Que tal fazer umas trocas?

"Há uma parte de mim que não sairá dos 16

Encontrei o segredo da juventude eterna

Alguns vão longe na vida e na riqueza

Mas há uma solução: cair fora desta corrida"

(PANTERA - Goddamn Electric (versão de um trecho da letra)

CEO. Fotos do Roberto Justus passeando em sua nova lancha de 25 milhões em revistas e jornais. Disney. Forbes. Estas palavras e descrições de imagens fazem seus olhinhos brilharem? Eu lamento, amigos, de coração. Lamento muito.

Vou contar umas histórias. Lembram do Naldo? Cantor? (HEIN? Cantor?). Há alguns anos vi uma matéria sobre ele no programa do Rodrigo Faro. Eu não lembro direito por que diabos eu assistia ao programa, mas o apresentador vendia balas num farol e explicou que era aquilo que Naldo fazia quando garoto. Um carro de luxo importado parou no vermelho. Faro explicou que era o cantor (ôxe!) dirigindo. Fez uma exclamação, pagou um pau de metro e soltou: "mudou de vida!". E não muito tempo depois, eis que a gente se depara com o escândalo da agressão à esposa. De que vale a riqueza se o sujeito tem esta cabeça?

Outro caso: eu conversava com uma jovem que tem uma Fênix tatuada. Ela contou que a ideia para o desenho surgiu de uma situação muito difícil que passou na vida. Teve depressão, que foi, felizmente, superada. Lembrei de uma outra conversa que tivemos semanas antes, quando narrou um problema muito sério de saúde. Houve risco de morte. Associei na hora o tema da tatuagem a este acontecimento. Mas ela explicou que a referência era a outro fato: estudava em escola particular, a família não tinha tantos recursos, foi um período bastante difícil para os pais e, durante uma viagem com a classe, sentiu-se envergonhada. Reparou que as malas e roupas das amigas eram todas novas e caras, diferentes das dela. Foi isso que a levou à depressão. Fiquei chocado com este detalhe: ela superou a situação do problema grave de saúde e se abalou psicologicamente pela questão financeira da família. Me perguntei e me pergunto até hoje quais foram e quais são os valores dela, os que ela adotou por conta própria e os que aprendeu com a família e com o meio em que vive.

Por estas e outras eu costumo dizer: se as pessoas aprendessem a valorizar mais a sombra de uma árvore do que as vitrines de um shopping, seriam mais felizes. E se ignorassem por completo o shopping seriam mais felizes ainda. Não sou especialista da área e, até o momento, sequer li matérias e artigos relacionados ao assunto, mas minha intuição me diz que esta supervalorização do dinheiro e os hábitos exagerados de consumo que afetam diversas pessoas mundo afora são as grandes responsáveis pelo aumento expressivo do número de casos de depressão, stress, síndrome do pânico, além de várias outras doenças do mundo moderno.

Querem mais um caso? Recentemente conversei com uma professora. Ela se queixou comigo sobre uma forte dor de cabeça. Perguntei se tinha sempre dores assim. Caso respondesse que sim, a próxima pergunta seria se ela já tinha procurado o médico. Mas ela explicou não ser frequente e saber exatamente a causa: sobregarga. Ela tem duas profissões diferentes, está cursando a terceira faculdade, fazendo pós-graduação e é mãe de um filho de oito anos. Fiquei desolado. Perguntei em meu pensamento: "pra quê isso? O que é que você está querendo? Acabar com sua saúde?". Não me manifestei imediatamente. Se eu sugerisse a ela escolher uma - e apenas uma - das atividades e limasse todo o resto, realizasse uma somente por vez, ela talvez me tachasse de pessimista, preguiçoso, incapaz, entre outros adjetivos que os sobrecarregados atribuem às pessoas que não fazem as mesmas loucuras que eles. Estou, portanto, aos poucos, uma pitadinha aqui, outra ali, tentando convencê-la do perigo que ela traz para si ao tentar carregar esta carreta lotada de Scania nas costas.

E então, leitores? Algo de semelhante nas histórias acima com a vida de vocês? Me autorizam a fazer umas sugestões de troca? Vamos fazer umas trocas neste início de ano? Aqui vai:

1) Troquem a revista Caras pela revista Vida Simples.

2) Troquem os passeios no shopping por passeios no parque.

3) Sempre que possível, troquem o carro por uma bela caminhada, ou então por uma bicicleta. E a vocês que não pedalam desde a infância ou adolescência, anotem a recomendação do ciclista aqui: arrumem uma bicicleta, acrescentem esta atividade e/ou transporte em suas rotinas e vocês terão um ganho de qualidade de vida que nem imaginam!

4) Troquem as horas-extras no trabalho por horas-bônus com a família, os amigos, os animais de estimação e por momentos para ficar sozinho(a) e silêncio (sabiam que é muito importante para a saúde termos um tempo de silêncio todos os dias? Faça pesquisa com as palavras "silêncio" e "saúde" e leia artigos relacionados).

5) Troquem a tela do computador e do celular por belas imagens do cotidiano, como a de crianças brincando na rua ou de passarinhos cantando na árvore.

6) Troquem objetos por atividades: ao invés de um celular novo e caro, invistam numa viagem. E quando forem dispor de objetos, móveis e eletrodomésticos, ao invés de vendê-los, procurem uma entidade e façam doações.

Leiam, releiam e ponham em prática! O peso físico vai embora, junto com o peso psicológico. Podem acreditar. Feliz ano novo!