O espírito do Natal

Tradicionalmente nessa época de fim de ano as pessoas estão mais propensas a externar sentimentos que lhes acompanham pela vida afora. Compaixão, perdão, resiliência, carinho, afeto, amor, compreensão, são demonstrações que costumam aflorar com frequência, expondo as variáveis comportamentais do ser humano nas intrínsecas e por vezes conturbadas relações interpessoais. Uma onda de otimismo e de renovação parece emergir repentinamente, influenciando positivamente aqueles que, por algum motivo, se distanciaram dos propósitos previamente determinados. É tempo de reflexão, uma forma efetiva de redirecionar objetivos e metas, sempre buscando o crescimento e o equilíbrio, requisitos indispensáveis para os desafios que se apresentam na vida.

Mas qual o verdadeiro espírito do Natal? Como avaliar as influências do mundo moderno, com seu capitalismo selvagem a impor suas regras na vida do cristão? Por que nossas crianças são educadas a vivenciar essa data mágica, tendo como protagonista maior (salvo raras exceções, infelizmente) uma figura vestindo a indumentária de um esquimó, em pleno verão tropical? Como conviver com as imposições interesseiras de uma mídia comercial excessivamente agressiva, em que vitrines caprichosamente decoradas mostram sem escrúpulos que o único objetivo do Natal é a gastança desenfreada, ignorando completamente as origens dessa festa cristã? De que maneira o nascimento do Menino Jesus e suas consequências influenciam as gerações, cada vez mais voltadas às futilidades descartáveis de toda espécie?

São questionamentos completamente inconclusivos. Em uma análise simplista, poder-se-ia afirmar que efetivamente as pessoas se distanciaram (por motivos distintos) daqueles preceitos basilares que norteiam uma sociedade dita civilizada. Prova disso são as demonstrações inequívocas de desapego às regras de convivência, expressas em atitudes completamente irracionais e motivadas por acontecimentos banais. Os desentendimentos no trânsito, as brigas entre torcedores nos estádios de futebol, as confusões frequentes em aglomerações de pessoas; as injustificadas agressões aos educadores, perpetradas por menores de idade, completamente alheios aos valores morais que, teoricamente, haveriam de ser incutidos desde a mais tenra idade e diversas outras situações em que o bom senso poderia evitar tragédias e dissabores.

O verdadeiro espírito do Natal deveria ser presença constante na vida das pessoas. Para isso, não basta ter paciência, serenidade e respeito. É preciso estar em paz com a consciência e carregar no coração sentimentos nobres, deixando de lado aqueles que não trazem crescimento espiritual. Praticar o bem e ajudar o próximo, sem esperar nada em troca. Confortar os desesperançados, minimizando seus sofrimentos; mostrar com atitudes e palavras que, enquanto relegados a meros passageiros dessa transitória viagem chamada existência, estamos todos, impreterivelmente, submissos aos desatinos da condição humana. É viver o presente com alegria, agradecendo a Deus pela dádiva da vida, concedida gratuitamente a cada ser humano, sem distinção de gênero, etnia ou convicção religiosa. É seguir o caminho da honestidade, da humildade, da verdade e da razão. Sentimentos que acompanharam aquele que nasceu na manjedoura e foi crucificado entre dois malfeitores. Que esse Natal seja um novo recomeço. Feliz Natal!