Tudo ou quase tudo já se falou e escreveu sobre Machado de Assis, ainda assim continua a impressionar a obra monumental que ele construiu em vida. Poesias, romances, crônicas, contos, críticas, ensaios, traduções, correspondências. É quase inacreditável testemunhar alguém, nas condições de Machado, ter produzido tanto e com qualidade. A impressão que se tem é que o afamado bruxo não fazia nada além de escrever, mas não foi assim. Para aumentar o nosso espanto, sabemos que ele foi um autodidata bem-sucedido, que aprendeu muito da arte a que se dedicou frequentando bibliotecas e fazendo anotações sobre o que lia. Muito mais do que um gênio, Machado foi uma espécie de super-homem. Beira a imagem de um ideal inatingível.
Talvez, o que o torne humano ou mais sobre-humano é o conhecimento que temos de sua gagueira, da epilepsia, da origem pobre que o impediu de acessar os recursos da educação formal. Olhando para a obra e para a biografia de Machado de Assis, a genialidade assemelha-se à obsessão. Locais como o Real Gabinete Português de Leitura foram incubadores que fertilizaram a mente do escritor. Autor do século 19, mulato, passando seu maior período sob a monarquia de Dom Pedro II, escrevendo para uma sociedade escravocrata, sem Word, máquina de datilografia ou liquid paper. Conseguiu entrar para o serviço público e conquistar cargos relevantes. Nascido na ralé, alcançou e misturou-se ao círculo fechado das elites da época.
Permitam-me dizer, me perdoando pela ousadia, Machado é o mesmo tipo de milagre brasileiro que gerou o Lula, guardada as devidas proporções. A diferença é que Machado foi aceito e abraçado como bibelô intelectual pela cadeia hereditária da nobreza do país, ele representa a meritocracia da exceção, que por desconstruir a classe dominante do seu tempo de forma sutil e refinadíssima, não fez com que ela se sentisse afrontada por sua presença. Há quase nenhum poder de mobilização política na escrita, desde que não consideremos o Manifesto Comunista. Lula, como outro autodidata de sucesso, personagem destacado na ditadura e da república atual, foi operário, nunca um intelectual, também galgou os degraus, também representa a meritocracia da exceção, também alcançou o andar das oligarquias contemporâneas, mas nunca foi aceito por elas. Lula tem uma obra vastíssima na política e, ao contrário de Machado, transformou a realidade em que vivemos muito além da ficção. Gênio como Machado, mas rotulado como maldito, afrontou as elites por democratizar o mérito.
Machado não foi um entusiasta da conspiração militar que proclamou a República, sabia que os verdadeiros maestros eram latifundiários de São Paulo, Minas Gerais e comerciantes abastados do Rio de Janeiro. Debochou, quando da mudança do regime, em livros como Esaú e Jacó. Por coincidência, hoje temos um derivado da mesma nata paulista mofada, que patrocinou a troca de um governo eleito por um sistema autoritário e supostamente provisório que age contra o povo, não mais por ele, tudo na intenção de restaurar o status quo que havia sido abalado por 3 períodos de governos populares.
Há quem irá se arrepiar de repulsa por minha comparação. No entanto, é de uma beleza exótica compreender que os dois maiores nomes do Brasil, conhecidos pelo mundo afora, tenham em comum a origem humilde, a determinação obsessiva, a genialidade de compreender e interpretar de forma única o seu meio e terem atravessado conturbações históricas opressivas. Machado, por sua produção, um operário da palavra, que no seu ponto mais alto como artista iluminou o nosso obscurantismo social. Lula, o torneiro mecânico que quis dar forma a uma nova sociedade, moldá-la igualitária, humana, capaz de produzir muitos como Machado de Assis, não mais pela exceção, e sim pela inclusão do acesso justo ao conhecimento, à educação formal, à renda mínima que favorecesse à dignidade. Luiz Inácio vê em Machado de Assis um semelhante e é certo que Lula inspiraria Machado, quem sabe até o redimisse de sua desconfiança pelos republicanos.
Talvez, o que o torne humano ou mais sobre-humano é o conhecimento que temos de sua gagueira, da epilepsia, da origem pobre que o impediu de acessar os recursos da educação formal. Olhando para a obra e para a biografia de Machado de Assis, a genialidade assemelha-se à obsessão. Locais como o Real Gabinete Português de Leitura foram incubadores que fertilizaram a mente do escritor. Autor do século 19, mulato, passando seu maior período sob a monarquia de Dom Pedro II, escrevendo para uma sociedade escravocrata, sem Word, máquina de datilografia ou liquid paper. Conseguiu entrar para o serviço público e conquistar cargos relevantes. Nascido na ralé, alcançou e misturou-se ao círculo fechado das elites da época.
Permitam-me dizer, me perdoando pela ousadia, Machado é o mesmo tipo de milagre brasileiro que gerou o Lula, guardada as devidas proporções. A diferença é que Machado foi aceito e abraçado como bibelô intelectual pela cadeia hereditária da nobreza do país, ele representa a meritocracia da exceção, que por desconstruir a classe dominante do seu tempo de forma sutil e refinadíssima, não fez com que ela se sentisse afrontada por sua presença. Há quase nenhum poder de mobilização política na escrita, desde que não consideremos o Manifesto Comunista. Lula, como outro autodidata de sucesso, personagem destacado na ditadura e da república atual, foi operário, nunca um intelectual, também galgou os degraus, também representa a meritocracia da exceção, também alcançou o andar das oligarquias contemporâneas, mas nunca foi aceito por elas. Lula tem uma obra vastíssima na política e, ao contrário de Machado, transformou a realidade em que vivemos muito além da ficção. Gênio como Machado, mas rotulado como maldito, afrontou as elites por democratizar o mérito.
Machado não foi um entusiasta da conspiração militar que proclamou a República, sabia que os verdadeiros maestros eram latifundiários de São Paulo, Minas Gerais e comerciantes abastados do Rio de Janeiro. Debochou, quando da mudança do regime, em livros como Esaú e Jacó. Por coincidência, hoje temos um derivado da mesma nata paulista mofada, que patrocinou a troca de um governo eleito por um sistema autoritário e supostamente provisório que age contra o povo, não mais por ele, tudo na intenção de restaurar o status quo que havia sido abalado por 3 períodos de governos populares.
Há quem irá se arrepiar de repulsa por minha comparação. No entanto, é de uma beleza exótica compreender que os dois maiores nomes do Brasil, conhecidos pelo mundo afora, tenham em comum a origem humilde, a determinação obsessiva, a genialidade de compreender e interpretar de forma única o seu meio e terem atravessado conturbações históricas opressivas. Machado, por sua produção, um operário da palavra, que no seu ponto mais alto como artista iluminou o nosso obscurantismo social. Lula, o torneiro mecânico que quis dar forma a uma nova sociedade, moldá-la igualitária, humana, capaz de produzir muitos como Machado de Assis, não mais pela exceção, e sim pela inclusão do acesso justo ao conhecimento, à educação formal, à renda mínima que favorecesse à dignidade. Luiz Inácio vê em Machado de Assis um semelhante e é certo que Lula inspiraria Machado, quem sabe até o redimisse de sua desconfiança pelos republicanos.