Sabendo que tenho 2 livros e alguns textos abordando o tema da prostituição, um companheiro taxista me enviou mensagem há alguns dias para me dizer que a Vila Mimosa (que serve de mote para um dos meus trabalhos) estava definhando. Cético diante da informação, decidi conferir pessoalmente e o que vi me chocou, ao mesmo tempo que confundiu.

Por anos, a Vila Mimosa, conhecida zona meretrício carioca, foi um dos territórios mais agitados e lucrativos da cidade. Algumas pesquisas indicavam que o comércio local movimentava milhões de reais por mês. Estive lá numa sexta-feira recente e o que encontrei foi um cenário de fim de festa, casas fechadas, rua vazia e esparsos frequentadores. Confirmei o que o taxista narrou. Percebi que muitas mulheres migraram para uma avenida paralela à Vila, criando um ponto de atendimento ao longo da calçada em frente ao Batalhão da Polícia Militar de São Cristóvão. Abandonaram a segurança da zona pelo desespero de conseguirem programas. Dentro da Vila, um encontro sexual de meia hora vale, em média, 70 reais. Nos anos do seu apogeu, a Mimosa foi uma das regiões mais democráticas do Rio, frequentada por trabalhadores de baixa renda, homens de classe média e estrangeiros em visita ao Brasil. Os paralelepípedos da Rua Sotero Reis fervilhavam pela luxúria e pelo lucro através do sexo. Pelo que testemunhei, o tempo de fartura terminou.

Provavelmente, a derrocada da prostituição fluminense tem relação direta com a crise econômica do Estado, com o desemprego e, em menor parte, com o momento de opressão religiosa que vivemos. Com certeza, o fator principal que está drenando a zona é a penúria do Rio de Janeiro. Ampliando a pesquisa, visitei bordéis no Centro da Cidade, encontrei a maioria deles às moscas. As grandes Termas (como são chamadas as maiores boates liberais do Rio) entraram em franca decadência. É certo que as casas de maior porte formam uma espécie de cartel da prostituição na cidade, sendo que um único cidadão é dono de pelo menos 4 estabelecimentos do gênero no circuito libertino que engloba o Centro e a Barra da Tijuca. É inevitável constatar a ganância estúpida dos cafetões, cultivam a lógica dos suicidas, preferem afundar a se adaptarem às circunstâncias.

Sendo o sexo uma necessidade universal, é ele que denuncia, na prática, o tamanho do nosso buraco social. Índices do IBGE não seriam tão precisos. Prostíbulos vazios, de homens e mulheres, demonstram como a falência é imoral.


 
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 24/11/2017
Reeditado em 17/01/2018
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