreende metade das mazelas deste mundo na divisão entre os que chegam e os que odeiam os que chegam. A parcela restante é só mais um contigente de alheados no segmento das minorias.

O pior de tudo é que não se pode fugir ao padrão. Quem ousar, corre o risco de ser tachado de louco, incompetente, reacionário e mais uma chusma de adjetivos, todos eles da família dos pejorativos: há que se viver com esse peso, é o preço que se paga. Então, como se movimentar nesse mundo de competidores, onde todos querem vencer e  não hesitam em passar como um trator por cima de seus supostos adversários? Nada de novo: quem não se enquadra é estrangeiro na própria terra. Então, haja maratona!

Disse muito bem Rubem Alves em *“[...] a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada. Lembrem-se daquele maravilhoso aforismo de T. S. Eliot: ‘Num país de fugitivos os que andam na direção contrária parecem estar fugindo'".  E não é a mais pura verdade?

O medo que tenho é o de que correndo absurdamente pra chegar lá, nos distanciemos cada vez mais da nossa  chance de subir ao verdadeiro podium, e ostentar com dignidade medalhas realmente preciosas...



 *"Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares" (editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 31.)