Um colega diagnosticou como confusa a interpretação um pouco mais ampla que fiz de um artigo da jornalista Miriam Leitão publicado no último dia 10 de dezembro no jornal O Globo. Intitulado “A firmeza da esperança”, o artigo da colunista engrossou as vozes solidárias à reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ao mesmo tempo teceu uma crítica à truculência desvairada da Polícia Federal. A interpretação de texto em si já é uma ciência subjetiva e abrangente, que por muitas vezes nos remete a testemunhos empíricos e à solidez de valores éticos.
Em certo trecho, Miriam sentencia de forma categórica: “Todos são iguais perante a lei, mas um Geddel é diferente de um Cancellier. É preciso entender isso.”
A declaração da Miriam Leitão é absolutamente desconexa. Se todos são iguais perante a lei, por que deveria existir um tratamento diferenciado? Que seja o cidadão um político cínico e o outro um nobre reitor de universidade pública, qual lei diz que os pesos devem ser diferentes? Aviltar a dignidade de um ou de outro é um excesso, justificar a truculência policial para um e criticar para outro é também uma distorção amoral. Mesmo que Geddel seja o que sabemos que é, nossa tolerância com os abusos contra suspeitos de corrupção em evidência é a semente que permite os abusos que mataram Cancellier e que resultaram nas cenas intoleráveis da UFMG.
Miriam nos pede para entender a diferença entre Geddel e Cancellier. Sim, nós entendemos. Porém, também compreendemos que nosso julgamento passional não pode contaminar a isonomia dos direitos individuais. Não me recordo de ter lido Miriam Leitão se manifestar quando houve um cerco a casa de um ex-presidente e sua descabida condução coercitiva ou quando um juiz de primeira instância expôs diálogos da esposa do ex-presidente com um de seus filhos. A Miriam é quem precisa entender que o Direito e as leis não podem ser manifestações seletivas nem a dignidade pode ser preservada dependendo da ocasião e do suspeito. As palavras da Miriam Leitão seguem a mesma filosofia do desembargador que declarou que na Lava-Jato se justificam medidas excepcionais.
Mas o que isso tem a ver com o artigo de O Globo? - alguém poderia perguntar. Tem tudo a ver. Reflitam.
Os reitores precisam ser defendidos por todos que não abrem mão do Estado democrático de direito, mas não se pode justificar uma exceção à regra. Nós todos, os reitores e os comuns mortais, não podemos ter nossa dignidade aviltada, seja qual for a suspeita. Dizer que há casos e casos no Direito é cultivar o Estado policial. De repente, estou politicamente correto demais, mas prefiro me manter assim diante da realidade distópica que estamos vivendo.
* Para consultar o referido artigo da jornalista Miriam Leitão, acesse o link a seguir: http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/firmeza-da-esperanca.html
Em certo trecho, Miriam sentencia de forma categórica: “Todos são iguais perante a lei, mas um Geddel é diferente de um Cancellier. É preciso entender isso.”
A declaração da Miriam Leitão é absolutamente desconexa. Se todos são iguais perante a lei, por que deveria existir um tratamento diferenciado? Que seja o cidadão um político cínico e o outro um nobre reitor de universidade pública, qual lei diz que os pesos devem ser diferentes? Aviltar a dignidade de um ou de outro é um excesso, justificar a truculência policial para um e criticar para outro é também uma distorção amoral. Mesmo que Geddel seja o que sabemos que é, nossa tolerância com os abusos contra suspeitos de corrupção em evidência é a semente que permite os abusos que mataram Cancellier e que resultaram nas cenas intoleráveis da UFMG.
Miriam nos pede para entender a diferença entre Geddel e Cancellier. Sim, nós entendemos. Porém, também compreendemos que nosso julgamento passional não pode contaminar a isonomia dos direitos individuais. Não me recordo de ter lido Miriam Leitão se manifestar quando houve um cerco a casa de um ex-presidente e sua descabida condução coercitiva ou quando um juiz de primeira instância expôs diálogos da esposa do ex-presidente com um de seus filhos. A Miriam é quem precisa entender que o Direito e as leis não podem ser manifestações seletivas nem a dignidade pode ser preservada dependendo da ocasião e do suspeito. As palavras da Miriam Leitão seguem a mesma filosofia do desembargador que declarou que na Lava-Jato se justificam medidas excepcionais.
Mas o que isso tem a ver com o artigo de O Globo? - alguém poderia perguntar. Tem tudo a ver. Reflitam.
Os reitores precisam ser defendidos por todos que não abrem mão do Estado democrático de direito, mas não se pode justificar uma exceção à regra. Nós todos, os reitores e os comuns mortais, não podemos ter nossa dignidade aviltada, seja qual for a suspeita. Dizer que há casos e casos no Direito é cultivar o Estado policial. De repente, estou politicamente correto demais, mas prefiro me manter assim diante da realidade distópica que estamos vivendo.
* Para consultar o referido artigo da jornalista Miriam Leitão, acesse o link a seguir: http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/firmeza-da-esperanca.html