Aprender pela Experiência

Sou um tipo de pessoa que gosta de aprender observando o comportamento alheio. Nos últimos anos, tenho percebido cada vez mais que muitas pessoas optam por permanecer em suas zonas de conforto. Justamente por ser mais viável, é óbvio que estar em uma zona de conforto normalmente é mais fácil e agradável. Entretanto, nem sempre essa é a melhor escolha.

Tudo na vida possui prós e contras. Logo, as nossas escolhas não são diferentes. Partindo dessa premissa, torna-se possível iniciar uma reflexão. Por um lado, a zona de conforto proporciona um bem estar que, algumas vezes, associa-se à paz de espírito. Se sentindo confortável, o seu corpo e a sua mente tendem a produzir uma harmonia parcimoniosa. Com isso, além de se sentir bem, isso poderá te levar a um ócio criativo e te permitir desenvolver coisas inovadoras.

Por outro lado, a permanência na zona de conforto poderá te afastar dos desafios naturais do cotidiano. Uma vez afastado(a), você acaba perdendo o centro de referência. Sem uma bússola, ou seja, sem uma referência para te apontar o caminho para o norte, você fica impossibilitado(a) de se orientar e se localizar adequadamente. Considerando que estamos em pleno século XXI, onde a era da globalização e da informação é cada vez maior, isso significa que uma pessoa desorientada ou que prefere ficar na zona de conforto não consegue, apropriadamente, acompanhar a evolução do mundo.

Partindo para um reflexão um pouco mais específica, também tenho percebido uma forte seletividade por parte da maioria das pessoas. É óbvio que, com tantas opções que esse mundo moderno nos oferece, temos que ser seletivos e saber filtrar nossas opções. Porém, justamente pelo excesso de opções, muitas vezes acabamos ignorando detalhes que não deveriam ser ignorados. Por exemplo, tem sido bastante comum pessoas optarem por dar preferência a uma conversa virtual em detrimento de um contato pessoal. Outra coisa que incomoda muito é ser ignorado(a). Ninguém gosta de ser ignorado(a), mas muitos ignoram e não percebem. Às vezes, um simples "ok" ou um "eu te entendo" pode fazer toda a diferença no momento atual que a pessoa que está falando com você está passando. Isso implica em ter empatia. Empatia é o ato de se colocar no lugar das pessoas, e isso é fundamental para manter o bom senso e engrandecer a alma.

Feito essa reflexão, fica fácil perceber que muitas coisas passam despercebidas devido à falta de atenção. Quanto mais o tempo passa, mais tendemos a acumular "poeiras" em nossos sentidos. Assim como precisamos tomar banho constantemente para eliminar as sujeiras acumuladas em nosso corpo, também precisamos eliminar essas "poeiras" que se acumulam e geralmente são imperceptíveis. Um bom exercício para isso é a mistura entre leitura e reflexão. Existem pessoas que gostam de praticar a meditação, o que também é uma boa prática. Somente por meio da leitura, reflexão e/ou meditação, desenvolve-se a capacidade de ter discernimento. De acordo com o dicionário, discernimento significa a "capacidade de compreender situações e de separar o certo do errado". Sem discernimento, você nem sempre será capaz de fazer as melhores escolhas e tomar decisões corretamente.

Considero que a melhor alternativa para tudo isso é aprender com a própria experiência. Em outras palavras, se você continuar agindo e lidando com as situações da vida como se fosse a primeira vez que estivesse acontecendo, você jamais irá aprender. Um exemplo disso é o comportamento de uma criança ao se deparar com um objeto novo. Uma das suas primeiras atitudes é levar tal objeto até a boca. Logo após perceber que não é comestível, a criança afastará da boca e dificilmente repetirá essa atitude. Por outro lado, se você tem a consciência de que a maioria dos seus problemas não são inéditos, isso poderá lhe ajudar a ter as melhores atitudes e, consequentemente, tomar as melhores decisões.

Por fim, também considero que uma vida cheia de virtudes é superior a uma vida cheia de supérfluos no sentido de percepção da grandeza do universo. Há vários exemplos de virtudes, mas algumas das mais importantes se resumem em quatro: sabedoria, justiça, resistência e temperança. Essas são as quatro virtudes cardeais.

Sabedoria significa ter bom senso e equilíbrio emocional. É cuidar do lado prático da vida, da ação correta e buscar os meios para agir bem. É o mesmo que prudência, previdência e precaução. O prudente é previdente e providente. É a pessoa que abandona as preocupações e abraça as soluções. Deixa as ilusões e opta pelas decisões. Rejeita as omissões e se empenha nas ocupações. A prudência coloca sua atenção na preparação dos fatos e eventos, mas nunca na precipitação.

Justiça significa regular nossa convivência, possibilitar o bem comum, defender a dignidade humana, respeitar os direitos humanos. A paz nasce da justiça. Sem a justiça, nem mesmo o amor é possível. É a virtude da vida comunitária e social que se rege pelo respeito à igualdade da dignidade das pessoas. Da justiça, vem a gratidão e a veracidade. Não se pode construir o castelo da caridade sobre as ruínas da justiça. Pelo contrário, o primeiro passo do amor é a justiça, porque amar é querer o bem do outro. A justiça é imortal. Esta virtude trata de nossos direitos e nossos deveres e diz respeito ao outro, à comunidade e à sociedade.

Resistência significa fazer-nos fortes no bem, na fé, no amor, a nos perseverar nas coisas difíceis e árduas, a resistir à mediocridade, a evitar rotina e omissões. Pela resistência, vencemos a apatia, a acomodação e abraçamos os desafios.

Temperança, não menos importante, significa ter o auto-controle, o auto-domínio, a renúncia e moderação. A temperança ordena afetos, domestica os instintos, sublima as paixões e modera os impulsos. Ela abre o caminho para a continência, a sobriedade e o desapego aos bens. É próprio da temperança o cuidado conosco mesmo, com os outros e com a natureza. A temperança não permite que sejamos escravos, mas livres e libertadores. Ela nos encaminha para o cumprimento dos deveres e para a maturidade humana. Sem renúncia, não há maturidade.

Apesar dessas tão importantes virtudes cardeais, eu aprendi recentemente que a maior de todas as virtudes é a bondade. De acordo com um autor budista, uma das melhores maneiras de aumentar a nossa felicidade é ser generoso(a) com as pessoas. Portanto, aprender com a própria experiência pode ser a melhor escolha para atingir tais virtudes. Imagine uma vida equilibrada pelas quatro virtudes cardeais e abraçada pela bondade, a maior de todas elas! Será que vale a pena? Eu diria que sim.