A SOCIEDADE E O ESTADO-EMPRESA

Um dia desses, lendo um livro de ensinamentos da Tradição, deparei-me com um aviso que, de imediato, disparou o meu mecanismo de pensar. Lá estava registrado o que a sabedoria de um conhecido mestre nos presenteava. Trágico ou fantástico, não sei, mas, muito oportuno e principalmente, didático. Dizia o Mestre conhecido como “Santo Irmão”: “Todas as instituições humanas construídas nos moldes organizacionais conhecidos, estão em franca decadência e em direção ao total desmonte. Das suas cinzas, não sem muito sofrimento, haverá de ressurgir o homem novo”...

Pensando no assunto, logo veio à minha mente, o complicado momento por que passa a maior organização conhecida; a própria humanidade que, ao longo de sua tortuosa história, desenhou as formas que considerava mais adequadas à sua proteção e, dentre elas, criou estados e governos. O estado foi instituído para proporcionar proteção e segurança ao indivíduo e à sociedade, e o governo, em suas várias formas, é o exercício do poder na condução das coisas de interesse do estado, logo, da sociedade.

Partindo dessas definições sociológicas, entendemos que não existe estado nem governo sem a sociedade e é esta que, na democracia, assegura a sobrevivência daquele elegendo os indivíduos que exercerão o poder em seu benefício e em seu nome.

Entretanto, todos os mecanismos da imprensa mundial vêm mostrando o inverso pois, diariamente, estamos assistindo movimentos populares contrários a decisões governamentais em todos os países. São movimentos de ecologistas contrários à degradação ambiental, são manifestações de pacifistas bradando “não às guerras”, são intelectuais e cientistas se opondo às manipulações da genética, são estudantes em passeata contra as decisões do FMI, da OIC, do Banco Mundial; são pessoas do mundo inteiro reagindo contra a Globalização, o Neoliberalismo e a ALCA. São ambientalistas protestando contra a expansão dos transgênicos, São os Fóruns Sociais na negativa de importantes questões que estão sendo impostas à sociedade global.

Há tampos atrás assistimos um exemplar protesto, quando uma estátua de George Bush, aos gritos de “Go Home!”, foi derrubada, em Londres, tal como o fora a estátua de Saddam Hussein em Bagdá.

Em todos esses momentos, os governos têm se utilizado dos seus mecanismos de repressão para dissuadir o povo, utilizando, para isso, armas de toda a sorte, inclusive armas químicas e muita agressão física na pancadaria generalizada.

Assim, os governantes se colocam contra a vontade da sociedade, usando a força do estado para fazer prevalecer as suas vontades que se identificam com a vontade dos grupos organizacionais, partidários ou ideológicos a que pertencem ou com os quais simpatizam.

Aqui no Brasil isso não é diferente, pois medidas governamentais têm sido rejeitadas pela população que, na ciranda dos governantes, tem sido a única prejudicada. São tarifas absurdas, educação desmantelada, saúde desmontada, combustíveis em alta constante, gêneros e serviços, cada vez mais caros, impostos absurdos e, principalmente, taxas bancárias em níveis astronômicos.

As medidas da Previdência atormentam os velhinhos e enchem de tristeza e desânimo os aposentados. Os servidores públicos relegados à sarjeta vivem seus protestos em greves e passeatas clamando para que sejam, seus vencimentos, reajustados ou pagos com regularidade. Os transgênicos já estão nos supermercados e todos os dias morrem pessoas nas filas dos hospitais. O fisco da Receita confunde renda com salário e, até mesmo a iluminação pública passou a ser ônus do cidadão, enquanto isso, os bancos acusam lucros nunca alcançados na história.

Para não nos tornarmos enfadonhos, paramos por aqui, o rol das investidas contra o cidadão, o que, nitidamente nos mostra que o estado que deveria proteger o povo está agora, se protegendo contra o povo e as autoridades que pelo povo foram eleitas, se esquecem de que o foram em seu nome e a seu serviço.

Qual a razão dessa inversão perversa?

A partir do momento em que o estado deixou de ser uma instituição política, passando a ser uma instituição econômica, a política deixou de ser a base do governo, passando este a se orientar pelos objetivos e interesses da economia. Assim, o estado político se transformou no estado empresa cujo interesse é o lucro, para o qual o produto para consumo é o serviço público e a clientela é o cidadão contribuinte.

Como a economia é avarenta e usurária, o estado também passou a sê-lo. Em conseqüência, optou pelo abandono do cidadão em benefício das empresas e a transferência das obrigações estatais que de gratuitas, passaram a ser objeto de interesse empresarial, daí, as privatizações, mecanismo com que se alimenta a ação neoliberal, teoria que favorece a concentração das riquezas em organismos multinacionais. Além disso, o poder é assumido por representantes de classes empresariais, eleitos pelos seus pares na atividade econômica.

Como resultado, da fusão estado/empresa, políticos e empresários desatam o nó da corrupção deslavada em nível nacional, abrindo o desaguadouro dos recursos públicos até a exaustão. Assim, o que era direito natural do cidadão, passa a ser um bem de consumo, para louvor e glória do lucro sem limites, numa economia recessiva, em um país onde o salário mínimo é um deboche

Agora, para terminar, raciocinemos um pouco juntando tudo aquilo que estamos vendo e sentindo nesses belos tempos e respondamos para nós mesmos: Quais das instituições conhecidas podem ser consideradas íntegras, ainda, mesmo com a falaciosa arenga de “autoridades”, de que estão em pleno funcionamento? Legislativo, Executivo, Judiciário, saúde, saneamento, segurança, educação, economia, igreja, advocacia, empresas, comércio, indústria, medicina, direito, família, ciência, transporte, energia, etc..., e, principalmente, a maior instituição: o próprio ser humano....

Você não acha que o Mestre está com a razão?

Amelius
Enviado por Amelius em 04/01/2018
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