A DEPENDÊNCIA
Meus caros amigos! Outro dia, quando vinha do supermercado, passando por um casal que discutia, na rua, dentre outras coisas, ouvi o rapaz, muito zangado e em tom agressivo, dizer à moça que “era independente e que não precisava de ninguém na vida, muito menos dela e, por isso mesmo, não tinha que dar satisfações a ninguém sobre os seus atos”.
Muito embora o assunto não me dissesse respeito, aquilo que escutei, serviu-me de excelente lição, cujos resultados pude acrescentar ao meu interminável aprendizado nesta vida que Deus me deu.
Continuando a minha caminhada, os pensamentos vieram aos borbotões, como um alerta. Ninguém é independente! Ao contrário, todos somos permanentemente dependentes, uns dos outros, consciente ou inconscientemente! Quer queiramos, ou não!
De fato, ao inverso dos animais que, ao nascerem já abrem os olhos e tão logo descobrem para que servem as pernas, com o auxílio do olfato e da audição, podem em busca do leite materno que está ali, carinhosamente à sua disposição, o homem é completamente incapaz de se deslocar, de se proteger contra as intempéries, livrar-se dos predadores e buscar a alimentação necessária. Isto é, depende, para sobreviver, do grupo social primário que é a família, constituída, no mínimo, por seus pais.
Daí para a frente, a cada momento que passa, nossa dependência dos outros seres humanos cresce, em progressão geométrica, num crescente sem fim. Entretanto, os intermináveis apelos externos sobre nós, impedem que prestemos atenção nas nossas mais simples atitudes do quotidiano. Para uma simplória ilustração, vamos imaginar o que acontece com o ato mecânico de riscarmos um fósforo para acender o fogão.
Aquele pequeno palito de fósforos que encontramos à nossa disposição e para o qual não damos a mínima importância, a não ser na hora que dele precisamos, não apareceu ali, por acaso, como num toque de mágica na “lâmpada de Aladim”. Pelo contrário, para que isso acontecesse, foi necessário que alguém tivesse uma fazenda onde outras pessoas estivessem trabalhando com tratores, insumos agrícolas, ferramentas, etc, para plantar as mudas que após algum tempo, se transformariam em árvores. Todos esses insumos e máquinas, têm por trás de si um sem fim de pessoas que desenvolveram toda a sorte de trabalhos para que estivessem, naquele momento, naquela fazenda, cooperando no plantio das sementes que vieram de outra procedência e foram colhidas, tratadas, selecionadas e embaladas por novas cadeias de indivíduos dos quais não nos damos conta.
Ainda pensando no fazendeiro, o dinheiro que foi aplicado nos procedimentos para o plantio foi resultado de um empréstimo no banco, onde vários servidores trabalharam para que a quantia estivesse disponível a tempo e a hora para a aplicação no momento certo. Além disso, não podemos nos esquecer de que esse dinheiro, emprestado pelo banco, foi o resultado dos depósitos de milhares de pessoas anônimas que, inconscientemente estavam concorrendo para o resultado final do trabalho.
As plantas necessitavam de adubos, defensivos, irrigação, capina e outros cuidados envolvendo técnicas e conhecimento de agricultura, adquiridos em longos estudos, para o que outros especialistas tiveram que dar sua parcela de participação.
Depois, veio o corte das árvores, o seu preparo para o encaminhamento à industria e o transporte que foi feito em caminhões cujas fábricas envolvem outras cadeias de relações trabalhistas, difíceis de enumerar, pois envolvem desde trabalhadores em siderurgia, passando pelos polímeros, vulcanização, estamparia, tecidos, equipamentos eletro-eletrônicos até aos projetistas, administradores, economistas, etc... etc...
Para que os caminhões pudessem conduzir os troncos, utilizaram as estradas que envolveram várias categorias de servidores públicos; técnicos em engenharia de solo e de pavimentação, trabalhos cartográficos, levantamentos hidrográficos, aerofotogramétricos e de agrimensura, além das tarefas dos operadores de máquinas, fornecedores de cascalho, brita e asfalto.
Na indústria, novas cadeias de pessoas exercendo centenas de funções, voltam a contribuir para que aqueles troncos gigantescos se transformem em diminutos palitos que ainda terão que ser tratados para, finalmente, poderem receber em uma das suas extremidades, o banho de fósforo cuja fórmula e produção resultaram do trabalho em laboratório, com tecnologia, equipamentos e conhecimento aplicado de Física e Química, necessários a torná-los refratários à umidade, ficando sempre prontos para o uso.
Ainda na fábrica de palitos, outras pessoas cuidaram de confeccionar as delicadas caixinhas, com as suas respectivas estampas, cuja impressão e colagem também mereceram o esforço de operários desconhecidos. Depois de prontas, as caixinhas são armazenadas no estoque onde há funcionários treinados para a guarda e expedição dos fardos, no momento adequado.
Finalmente, um comerciante investiu parte do seu dinheiro para adquirir um lote de caixas que, novamente, usando todos aqueles recursos que já vimos para o transporte, finalmente colocou em exposição, no seu estabelecimento, aquela caixinha de fósforos que você comprou e que, agora, está em suas mãos, acendendo o fósforo que vai produzir o fogo para o cozimento do seu almoço.
Mas, a cadeia não terminou, pois não haveria necessidade do palito de fósforo, se não houvesse o fogão, o gás, o alimento, a água na torneira, as panelas, os temperos, a cozinha, a casa, a roupa que você usa, os sapatos, o pente, os talheres, o seu emprego e até mesmo, o dinheiro que você usou para comprá-los.
Se somos tão dependentes daqueles que desconhecemos, muito mais dependentes somos daqueles que vivem ao nosso lado. Basta só um pouquinho da nossa atenção. Vocês não acham?
Pensem nisso, meus amigos!
Se puderem, pensem nisso!