Aprendendo com a socialite
Poucos dias após o Brasil ter se mobilizado em eventos relacionados ao dia da consciência negra, uma pessoa aparentemente alheia à luta e a todos aqueles esforços, se manifestou na rede de uma maneira chocante.
Sabemos que já faz algum tempo desde o ocorrido com a filha do Bruno e da Giovanna. Quem dera este texto, por tratar de um caso de umas semanas antes, soasse datado e o assunto velho. Quem dera! Infelizmente, amigos, infelizmente, casos assim acontecem às dezenas já há bastante tempo e, lamento minha opinião pessimista, vão continuar por muito tempo ainda. Enquanto ainda falo deste, com uma ligeira impressão de atraso, outros casos semelhantes e tão tristes quanto poderão também já ter acontecido.
É importante conversarmos continuamente sobre este assunto ingrato. E vou usar um exemplo, o mais simples que me vem à cabeça para tratar esta questão: imaginem que eu esteja andando pelas ruas, gozando plenamente de meus direitos, inclusive o de ir e vir e encontro, casualmente, um porrete ou um tijolo na calçada. Eu apanho o objeto e, muito confiante e com muita certeza, ataco alguém. A quem intervir, pacificamente ou tão violentamente quanto, alego, revidando, talvez, que a rua é pública, o objeto usado na agressão estava no chão, ao relento, não tinha dono e a pessoa que eu agredia merecia o castigo.
Absurdo, não? Óbvio, todos sabem que ninguém pode fazer isso e que eu estaria confundindo seriamente as coisas. Por mais que o agressor - eu, neste exemplo - acreditasse ter uma boa justificativa, estaria agindo contra a lei. Bom... daí ser julgado e punido de forma justa, aí amigos - com todos os episódios que conhecemos da justiça e da injustiça brasileira - é outra história.
Quando alguém acessa a internet e registra ataques, como no caso da socialite, está, acredito, recolhendo um porrete na rua e partindo pra cima de alguém que sequer sabe por que está sendo atacado. E o agressor assim age muito certo de que pode fazer isso devido à garantia de liberdade de expressão. Day, a responsável pelos insultos à criança, poderia ter levantado uma questão que iria levar a discussões certamente acaloradas e, quem sabe, relevantes, a respeito da hipocrisia: alguém que num dado momento faz uma crítica e em outro, idêntico, por puro interesse, faz um elogio. Mas a escolha infeliz, aliás, mais que infeliz, perversa, das palavras a fez caminhar rumo ao abismo para onde vão aqueles que revelam comportamento racista.
Aliás, vocês já leram as informações sobre ela levantadas pelos jornais? Já souberam da vidinha medíocre que ela leva, das fotos que registram festinhas, selfies com supostos famosos, entre outros momentos sem importância alguma? Já lamentaram, assim como eu, a muita palavra e pouca contribuição, o muito barulho e pouco serviço? O muito "eu sou fulana", o muito “eu sou amiga de sicrano” e o nenhum "eu fiz coisas importantes na vida"?
Apesar de toda futilidade associada àquela pessoa e seus atos mais recentes (vocês devem se lembrar que não foi a primeira vez que ela xingou alguém na web), acho que esta "muita palavra" e "pouco serviço", por mais lamentável que seja, ainda nos serve de alguma coisa. Serve para refletir (quase nunca menciono este verbo em meus textos, não é mesmo?): quantos de nós estamos também cheios de palavras e deficientes de ações? Despejando quilômetros de posts e fotos nas redes sociais e dedicando tão pouco tempo a ações relevantes de verdade para melhorar nosso meio e a vida de outras pessoas? Imagine se ao invés de ficar descendo a lenha em família alheia, nossa querida Day se empenhasse em fazer uns bolos para uma vizinha ou para uma amiga, para a família, alegrar o dia de alguém? Apanhar um violão e ir até uma entidade, voluntariar proporcionando um momento especial a diversas pessoas? Ao invés de ficar no “disse-que-disse”, às vezes muito perigoso da web, cultivar um jardim? Eu daria estes conselhos a ela. E aos leitores também.
A propósito, leitores, vocês passam os dias levando vida parecida à da socialite? Não? Dedicam-se a realizar boas? Ótimo! Alimenta o coração e não haverá chance, nem tempo, nem vontade para ataques sem sentido, ou indiretas, discussões infundadas, nem qualquer outra coisa que não acrescenta nada ao espírito. Ao executar as próximas boas ações anotadas em suas agendas, façam-nas em homenagem a Day McCarthy e seus feitos famosos que nada acrescentam. Mais vida e menos entulho, meus caros.