Por que os velhos morrem
Notícia de casamentos de homossexuais na Austrália hoje. A Austrália é o 26o país a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo no mundo. Que vai ficando, aparentemente, pelo menos, diferente a partir daí.
Uma criança que nasça hoje já vem encaixada nesse novo mundo. Já vem com o seu chip especial. Parece que, ainda na barriga da mãe, toma parte nos diálogos que escuta. Que são diferentes dos que sua mãe escutou na barriga da avó. A criança de hoje já vem de certa forma meio programada para essa nova realidade. Que não consegue ser absorvida com tanta facilidade pelos mais velhos, gente das décadas de 40, 50 ou mesmo 60. Sendo por isso que os mais velhos morrem, se não for muito impreciso dizê-lo. Pela impossibilidade de uma reprogramação confiável.
Um filho homossexual em 1940, ou antes, seria certamente reprimido ou mesmo não aceito a partir de casa. Para um pai hoje com 50 anos, nascido, portanto, na década de 60, um filho homossexual ainda seria uma surpresa, apesar de esse pai entender a necessidade de se reprogramar para a aceitação de uma realidade que nada tem de anormal, como a que lhe foi ensinada, e que se torna a cada dia mais consolidada. Mas que evolui, não para.
Para uma criança que nasça hoje, sendo pai em 2068, aos 50 anos, pode ser que não faça muito sentido a diferença de gêneros, não representando qualquer ameaça ou surpresa a presença de um filho ou filha homossexuais na família – assunto tratado no belo filme “Trainspotting-Sem limites”, de 1996. Até porque a própria família, em função dessas alterações, pode não ter a mesma configuração que conhecemos ainda hoje.
Poderemos estar preparados para tudo isso? Os mais novos, sim. Até o ponto em que consigam entender ou se integrarem ao contexto a que de fato pertençam. Os mais velhos, dificilmente. Pela impossibilidade de absorção do contexto em sua totalidade. O mundo começa a não pertencer aos mais velhos. Que irrevogavelmente terão que deixá-lo ao sabor das conquistas dos mais novos. Tratando-se, mais uma vez, de uma imposição da Natureza.
Note-se ainda que a Medicina consegue prolongar a vida das pessoas. Notadamente sob o ponto de vista físico. Quanto à questão espiritual, isso não tem a mesma simplicidade.
Rio, 090118