Assistindo a um documentário sobre Gay Talese, chega a surpreender o compromisso de jornalistas de outras terras com a credibilidade do próprio nome. Às vésperas do lançamento, Talese foi ao ponto de desautorizar um dos livros que escreveu por descobrir inconsistências no trabalho. Não foi o primeiro filme ou documentário sobre jornalistas relevantes em que o fator credibilidade protagoniza a história, ameaçando reputações de profissionais com sólida carreira no jornalismo.
 
Se trouxermos o mesmo contexto para o Brasil, vira piada. Por aqui, é visível que a imprensa alcançou um grau de autodestruição quase irrecuperável se o modelo existente não for abolido. A informação no Brasil está a uma distância descomunal de ser um bem público, é um patrimônio privado e hereditário. Mesmo a imprensa alternativa, que tenta tornar visível o lado escuro da Lua, se compromete com valores políticos na intenção nobre, mas não justificável, de equilibrar a balança partidária. Jornalistas, à direita e à esquerda, igualam-se nos erros pela fúria panfletária ou por interesses corporativos.
 
No Brasil, um país com 12 milhões de analfabetos (segundo índice do IBGE), com educação deficitária, a grande imprensa exerce uma função didática, mas continua se prestando à doutrinação política para viabilizar ideias antipopulares, favorecer à improdutividade do mercado financeiro e combater propostas socialistas que promovam a diminuição das desigualdades. Após a consolidação das Redes Sociais, agravou-se a guerra pela posse da narrativa. O resultado é a desqualificação dos grandes jornais, das próprias Redes Sociais e até dos cidadãos que manifestam a individualidade do pensamento, sendo constantemente taxados como a voz dos imbecis. Há um ciúme crescente entre os controladores da grande imprensa e os formadores de opinião que transitam com independência após a explosão da Internet. Processos e pedidos de indenizações recheiam a batalha autofágica pela produção da pós-verdade.  
 
Torna-se cada vez mais claro que a intensa radiação dessa impudica manipulação jornalística é uma das principais fontes de desordem social. Há décadas estamos gestando cidadãos ideologicamente confusos. Mentes frágeis sentem uma inevitável atração pelos extremos, extremos de onde, invariavelmente, florescem os fascistas.
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 26/12/2017
Reeditado em 26/12/2017
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